Segundo a Organização Mundial da Saúde, bebês alimentados
com leite materno por pelo menos seis meses têm menos chance de apresentar
excesso de peso no futuro
PO Paloma Oliveto - Enviada Especial
Mulher amamenta gêmeos na Colômbia: relatório da OMS também
associa o peso do bebê ao nascer a risco de sobrepeso na infância(foto: Raul
Arboleda/AFP)
Glasgow (Escócia) — Com uma epidemia mundial de obesidade em
curva ascendente, pesquisadores tentam identificar medidas protetoras eficazes,
especialmente para crianças. Ainda não há opções medicamentosas nem cirúrgicas
voltadas aos pequenos, embora eles também estejam suscetíveis às comorbidades
desse mal. A amamentação é uma ferramenta poderosa nesse sentido, segundo um
estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado no Congresso Europeu de
Obesidade, na Escócia. Segundo os especialistas que fizeram o trabalho,
alimentar bebês com leite materno pode prevenir o excesso de peso em longo
prazo.
“Quanto mais uma criança é amamentada, maior a proteção
contra obesidade. Esse conhecimento pode fortalecer nossos esforços na
prevenção da obesidade”, afirmou Bente Mikkelsen, diretora da Divisão de
Doenças Crônicas e de Promoção da Saúde a longo prazo da OMS-Europa.
“Intervenções com crianças obesas, incluindo aquelas com a forma severa do
problema, podem trazer grandes benefícios, não apenas para a saúde e o
bem-estar da criança, mas para sistemas de saúde nacionais. Então, temos de
fazer tudo que pudermos para promover e proteger a amamentação pela região.”
Publicado no jornal especializado Obesity Facts, o estudo
compara a associação entre a prática e a duração da amamentação com o peso da
criança ao nascer e o índice de massa corporal dos participantes quando eles
estavam com idades entre 6 e 9 anos. Foram usados dados de 100.583 meninos e
meninas de 22 países europeus.
O resultado mostrou que, comparadas àquelas alimentadas exclusivamente
com leite materno por seis meses, a probabilidade de ter obesidade foi maior
entre crianças não amamentadas ou que receberam esse alimento por períodos mais
curtos. Quanto maior o peso ao nascer, maior o risco de sobrepeso na infância,
algo reportado em 11 dos países avaliados.
Embora a OMS recomende que bebês recebam apenas leite
materno — da mãe ou de uma doadora — no primeiro semestre de vida, essa não é a
realidade de muitas regiões, mostrou o estudo. Na França, em Malta e na
Irlanda, por exemplo, 25% das crianças não são alimentadas dessa forma. Na
Itália, 21,2% dos bebês não amamentados tornaram-se crianças com obesidade
mórbida, mesmo percentual verificado na Espanha.
Respostas hormonais
De acordo com o estudo, a proteção conferida pelo leite
materno pode ser parcialmente explicada pelo fato de que a amamentação “induz
diferentes respostas hormonais quando comparada às fórmulas, essas últimas
causando uma resposta maior da insulina, o que leva ao depósito de gordura e ao
aumento de adiposidade”. Além disso, o leite humano é rico em Bifidobacteria,
um grupo de bactérias intestinais menos presentes no organismo de crianças com
obesidade.
“Crianças que foram amamentadas parecem ter preferências
alimentares mais favoráveis, comendo mais frutas e vegetais que aquelas
alimentadas com fórmulas”, diz o artigo, citando um estudo australiano de 2014.
A OMS também divulgou, no Congresso Europeu de Obesidade, um
artigo que, segundo o órgão das Nações Unidas, evidencia a necessidade de
intervenções mais eficazes contra a obesidade infantil na Europa. As
estatísticas apresentadas mostram que 400 mil crianças de 6 a 9 anos que vivem
no continente já sofrem de obesidade mórbida.
O estudo alerta que essa condição está associada a
prognósticos desfavoráveis a longo prazo, como doenças cardiovasculares e
metabólicas, entre outras. Comparadas às com sobrepeso, aquelas que se encaixam
no perfil mais grave têm fatores de risco cardiovasculares mais elevados, diz o
trabalho.
No Brasil, a obesidade infantil também tem aumentado.
Segundo a OMS, 33% das crianças de 5 a 9 anos estão com sobrepeso. Dessas, 15%
já têm obesidade. As estimativas da organização são de que, em 2025, 11,3
milhões de brasileiros nessa faixa etária tenham índice de massa corporal (a
divisão de peso pela altura ao quadrado) acima do considerado saudável.
Três perguntas para Olivia Cavalcanti, diretora de ciência e
educação da Federação Mundial de Obesidade
A situação das crianças brasileiras é tão grave quanto a
apontada pelas pesquisas da OMS?
A situação está piorando. A prevalência da obesidade
infantil está aumentando no mundo inteiro, inclusive na América Latina e no
Brasil. O Brasil tem uma taxa de amamentação bastante boa, comparada ao resto
do mundo, principalmente com a Europa, mas, infelizmente, o acesso a alimentos
não saudáveis, o acesso a bebidas com açúcar e a quantidade de refeições feitas
fora de casa estão aumentando no país.
No Congresso Europeu de obesidade tem se falado muito no
conceito da obesidade como doença. Na infância pode-se considerá-la uma doença
ou seria um fator de risco?
A obesidade é sempre um fator de risco e uma doença. A
diferença da obesidade infantil é que com a criança você pode agir mais em
prevenção, enquanto que, quando falamos em obesidade em adultos, é tratamento e
administração da obesidade. Se a gente conseguir regular o peso da criança, há
muito menos chance dessa criança virar um adulto com obesidade. Ainda que ela
já tenha um excesso de peso, agir nesse momento é o melhor.
O adulto tem opções de tratamento, como remédios e cirurgia.
E a criança?
Está sendo estuda uma série de medicamentos para crianças,
que vão ser lançados entre os próximos um e três anos. Hoje há um percentual
baixíssimo de adolescentes que podem ser operados, mas são realmente casos
limites, mas vamos ter medicamentos para crianças em breve.
TOMADO DE CORREIO
BRAZILIENSE
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