Com métodos de datação modernos, cientistas estabelecem que
denisovanos começaram a ocupar a Sibéria há 200 mil anos. Eles conviveram com
neandertais no local e chegaram a procriar com esse grupo, deixando a marca no
DNA de um fóssil
PO Paloma Oliveto
Tom Higham examina ossos encontrados na caverna: equipe
obteve 50 datações por radiocarbono a partir da investigação dos fragmentos
(foto: Sergey Zelinski, Russian Academy of Sciences/Divulgação)
Tom Higham examina ossos encontrados na caverna: equipe obteve
50 datações por radiocarbono a partir da investigação dos fragmentos
(foto: Sergey Zelinski, Russian Academy of
Sciences/Divulgação)
Há 11 anos, a descoberta de um dente e de um fragmento de
osso na Caverna Denisova, no sul da Sibéria, trouxe à luz um personagem então
desconhecido da história do homem. Ali, viveu, há milhares de anos, uma espécie
humana, batizada de denisovana, que se extinguiu sem que se saiba o motivo.
Agora, pesquisadores europeus, australianos e canadenses relatam um avanço na
compreensão da cronologia desses hominídeos. Usando novas tecnologias de
datação, os cientistas conseguiram estabelecer a época em que eles começaram a
ocupar a gruta e quando exatamente conviveram, no local, com outro grupo humano
extinto, o neandertal.
Os dois estudos, publicados na revista Nature, mostram que a
caverna, aos pés das Montanhas Altai, foram ocupadas pelos denisovanos há pelo
menos 200 mil, com algumas ferramentas líticas nos depósitos arqueológicos mais
profundos, sugerindo que humanos passaram por ali há 300 mil anos. Entre 200
mil e 100 mil anos atrás, os neandertais também se estabeleceram em Denisova e,
conforme demonstrado anteriormente, trocaram material genético com os primos.
No ano passado, foi divulgado que o genoma de uma criança apelidada de Denny,
que viveu há mil séculos na região, carregava o DNA das duas espécies.
As principais evidências da presença dos neandertais na
Caverna Denisova datam do último período interglacial, por volta de 120 mil anos
atrás, quando o clima estava relativamente quente. Enquanto isso, os
denisovanos pareciam aguentar um frio bem mais intenso, antes de desaparecerem,
há 50 mil anos. Embora naquela época os humanos modernos já estivessem
presentes em outras partes do continente asiático, não há, até hoje, provas de
que se encontraram com os homens de Denisova.
(foto: Sergey
Zelinski, Russian Academy of Sciences/Divulgação)
Inovação
Resultado de cinco anos de pesquisa, os novos estudos são
parte do projeto PaleoCron ERC, financiado pela Universidade de Oxford, na
Inglaterra, e que tem como objetivo investigar um dos mais intrigantes períodos
da evolução tardia da humanidade, a transição do Paleolítico Médio para o
Inferior na Eurásia. Para tanto, os pesquisadores usam uma combinação de novas
metodologias da ciência da datação, o radiocarbono e a luminescência, para
analisar materiais escavados em localizações chave dessa época.
Tom Higham, chefe da Unidade do Acelerador de Radiocarbono
da Universidade de Oxford e líder dos estudos, conta que a equipe obteve 50
datações por radiocarbono a partir da investigação de ossos, dentes e
fragmentos de carvão recuperados das camadas mais superficiais da Caverna
Denisova. Além disso, cientistas da Universidade de Wollongong, na Austrália,
fizeram mais de 100 datações ópticas de sedimentos muito antigos para serem
submetidos ao primeiro método.
A técnica de luminescência óptica estimulada mede a idade de
materiais de até 200 mil anos e é considerada muito útil também para avaliar a
idade de grãos minerais (o radiocarbono trabalha apenas com material orgânico).
“Foi a primeira vez que pudemos verificar com confiança a idade de toda a
sequência arqueológica da caverna e dos conteúdos dela”, comenta Higham.
Os cientistas também valeram-se de um novo modelo Bayesiano,
desenvolvido pela equipe de Oxford, para determinar as datas mais prováveis dos
fósseis dos hominídeos arcaicos. O método combina os dados obtidos pelas
datações de radiocarbono e ópticas com informações dos depósitos
estratigráficos (as camadas arqueológicas) de estudos genéticos que calculam
idades a partir do número de substituições das sequências de DNA mitocondrial.
Essa última parte foi executada por pesquisadores do Instituto Max Planck de
Antropologia Evolutiva, na Alemanha. “A nova cronologia fornece uma linha do
tempo para os riquíssimos dados obtidos pelos nossos colegas russos a respeito
da história arqueológica e ambiental da caverna ao longo dos últimos três
ciclos glaciais-interglaciais”, observa Zenobia Jacobs, pesquisador da
Universidade de Wollongong e responsável pela datação óptica.
Os primeiros fósseis denisovanos foram descobertos em 2008
por uma equipe liderada pelos russos Anatoly Derevianko e Michael Shunkov, do
Instituto de Arqueologia e Etnografia do país, que há 40 anos escavam sítios na
Sibéria. Em 2010, esses humanos arcaicos se tornaram conhecidos do mundo: foi
quando se publicou o genoma do fragmento ósseo de um dedo encontrado na
caverna, que se revelou não pertencer a nenhuma espécie até então conhecida.
Por fim, no ano passado, um pedaço de osso estudado por cientistas ingleses
revelou que o material pertencia a um indivíduo do sexo feminino, cujo pai era
denisovano e a mãe neandertal. Porém, as datas das peças e dos fósseis não
haviam sido determinadas com a acurácia de agora. // tomado de correio brasiliense
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