Descobertas quase 2
mil bactérias da flora intestinal
Por isso, há grupos de pesquisadores que se dedicam ao
desafio de descobrir novas espécies
espalhadas pelas nossas entranhas.
CB Correio Braziliense
(foto: Spencer Phillips/EMBL-EBI)
Milhares de micróbios vivem no intestino humano. Para o bem
e para o mal. O que faz com que esse microbioma seja alvo de estudos
científicos diversos, sinalizando, por exemplo, como seres microscópicos podem
influenciar o desenvolvimento de doenças, ajudar em processos de emagrecimento
e até desencadear comportamentos, como os que dificultam a interação social.
Apesar da amplitude de temas explorados, essas bactérias ainda não são
completamente conhecidas pela ciência. Por isso, há grupos de pesquisadores que
se dedicam ao desafio de descobrir novas espécies espalhadas pelas nossas
entranhas.
Uma equipe composta por cientistas do Instituto Europeu de
Bioinformática do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL) e do
Wellcome Sanger Institute, no Reino Unido, acaba de identificar quase 2 mil
delas. Segundo eles, o resultado do trabalho, divulgado na versão on-line da
revista Nature, é considerado um avanço no projeto de criação de uma espécie de
banco de dados da flora intestinal. “Uma pesquisa como esta está nos ajudando a
criar um modelo do intestino humano que, no futuro, poderá nos ajudar a
entender melhor a saúde e a doença e até mesmo orientar o diagnóstico e o
tratamento de enfermidades gastrointestinais”, diz, em comunicado, Trevor
Lawley, pesquisador do instituto britânico e um dos líderes do estudo.
Há muitas razões que fazem como que alguns micro-organismos
que integram o microbioma intestinal permaneçam desconhecidos por muito tempo.
Entre elas estão a baixa abundância dessas bactérias na víscera do tubo
digestivo e a incapacidade de sobreviver fora dele. Usando métodos
computacionais, os pesquisadores conseguiram reconstruir 92.143 genomas de
1.952 espécies bacterianas, ampliando,
assim, a possibilidade de estudá-las. O resultado do trabalho expande
substancialmente o repertório de espécies conhecidas da microbiota intestinal
humana coletiva, com um aumento de 281% na diversidade filogenética. “Nosso
trabalho revela a diversidade bacteriana intestinal inculta, proporcionando uma
resolução sem precedentes para a caracterização taxonômica e funcional da
microbiota intestinal”, ressaltam os autores.
Porém, para o aprofundamento das análises, essas espécies
ainda precisam ser cultivadas em laboratório, já que o método utilizado por
eles, a metagenômica, independe dessa condição. “Os métodos computacionais nos
permitem entender as que ainda não podemos cultivar em laboratório. Usar a
metagenômica para reconstruir os genomas bacterianos é um pouco como reconstruir
centenas de quebra-cabeças depois de misturar todas as peças, sem saber como a
imagem final deve ficar, e depois de remover completamente algumas peças da
mixagem para torná-la um pouco mais difícil “, afirma, em comunicado, Rob Finn,
líder de grupo de cientistas do EMBL. Segundo ele, agora, a equipe trabalha em
uma fase em que se pode usar uma série de ferramentas computacionais para
complementar e até mesmo guiar o trabalho em laboratório.
Mais
representatividade
Embora os pesquisadores estejam se aproximando de criar uma
lista abrangente dos micróbios comumente encontrados no intestino, eles
analisaram principalmente amostras de moradores dos Estados Unidos e da Europa,
o que dificulta a construção de um banco de dados mais representativo. Segundo
Rob Finn, faltam informações sobre outras regiões do mundo, e as que eles
analisaram, de sul-americanos e africanos, indicam que a composição da flora
intestinal humana deve ser mais diversificada do que o imaginado.
“Os poucos conjuntos de dados a que tivemos acesso revelaram
uma diversidade significativa não presente nas populações anteriores. Isso
sugere que coletar dados de populações sub-representadas é essencial, se
quisermos obter um quadro verdadeiramente abrangente da composição do intestino
humano”, avalia. Alexandre Almeida, participante do estudo, conta que a equipe
usou bancos de dados públicos mais abrangentes de bactérias gastrointestinais e
que os métodos de análise empregados permitirão o aprofundamento do estudo.
“Eles são altamente reprodutíveis e podem ser aplicados em conjuntos de dados
maiores e mais diversificados, permitindo futuras descobertas.”
Avaliação coletiva
É a análise genômica da comunidade de micro-organismos de um
ambiente usando técnicas que não dependem do cultivo em laboratório. Por essa
abordagem, se extrai o DNA de todos os organismos presentes no local em
questão, o que leva ao sequenciamento do material genético de todos os seres
presentes no local. Técnicas da bioinformática permitem comparar os resultados
a informações já conhecidas, resultando na identificação das, até então,
desconhecidas. // tomado de correio brasiliense
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