Nota da coordenação do Observatório do Clima sobre a
nomeação no Itamaraty
O embaixador Ernesto Araújo (Foto: Reprodução)
É estarrecedora a escolha do embaixador Ernesto Araújo como
ministro de Relações Exteriores. Sua nomeação contraria uma longa tradição da
política externa brasileira e traz o risco de tornar o Brasil um anão
diplomático e um pária global. O radicalismo ideológico manifesto nos escritos
do futuro ministro cria, ainda, uma ameaça para o planeta, ao negar a mudança
do clima e, presumivelmente, os esforços internacionais para combatê-la.
Araújo tem expressado posições fortes contra a globalização
e contra o multilateralismo. Em nome dessa ideologia, e contrariando as
evidências mais rasteiras, chama em seu blog Metapolítica
17 o combate à mudança climática de perversão da esquerda. Invoca
uma teoria conspiratória segundo a qual existe um projeto “globalista” de
transferir o poder do Ocidente para a China (uma contradição em termos). Parte
desse grande complô seria o “climatismo”, que é como ele chama o esforço
mundial para reduzir emissões de carbono – empreendido por líderes de todas as
faixas do espectro político e com base em décadas de conhecimento científico
acumulado.
Tal pensamento, caso prevaleça sobre o ofício do chanceler,
será prejudicial ao Itamaraty e ao papel do Brasil no mundo. A diplomacia
brasileira tem na defesa do multilateralismo um de seus pilares e, nos últimos
46 anos, vem se valendo do multilateralismo para projetar o Brasil na cena
internacional em um dos poucos espaços nos quais o país é líder nato: a agenda
ambiental.
O Itamaraty foi o primeiro ministério a entender como o
patrimônio natural brasileiro é um dos ativos mais importantes dos tempos
modernos. O Brasil foi protagonista na Conferência de Estocolmo, em 1972; foi
berço das grandes convenções de ambiente e desenvolvimento sustentável da ONU e
da Agenda 21, em 1992; liderou na defesa dos países em desenvolvimento no
Protocolo de Kyoto, em 1997; foi o parteiro dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, em 2012; e negociador fundamental do Acordo de Paris, em 2015. Agora,
está escalado para sediar a próxima conferência do clima, a COP25, em 2019.
Abdicar essa liderança em nome de uma ideologia de tons
paranoicos contrariaria diretamente o interesse nacional, que o presidente
eleito, Jair Bolsonaro, prometeu colocar “acima de tudo” em sua campanha. Sendo
o Brasil o sétimo maior emissor de gases efeito estufa do planeta, também poria
em risco enormes porções da população global – inclusive no Ocidente, como
demonstram os recentes incêndios florestais na Califórnia – num momento em que
a melhor ciência nos diz que temos apenas 12 anos para prevenir os piores
efeitos da crise do clima.
Resta esperar que o cargo e suas responsabilidades tornem o
chanceler Ernesto Araújo muito diferente do blogueiro Ernesto Araújo. Tomado de
obsrvatorio do clima , enviado por rp en red foroba
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