Agricultura moderna e urbanização levam à perda da
biodiversidade do solo
JIM ROBBINS DO "NEW YORK TIMES"
Poucas coisas são mais vitais do que a saúde da terra. Nosso
abastecimento alimentar começa lá. As plantas selvagens precisam de solo
saudável para crescer bem. Os herbívoros, para que possam comer as folhas,
sementes e frutos das plantas. Por fim, os predadores, para que possam comer os
bichos que comem as plantas.
Um solo saudável evita doenças humanas e também contém a
cura para outras enfermidades. A maioria dos antibióticos vem de lá. Os
cientistas agora procuram na terra uma nova classe de remédios para enfrentar
doenças resistentes a antibióticos.
Jon Hrusa/Epa
Foto Lavoura em Moçambique; más práticas agrícolas
arruinaram cerca de metade do solo superficial na África
O solo supostamente desempenha um papel importante, mas
pouco compreendido, na difusão do cólera, da meningite fúngica e de outros
agentes infecciosos que passam parte do seu ciclo de vida na terra.
Novas tecnologias garantiram saltos na nossa compreensão
sobre a ecologia dos solos, ao permitir que os cientistas estudem os genes de
micróbios da terra e acompanhem minúsculas quantidades de carbono e nitrogênio
em sua passagem por esse ecossistema.
Mas, à medida que os cientistas aprendem mais, eles percebem
como sabem pouco.
Na última década, os cientistas descobriram que o
"oceano de terra" do planeta é um dos quatro maiores reservatórios de
biodiversidade. Ele contém quase um terço de todos os organismos vivos, segundo
o Centro de Pesquisas Conjuntas da União Europeia, mas apenas cerca de 1% dos
seus micro-organismos já foi identificado. As relações entre essa miríade de
espécies ainda é mal compreendida.
Cientistas criaram recentemente a Iniciativa Global de
Biodiversidade do Solo para avaliar o que se sabe sobre a vida subterrânea,
para identificar onde ela está em perigo e para determinar a saúde dos serviços
ecossistêmicos essenciais que o solo fornece.
Uma colherada de terra pode conter bilhões de micróbios
(divididos entre 5.000 tipos diferentes), assim como milhares de espécies de
fungos e protozoários, além de nematódeos, ácaros e algumas espécies de cupim.
"Há uma pululante organização embaixo do chão, uma
fábrica com terra, animais e micróbios, cada um com seu próprio papel",
disse a bióloga Diana Wall, da Universidade Estadual do Colorado, a presidente
científica da iniciativa.
O ecossistema do solo é altamente evoluído e sofisticado.
Ele processa o lixo orgânico, transformando-o em terra. Filtra e limpa grande
parte da água que bebemos e do ar que respiramos, ao reter poeiras e agentes
patogênicos. Desempenha importante papel na quantidade de dióxido de carbono na
atmosfera, pois, com toda a sua matéria orgânica, é o segundo maior depósito de
carbono do planeta, só atrás dos oceanos.
O uso de arados, a erosão e outros fatores liberam carbono
na forma de CO2, exacerbando a mudança climática.
Um estudo de 2003 na revista "Ecosystems" estimou
que a biodiversidade de quase 5% do solo dos EUA estava "sob risco de
perda substancial ou completa extinção devido à agricultura e à
urbanização". Essa foi provavelmente uma estimativa conservadora, já que o
solo do planeta era na época mais inexplorado do que hoje e as técnicas do
estudo eram bem menos desenvolvidas.
Há numerosas ameaças à vida no solo. A agricultura moderna é
uma das maiores, pois priva a terra da matéria orgânica que a alimenta, resseca
o chão e o contamina com pesticidas, herbicidas e nitrogênio sintético.
A impermeabilização em áreas urbanas também destrói a vida
da terra, assim como a poluição e as máquinas pesadas. Uma ameaça já antiga,
como a chuva ácida, continua afetando a vida subterrânea, pois deixa o solo
mais ácido.
O problema é global. Em quase metade da África, por exemplo,
o uso intensivo para lavouras e pastagens destruiu a camada superior do solo e
causou desertificação.
O aquecimento global irá contribuir para as ameaças à
biodiversidade do solo. A segurança alimentar é uma grande preocupação. O que
irá acontecer com as lavouras à medida que o planeta se aquecer? Ligeiras
alterações de temperatura e umidade podem ter impactos profundos, mudando a
composição da vida no solo e os tipos de plantas que poderão crescer.
Algumas plantas devem gradualmente migrar para climas mais
frios, mas outras podem não ser capazes de se adaptar em novos solos. "O
mundo acima do chão e o mundo abaixo dele estão muito estreitamente
ligados", disse Wall.
Os cientistas também estão descobrindo que um ecossistema
saudável no solo pode ajudar a sustentar as plantas naturalmente, sem insumos
químicos. "Quanto maior é a diversidade do solo, menos doenças surgem nas
plantas", disse Eric Nelson, que estuda a ecologia do solo e das doenças
na Universidade Cornell, no Estado de Nova York. Os insetos também são
refreados por plantas que crescem em terra saudável, segundo ele.
O que agricultores e jardineiros podem fazer para proteger
seus solos? Wall sugere não lavrar a terra, deixando que a vegetação morta se
decomponha, em vez de revolver o solo com o arado a cada ano. Evitar produtos
químicos sintéticos é importante. Agregar adubo, especialmente adubo de
minhoca, pode contribuir para fortalecer os ecossistemas da terra.
O tema está começando a atrair a atenção merecida. Wall
acaba de receber o Prêmio Tyler de Realização Ambiental, com uma dotação de US$
200 mil, que ela diz pretender usar em pesquisas. "É a hora do show para a
biodiversidade do solo", disse ela.
Tomado de folhia de san pablo br
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