Interação entre hormônio e gordura que aquece o corpo é
chave da saciedade
Mecanismo identificado por cientistas alemães poderá ajudar
a combater a obesidade
VS Vilhena Soares
(foto: Valdo
Virgo/CB/D.A Press)
A conexão entre o
estômago e o cérebro é conhecida por especialistas e alvo de investigações
científicas. Um grupo internacional de estudiosos conseguiu desvendar um
mecanismo sobre essa relação que pode ser extremamente útil no combate ao peso.
Em experimento com ratos, os pesquisadores observaram que o hormônio intestinal
secretina — que transmite sinais de saciedade ao cérebro — age em conjunto com
a gordura marrom, que é responsável por aquecer o corpo. As descobertas foram
publicadas na última edição da revista especializada Cell.
Um dos objetivos principais da pesquisa era entender melhor
o papel da gordura marrom no corpo humano. “Além da termogênese induzida pelo
frio, existia a suspeita de que ela contribuía para a alimentação. O mediador
molecular e o significado funcional da gordura marrom associada à refeição
estão em debate há anos”, conta ao Correio Martin Klingenspor, um dos autores
do estudo e pesquisador da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha.
Os cientistas explicam que, durante uma refeição, os sinais
codificados pelos hormônios intestinais chegam ao cérebro por meio do sangue ou
de nervos ativados no intestino delgado. A secretina foi escolhida como alvo da
pesquisa por ser um hormônio intestinal relacionado à saciedade.
Na primeira parte do experimento, ela foi injetada em ratos
famintos com o objetivo de suprimir o apetite dos animais. O objetivo foi
atingido, e a equipe observou que os camundongos também apresentaram aumento de
quantidade de calor produzido pelo tecido adiposo marrom. Já em ratos com o
tecido de gordura marrom inativado, a mesma supressão de apetite não foi
detectada após a injeção da secretina.
Os pesquisadores também monitoraram os níveis de secretina
em 17 voluntários. Nos humanos, o consumo de oxigênio dos tecidos marrons e a
absorção de ácidos graxos foram medidos, por exame de sangue, depois de um
jejum noturno e 30 a 40 minutos após uma refeição. Os pesquisadores descobriram
que níveis mais altos de secretina no sangue dos participantes correspondiam à
maior ativação metabólica da gordura marrom.
Para a equipe, os efeitos detectados nos roedores e nos
humanos são provas da relação entre a secretina e a gordura marrom como
mediadora da saciedade. “Nós demonstramos uma conexão entre o intestino, o
cérebro e o tecido marrom, descobrindo uma faceta desconhecida do complexo
sistema regulador que controla o balanço de energia”, frisa Klingenspor.
Dieta terapêutica
Os cientistas acreditam que as funções da gordura marrom e
da secretina no controle da fome e da saciedade podem torná-las alvo atraente
para novas abordagens no tratamento da obesidade. A equipe defende que futuras
intervenções nutricionais ou farmacológicas contra o excesso de peso e doenças
metabólicas podem ser desenvolvidas com base nas descobertas.
“Estamos planejando nos aprofundar para entender os
mecanismos subjacentes. Com base em nosso trabalho, acreditamos que a visão da
gordura marrom como um mero órgão aquecedor catabólico deve ser revista, e mais
atenção deve ser direcionada para a função desse tecido no controle da fome e
da saciedade”, defende Klingenspor.
O cientista acredita que um dia será possível descobrir como
estimular a secretina por meio de uma dieta.“A estimulação sistêmica dos
receptores de secretina por um agente farmacológico não é uma estratégia de
tratamento viável, uma vez que isso, provavelmente, prejudicaria o pâncreas. No
entanto, direcionar a secreção do hormônio secretina associada à refeição por
intervenções nutricionais pode fornecer novas opções de tratamento para obesidade
ou diabetes. A secreção desse hormônio é sensível aos nutrientes. Por isso,
comer o alimento certo pode ser útil para promover a saciedade e resultar em
redução do tamanho das refeições e da ingestão calórica”, explica.
Como o excesso de peso leva ao diabetes
Cientistas americanos descobriram como a obesidade causa
doenças como a hipertensão e o diabetes. Células imunes residentes no tecido
adiposo, que são consideradas benéficas, tornam-se prejudiciais quando há excesso
de peso, causando inflamações e doenças diversas. As descobertas foram
publicadas na revista Procedências of the National Academy of Sciences (Pnas) e
podem ajudar a combater essas enfermidades crônicas.
“Todas essas doenças têm um denominador comum. Pode ser que
tenhamos identificado o que inicia toda a cascata de inflamações e alterações
metabólicas”, afirma, em comunicado, Vlad Serbulea, um dos autores do estudo e
pesquisador da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos.
Por meio da análise de tecidos de pessoas obesas e
saudáveis, os investigadores observaram que radicais livres produzidos pelo
corpo atacam lipídios que estão dentro do tecido adiposo, levando a
inflamações, uma resposta imunológica natural. Esse processo é chamado de
oxidação lipídica. “Os radicais livres são tão reativos que querem se dedicar a
algo. Os lipídios são uma ótima fonte para esses radicais se combinarem”,
resume Serbulea.
A equipe identificou que há lipídios oxidados que causam
inflamações prejudiciais — reprogramando as células imunológicas para se tornar
hiperativas — ou que ficam no tecido saudável. A quantidade deles em um
indivíduo pode ser um indicador de maior vulnerabilidade a doenças crônicas.
Com essa informação, será possível pensar em abordagens
médicas que reduzam essa fragilidade, como um medicamento que reduza o número
de lipídios oxidados ou um que promova o aumento dos lipídios benéficos. “Algo
que mostramos é que o metabolismo nas células do sistema imunológico é
explorável. Isso já tem sido um alvo em doenças como o câncer. Agora, também
para a obesidade. // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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