"Nem-nens": 25,8% dos jovens de 16 a 29 anos não
estudam nem trabalham
Dados do IBGE mostram que 25,8% dos jovens de 16 a 29 anos
não estudam nem trabalham. Negros e pardos são os mais atingidos
Letícia Cotta* , Ingrid Soares - Especial para
o Correio
Carlos Vieira/CB/D.A Press
Davi: "As empresas procuram quem já entende, quem tem
experiência e portfólio. Não dão chance de aprender"
Apesar de trabalhar desde cedo, a juventude brasileira foi a
mais afetada pela crise econômica. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) mostram que 11,6 milhões dos jovens na faixa dos 16 aos 29
anos estão sem trabalho e sem estudo. São os “nem-nens”.
Morador de Ceilândia, Vitor Eduardo Bezerra, 25 anos, ficou
um ano desempregado, sem estágio ou emprego fixo. Após terminar a pensão
pós-morte que recebia do pai e faltando um ano para terminar a faculdade de
direito, teve que largar os estudos por não conseguir manter-se. Há um mês, ele
conseguiu uma ocupação, mas fora da área. “Não achei nada. Fiquei sem condição
alguma. Larguei a faculdade, estou em um subemprego para custear a minha vida
até juntar dinheiro para poder voltar, mas ano que vem acho que ainda não dá.
Também vou estudar para concurso em casa. É a saída que vejo.”
Bezerra reclama que as empresas têm receio de contratar os
jovens. “A maioria das empresas discrimina quem está começando. A expectativa
dos empregadores é muito alta em relação a quem está iniciando. Só que não
corresponde à realidade e precisamos de uma chance para aprender.”
Pobreza extrema avança e atinge 24,8 milhões de brasileiros
em 2016
Davi Liksan, 20 anos, ficou desempregado em 2016. O
estudante de publicidade participou de entrevistas de emprego, mas não
conseguiu a vaga. Para se virar na crise, aceitou um emprego de auxiliar de
lavanderia. “Procurei estágio na minha área, fiz várias seleções, mas foi um
ano muito difícil. As empresas procuram quem já entende, quem tem experiência e
portfólio. Uma situação muito triste, porque não dão chance de aprender.”
Nos últimos quatro anos, o número de jovens (16-29 anos) que
não estavam ocupados e nem estudavam (os chamados
“nem-nens”) chegou 25,8% dessa faixa etária. São 11,6
milhões de pessoas nessa situação. O nível de ocupação desse grupo etário
diminuiu de 59,1% (2012) para 52,6% (2016). Entre os homens, 60,5% têm algum
tipo de ocupação. O percentual cai para 44,8% entre as mulheres. O Amapá é o
estado que lidera o ranking de taxa de desocupação.
» Empregos formais
Apesar de a taxa de empregos formais ter recuado 0,3%, 33,9%
dos jovens estão inseridos no comércio e na reparação; ou na indústria (28,7%).
» Menor renda
A faixa etária de 16 a 29 anos é a que teve a menor renda,
com
R$ 1.321, o que equivale a uma queda de 1,5% em seu
rendimento médio real. Os ganhos são inferiores à média nacional (R$ 2.021).
» Pobreza extrema
Os dados mostram que, em 2016, 12,1% das pessoas vivem em
situação de pobreza extrema, sobrevivendo com até 25% abaixo do mínimo (que, na
época, era R$ 880). São 24,8 milhões de brasileiros. Negros e pardos
representam 72,9% de pessoas em situação de pobreza. E as mulheres são as que
mais sofrem com essa realidade, já que, das pessoas atingidas, 33% são homens
negros e 34,3% mulheres negras. Esse número se contrapõe aos 15,3% e 15,2% de
homens e mulheres brancos registrados, respectivamente.
*Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca TOMADO DE
CORREIO BRAZILIENSE
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