Excesso em alguns países e carência em outros favorece o
desenvolvimento de agentes infecciosos resistentes aos medicamentos
Aviso sobre cuidados com as 'superbactérias' em hospital de
Brasília: mundo convive com surtos de tuberculose e outras doenças
bacterianas(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 20/10/10 )
Um relatório divulgado ontem pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) alerta sobre o perigoso aumento do consumo de antibióticos em
alguns países. Associado com o baixo consumo do mesmo tipo de medicamento em
outras regiões do planeta, esse desequilíbrio favorece o desenvolvimento de
“superbactérias” mortais, adverte o estudo.
O informe da OMS toma por base dados recolhidos ao longo de
2015 em 65 países e regiões. Ele mostra uma importante diferença de consumo,
que vai de quatro Doses Diárias Definidas (DDDs) para cada mil habitantes por
dia, no Burundi (África central), até mais de 64 DDS, na Mongólia. “Essas
diferenças indicam que alguns países provavelmente consomem antibióticos
demais, enquanto outros talvez não tenham acesso suficiente a esses
medicamentos”, aponta a agência das Nações Unidas para a saúde global.
Descobertos nos anos 1920, os antibióticos salvaram dezenas
de milhões de vidas. Lutaram de maneira eficaz contra doenças bacteriológicas,
como pneumonia, tuberculose e meningite, responsáveis por milhões de mortes até
então. No entanto, ao longo das décadas, as bactérias se modificaram e passaram
a resistir a esses medicamentos. A OMS detectou repetidas ocasiões de
emergências sanitárias em que o número de antibióticos eficazes diminuiu, no
mundo todo.
No ano passado, a agência da ONU pediu aos governos dos
países-membros e aos grandes grupos farmacêuticos multinacionais que criassem
uma nova geração de medicamentos capazes de lutar contra as “superbactérias”
ultrarresistentes.
“O consumo excessivo de antibióticos, assim como o consumo
insuficiente, são as maiores causas de resistência aos (agentes)
antimicrobianos”, afirmou Suzanne Hill, diretora da OMS para Medicamentos e
Produtos Sanitários Essenciais, em um comunicado. “Sem antibióticos eficazes e
outros antimicrobianos, perderemos nossa capacidade para tratar infecções tão
estendidas como a pneumonia.”
Seleção natural
As bactérias podem se tornar resistentes quando os pacientes
usam antibióticos de que não precisam, ou quando não terminam o tratamento. As
bactérias resistentes ao medicamento sobrevivem e dão origem a linhagens que
não poderão ser combatidas por ele, em caso de futura infecção.
Além de alertar sobre o uso indevido, a OMS também se
preocupa com o escasso consumo de antibióticos. “A resistência pode se
desenvolver quando os doentes não podem pagar um tratamento completo ou só têm
acesso a medicamentos de qualidade inferior ou alterados”, observa o relatório.
Na Europa, o consumo médio de antibióticos é aproximadamente
de 18 DDD por mil habitantes e por dia. A Turquia lidera a lista (38 DDD), com
uma taxa cerca de cinco vezes suerior à registrada no último da classificação,
o Azerbaijão (8 DDD).
A OMS reconhece, contudo, que seu relatório é incompleto,
porque inclui apenas quatro países da África, três do Oriente Médio e seis da
região da Ásia-Pacífico. Os grandes ausentes deste estudo são Estados Unidos,
China e Índia.
Desde 2016, a OMS ajuda 57 países com renda média e baixa a
coletar dados para criar um sistema modelo de acompanhamento do consumo de
antibióticos.
“Sem antibióticos eficazes e outros antimicrobianos,
perderemos nossa capacidade para tratar infecções tão estendidas como a
pneumonia”
Suzanne Hill, diretora da OMS para Medicamentos e Produtos
Sanitários Essenciais // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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