martes, 20 de noviembre de 2018

COM POPULAÇÃO MAIS ALTA E PESADA, FALTA DE COMIDA SERÁ UM PROBLEMA ATÉ 2048


 Com população mais alta e pesada, falta de comida será um problema até 2048
Baseados em dados demográficos de 186 países, cientistas noruegueses estimam que viveremos uma crise alimentícia até 2048. A população mundial aumentará em peso, altura e quantidade, mas não haverá comida suficiente para mantê-la
VS Vilhena Soares
(foto: Valdo Virgo/CB/D.A Press)
Em cerca de 30 anos, a população mundial ganhará novos contornos. Serão cerca de 9 bilhões de pessoas (somos 7,6 bilhões hoje), mais altas e mais gordas que a média atual, segundo projeções feitas por cientistas noruegueses. Ao trabalhar sobre dados demográficos de 186 países, a equipe também detectou que a oferta de alimentos pode não conseguir acompanhar esse novo perfil de habitantes. Eles estimam que, somando os dois fenômenos com a destruição em curso do meio ambiente, poderemos enfrentar uma grave crise na produção alimentícia, fazendo com que a fome se torne um problema de proporções ainda maiores.
Segundo o estudo, publicado na revista especializada Sustainability, em um futuro próximo, as pessoas comuns precisarão de mais comida do que hoje. Mudanças nos hábitos alimentares, desperdício de alimentos, aumento da altura e da massa corporal e as transições demográficas são algumas das razões envolvidas. “Será mais difícil alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050 do que seria hoje”, explica ao Correio Gibran Vita, doutorando do Programa de Ecologia Industrial da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e um dos autores do estudo.
Gibran Vita e seus colegas detectaram que, em 2014,  um adulto médio era 14% mais pesado, 6,2% mais velho, cerca de 1,3% mais alto e precisava de 6,1% mais energia do que uma pessoa com perfil semelhante em 1975. “Um adulto global médio consumia 2.465 quilocalorias por dia em 1975. Em 2014, 2.615 quilocalorias”, explica.
Globalmente, o consumo humano cresceu 129% no mesmo período, sendo que o aumento da população responde por 116% desse valor e o do peso e da altura das pessoas, por 15%. Em contraponto, o envelhecimento reduziu as necessidades energéticas em 2%. Segundo Felipe Vásquez, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, considerando o aumento do peso e da altura e a influência do envelhecimento, a demanda de energia corresponde à demanda por alimento de 286 milhões de pessoas. “Isso corresponde aproximadamente às necessidades alimentares da Indonésia e da Escandinávia juntas”, ilustra.
Brasil
Os pesquisadores observaram que há países que sofreram mudanças ainda mais expressivas. Em Santa Lúcia, no Caribe, por exemplo, o peso médio dos adultos subiu de 62kg em 1975 para 82kg 40 anos depois. As maiores alterações foram constadas em países da África; e as menores, nos asiáticos.
No Brasil, as necessidades médias alimentares eram de 2.518 quilocalorias por pessoa por dia em 1975 e subiram para 2.729 quilocalorias em 2014. “O peso de um brasileiro médio foi de 58kg para 70kg. Um aumento considerável”, ressalta Gibran Vita. A altura do brasileiro mudou de 1,61m para 1,64m, e a idade média dos adultos de 37 anos para 42 anos.
Os investigadores ressaltam que a pesquisa se diferencia de outras análises pelos métodos utilizados. “Estudos anteriores não levaram em conta as crescentes demandas de indivíduos com excesso de peso e sociedades idosas ao calcular as futuras necessidades alimentares de uma população em crescimento”, explica Felipe Vásquez Vásquez.
Segundo o cientista, a maioria dos estudos estima que as necessidades alimentares de um adulto médio permanecem constantes ao longo do tempo e que são bastantes semelhantes entre as nações. Para eles, o cenário não é bem assim. “Essas suposições podem levar a erros na avaliação de quanto alimento realmente precisamos para atender à demanda futura”, frisa.
Biodemografia
Os autores do estudo reforçam que é necessário olhar mais do que apenas o número de habitantes de um local para entender os mecanismos por trás do consumo de alimentos. “Precisamos considerar a população além de meros números. Estamos mudando rapidamente, e os hábitos de uma geração afetam os corpos das próximas”, lembra Gibran Vita.
Na tentativa de propor novos olhares, a equipe norueguesa conduziu o trabalho inspirado na biodemografia, um híbrido de biologia e demografia. “Esse estudo surgiu com base na ecologia industrial, que ensina como manter uma perspectiva sistêmica sobre esse tipo de problema. Nós tentamos praticar a ecologia industrial com uma mente mais aberta. Por isso, usamos a teoria do metabolismo demográfico, que analisa os componentes relacionados ao crescimento da sociedade. Isso requer uma abordagem multidisciplinar que considera fatores sociais e fisiológicos”, detalha Gibran Vita. “Como próximo passo, queremos explorar outros aspectos da mudança de corpos humanos, além da busca por alimentos.”
 Novos hábitos podem ajudar
 A mudança de comportamento alimentar é uma das medidas propostas pelos cientistas noruegueses para reduzir os impactos da possível crise na produção alimentícia. “Estamos comendo mais alimentos do que nunca e ficando mais sedentários. Experimente comer menos. Coma apenas o necessário. Esteja atento ao próprio corpo”, sugere Gibran Vita, doutorando do Programa de Ecologia Industrial da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e um dos autores do estudo.
Maria Edna de Melo, endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), também acredita que o excesso de peso, já preocupante no cenário atual, poderá ser agravado. Como forma de enfrentar agora o problema, a especialista lista quatro pontos básicos: “A mudança da alimentação escolar, a taxação extra em bebidas açucaradas e alimentos gordurosos, a regulamentação da publicidade infantil e a rotulagem frontal, que identifique alimentos com excesso de gordura e sal”.
A médica ressalta que políticas voltadas para esses pontos, defendidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), começam a ser adotadas no Chile e no México, mas ainda sem a possibilidade de uma análise mais aprofundada. “Ainda não temos como analisar o cenário nesses países porque essa mudança ocorreu recentemente, em 2016”, justifica. “Mas acredito que, em dois anos, teremos resultados reais. Isso seria muito bom para o Brasil, visto que a última pesquisa nacional Vigitel mostra que 54% da população apresenta excesso de peso”, frisa
A médica também destaca que a economia é beneficiada com o combate à obesidade. São reduzidos, por exemplo, gastos relacionados a problemas desencadeados pelo excesso de peso, como diabetes e hipertensão. “Prevenir pode sair muito mais em conta, além dos impactos que isso gera na rotina da pessoa, na qualidade de vida. Temos impactos econômicos e sociais consideráveis.” (VS) // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE

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