Homem contribuiu para
extinção de grandes herbívoros na África
Extinção de grandes herbívoros na África não se deu em
função da atividade de ancestrais humanos, segundo estudo americano. Mudanças
ambientais e climáticas estão por trás do fenômeno
Os elefantes são uma das cinco espécies que não foram
extintas: ao menos 28 linhagens desapareceram (foto: AFP PHOTO / TONY KARUMBA )
Cangurus gigantes, lêmures do tamanho de gorilas e felídeos
com mais de três metros, entre outros animais de grande porte, poderiam ser
vistos em regiões da América do Norte, da Austrália e da África há 50 mil anos.
As grandes espécies foram dizimadas, e nossos ancestrais hominídios, apontados
como os principais culpados. Um estudo americano divulgado na edição desta
semana da revista Science pode mudar essa história. Segundo pesquisadores das
universidades de Massachusetts e de Utah, a extinção desses animais se deu em
consequência de mudanças climáticas.
“Impactos humanos na biodiversidade da Terra têm sido significativos
e, às vezes, catastróficos. Nesse caso, pelo menos, nossos ancestrais não têm
culpa. Aqui, há uma perda de diversidade de longo prazo, relacionada a eventos
mais amplos no clima e nos ambientes da Terra nos últimos vários milhões de
anos”, afirma John Rowan, pesqisador de Massachusetts e participante do estudo.
Para chegar à conclusão, os pesquisadores avaliaram 100
conjuntos de fósseis da África Oriental das maiores espécies de mamíferos, os
chamados mega-herbívoros, com mais de 900kg. Junto, esse material representa
mais de 7 milhões de anos de história. Na análise, a equipe considerou datas e
eventos importantes da evolução dos hominídeos, como a primeira aparição do
Homo Erectus, espécie conhecida pelo uso de machados de pedra avançados e pelo
grande consumo de carne. O registro é de cerca de 1,9 milhão de anos atrás.
Grandes extermínios de mamíferos, há aproximadamente 3,4 milhões de anos,
também foram levados em conta.
Segundo Tyler Faith, líder do estudo, as análises mostraram
que houve declínio constante e de longo prazo da diversidade de mega-herbívoros
há cerca de 4,6 milhões de anos. “Esse processo de extinção começou há mais de
um milhão de anos antes das primeiras evidências de ancestrais humanos
fabricando ferramentas de caça. Não havia qualquer espécie realisticamente
capaz de caçá-los, como o Homo Erectus”, declara o também professor do Departamento
de Antropologia da Universidade de Utah.
No artigo, os pesquisadores ressaltaram ainda que, nesse
período, o único ancestral humano vivo conhecido era o Ardipithecus, “que não
tinha ferramentas de pedra e, muito provavelmente, caçava presas pequenas, como
os chimpanzés fazem hoje.” De acordo com a pesquisa, cerca de 28 linhagens de
mamíferos foram extintas no espaço de 4 milhões de anos. Hoje, existem cinco espécies: elefante,
girafa, hipopótamos, rinoceronte negro e branco. “Se os hominídios fossem responsáveis
pela extinção, esperaríamos que o declínio acontecesse com marcos
comportamentais ou adaptativos na evolução humana”, ressalta Rowan.
Carbono
Na busca por uma nova explicação para a extinção de
mega-herbívoros, a equipe examinou registros de características climáticas e
ambientais da época, especificamente de presença de gás carbônico atmosférico
global (CO2). Para isso, avaliaram registros estáveis de isótopos de carbono em
estruturas de vegetação milenares e isótopos de carbono estáveis em fósseis de
dentes de herbívoros do leste da África. Com isso, o grupo constatou que o CO2
foi o principal responsável pela morte de inúmeras espécies mamíferas
africanas.
“O fator-chave no declínio dos mega-herbívoros parece ter
sido a expansão das pastagens, o que provavelmente está relacionado a uma queda
global no CO2 atmosférico nos últimos 5 milhões de anos”, explica Rowan.
Segundo o pesquisador, baixos níveis de gás carbônico favorecem mais as
gramíneas tropicais do que as grandes árvores, que demandam mais o composto
químico para sobreviver. Como consequência, as savanas se tornam menos lenhosas
e ganham vegetação mais rasteira. “Sabemos que muitos mega-herbívoros extintos
se alimentavam de vegetação lenhosa, por isso, parecem ter desaparecido junto com
sua fonte de alimento. Neste caso, pelo menos, nossos ancestrais não têm
culpa”, diz Rowan.
Em cadeia
A constatação levou a equipe a elaborar uma explicação
alternativa à versão de que a competição com espécies cada vez mais carnívoras,
incluindo ancestrais humanos, levou à morte de numerosos carnívoros nos últimos
milhões de anos. “Sabemos que também existiram grandes extinções entre os
carnívoros africanos naquele momento e que alguns deles, como os
dentes-de-sabre, podem ter se especializado em presas muito grandes, talvez,
elefantes juvenis. Pode ser que alguns desses carnívoros tenham desaparecido com
suas presas mega-herbívoras.
"Esse processo de extinção começou há mais de um milhão
de anos antes das primeiras evidências de ancestrais humanos fabricando
ferramentas de caça”
Tyler Faith, líder do estudo // TOMADO DE CORREIO
BRAZILIENSE
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