Cento e vinte minutos semanais de exercícios melhoram níveis
inflamatórios em pacientes já submetidos ao tratamento medicamentoso para a
artrite, mostra pesquisa indiana com 72 voluntários
CS Carmen Souza
Técnicas alternativas, como a ioga e acupuntura, são
indicadas para melhorar aspectos subjetivos: possibilidade também de efeitos
fisiológicos(foto: Amer Hilabi/AFP 7/9/18 )
Na tentativa de amenizar os sintomas da artrite reumatoide
(AR), cerca de dois terços dos pacientes recorrem a abordagens alternativas,
como acupuntura e meditação. Há evidências científicas de que essas práticas
geram efeitos mais subjetivos, como melhora da sensação de bem-estar. O
resultado de uma pesquisa indiana poderá ampliar a lista de benefícios. Ao
acompanhar 72 pacientes, cientistas identificaram que a ioga tem potencial para
diminuir significativamente a gravidade dos sintomas físicos e psicológicos da
doença inflamatória crônica.
“Nossos resultados mostram melhorias mensuráveis (…)
Fornecem evidências de que a ioga modifica positivamente a patobiologia dessa
doença autoimune em níveis celulares e moleculares, visando às comunicações
mente e corpo”, ressalta, em comunicado, Rima Dada, professora do Instituto de
Ciências Médicas da Índia e principal pesquisadora do estudo, divulgado, nesta
semana, na revista científica Restorative Neurology and Neuroscience.
Rima Dada e a equipe detectaram os efeitos benéficos em
voluntários submetidos a um programa de 120 minutos de prática de ioga,
divididos em cinco dias por semana. Todos os 72 participantes tinham a doença
inflamatória e foram orientados a manter o tratamento medicamentoso ao longo
das oito semanas da pesquisa, sendo que metade deles conciliou os remédios com
a abordagem alternativa.
Ao comparar os dois grupos, os cientistas identificaram que
o da terapia combinada apresentou melhora em biomarcadores sistêmicos de
inflamação e nas avaliações do estado funcional e da atividade da doença, entre
outros benefícios. “Esse estudo oferece uma nova opção. Os tratamentos
farmacológicos poderão ser complementados com intervenções alternativas, como a
ioga, para aliviar os sintomas nos níveis físico e psicossomático”, destaca a
cientista.
Para Licia Mota, coordenadora da Comissão de Artrite
Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia, os dados mensuráveis
obtidos pelos pesquisadores indianos são o grande destaque do trabalho.
“Estudos mostram que abordagens alternativas, como ioga e acupuntura, melhoram
aspectos subjetivos, como qualidade de vida, sono e sensação de fadiga
dos pacientes. Agora, o fato de haver parâmetros objetivos mostrando a redução
da inflamação é promissor e bastante interessante”, explica.
A médica, que também é orientadora do programa de
pós-graduação em ciências médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
Brasília (UnB), acredita que os pesquisadores indianos devem ter criado algumas
adaptações para as sessões de ioga a que os voluntários foram submetidos. Isso
porque a AR afeta as articulações das mãos e dos pés, causando dor, inchaço e
rigidez. Dessa forma, pacientes podem encontrar dificuldade para fazer algumas
posturas da ioga.
Depressão
Os cientistas também identificaram que os voluntários que
combinaram o tratamento tradicional com a ioga intensiva apresentaram melhora
na saúde psicológica, ficando mais dispostos e capazes de realizar tarefas
diárias. Segundo Rima Dada, o regime intensivo de exercícios reduziu a
gravidade da depressão, promovendo a neuroplasticidade. “A ioga facilita a
capacidade da mente de afetar a função corporal e os sintomas das doenças, além
de trazer tolerância imunológica natural”, complementa.
As comorbidades psiquiátricas da artrite reumatoide, como
ansiedade, depressão e síndrome do pânico, têm grande impacto no enfrentamento
à doença. Pacientes com a saúde mental comprometida são mais suscetíveis, por
exemplo, a abandonar a rotina de ingestão diária de medicamentos. Até então, a
meditação e outras abordagens complementares funcionavam como uma medida para
evitar esse tipo de complicação.
“Técnicas de interação mente e corpo, como a proposta pelos
pesquisadores indianos, são muito importante nesse sentido”, ressalta Licia
Mota. “Além disso, a relação entre esses fatores parece ser mais complexa.
Estudos começam a mostrar que a depressão pode ser um fator causal da artrite
reumatoide.”
A médica dará início a um projeto de pesquisa na Rede Sarah
em que será avaliado o efeito da meditação em pacientes com AR. Ela aposta que
eles chegarão a efeitos semelhantes ao do estudo indiano, indicando a
possibilidade de um novo controle da atividade inflamatória. Ainda assim, Licia
Mota reforça que não se pode trocar o tratamento tradicional por métodos
alternativos. “É uma combinação de abordagens. As complementares podem trazer
vantagens quando aliadas ao tratamento medicamentoso, assim como aconteceu na
pesquisa indiana”, frisa.
“Os tratamentos farmacológicos poderão ser complementados
com intervenções alternativas, como a ioga, para aliviar os sintomas nos níveis
físico e psicossomático”
Rima Dada, professora do Instituto de Ciências Médicas da Índia
e principal pesquisadora do estudo
Até o cérebro
Pesquisadores do Michigan Medicine (EUA) descobriram que a
inflamação causada pela artrite reumatoide atinge as articulações e também o
cérebro. Ao analisar imagens de 264 áreas cerebrais de 54 pacientes, a equipe
identificou padrões de conectividade funcional aumentados no início da pesquisa
e seis meses depois, o que não é comum em exames do tipo. Para a equipe, o
fenômeno pode explicar por que, mesmo com o avanço no tratamento medicamentoso,
pacientes ainda enfrentam problemas como disfunção de humor e outras
complicações psicológicas. As vias inflamatórias identificadas poderão ser
exploradas em novas pesquisas em busca de terapias mais eficazes. O estudo foi
publicado, em junho, na Nature Communications.
TOMADO DE CORREIO
BRAZILIENSE
No hay comentarios:
Publicar un comentario