viernes, 17 de mayo de 2019

SUBSTÂNCIA DO BRÓCOLIS TEM AÇÃO ANTICANCERÍGENA, SEGUNDO ESTUDO


Apesar da comprovação da eficácia no combate a tumores, os autores do estudo explicam que comer brócolis e outros alimentos do gênero não é suficiente para obter esses benefícios
VS Vilhena Soares
(foto: Kleber Lima/CB/D.A Press)
O brócolis é um dos vegetais mais ricos em vitaminas e, por isso, considerado excelente alimento para compor uma dieta balanceada. Além do seu valor nutricional, tem potencial para ser usado no combate ao câncer. A descoberta foi feita por cientistas israelenses, que conseguiram reduzir a ação de um gene relacionado ao crescimento de tumores com o uso de um composto presente na planta comestível. As descobertas foram publicadas na última edição da revista Science.
Os cientistas focaram no gene PTEN — uma das proteínas mais comuns em tumores humanos, com capacidade de suprimir as células doentes. Porém, a presença de alterações pode atrapalhar esse efeito anticancerígeno. “Certas mutações de PTEN herdadas causam síndromes caracterizadas por suscetibilidade ao câncer e defeitos de desenvolvimento”, explica ao Correio Pier Paolo Pandolfi, diretor do Instituto de Pesquisa do Câncer do Beth Israel Deaconess Medical Center e principal autor do estudo.
Pandolfi e sua equipe identificaram as moléculas e os compostos que regulam a função e a ativação do PTEN para tentar impulsioná-las. Realizando uma série de experimentos em camundongos propensos a ter a doença e em células humanas, eles descobriram que o gene WWP1 — conhecido por facilitar o desenvolvimento do câncer — produz uma enzima que inibe a atividade do PTEN, favorecendo, assim, o aparecimento da doença. Ao analisar a forma física da enzima, a equipe observou que a pequena molécula indole-3-carbinol (I3C), presente no brócolis, poderia ser a chave para suprimir os efeitos cancerígenos do WWP1.
Testada em camundongos com tumores, a I3C rendeu os resultados esperados, reduzindo a ação do WWP1 e impulsionando a função de combate ao câncer do PTEN. “Encontramos um novo ator importante que conduz um caminho crítico para o desenvolvimento do tumor, uma enzima que pode ser inibida com um composto natural encontrado no brócolis e em outros vegetais crucíferos”, ressalta Pandolfi. “Esse caminho surge não só como um regulador para o controle do crescimento do cancro, mas também como um calcanhar de Aquiles, para onde podemos direcionar opções terapêuticas.”
Segundo Ludmila Thommen, oncologista do Instituto Onco-Vida, em Brasília, a pesquisa traz dados importantes, indicando a possibilidade de intervenção na ação de um gene presente em diversos tipos de cânceres. “Esse gene já foi visto em vários tipos de tumores, como mama e próstata, e também em pacientes com câncer colorretal. Se esse ele favorece o crescimento das células cancerígenas e temos algo que o bloqueia, isso é extremamente positivo. É uma pesquisa ainda muito inicial, mas que mostra resultados bastante promissores”, ressalta.
Não basta comer
Apesar da comprovação da eficácia no combate a tumores, os autores do estudo explicam que comer brócolis e outros alimentos do gênero não é suficiente para obter esses benefícios. Isso por conta da quantidade da molécula presente nesses vegetais. Os cientistas calculam que seria necessário comer quase seis quilos de couve de Bruxelas (não cozida) por dia para obter a ação esperada.
Na tentativa de buscar uma solução mais viável, a equipe pretende estudar melhor a função do WWP1 para desenvolver inibidores mais potentes desse gene. “A inativação genética ou farmacológica do WWP1 com a tecnologia CRISPR (de edição de DNA) ou com a molécula I3C pode restaurar a função do gene PTEN e desencadear ainda mais a sua atividade supressora de tumor”, aposta Pandolfi. “Essas descobertas abrem caminho para uma abordagem de reativação supressora de tumores há muito tempo procurada.”
A oncologista Ludmila Thommen também acredita que mais pesquisas são necessárias para que os resultados possam ser usados na área terapêutica e ressalta outro ponto relevante do trabalho israelense: o de mostrar o poder dos alimentos no combate a tumores. “Temos que aprender que comer bem é algo fundamental, uma boa alimentação ajuda os pacientes durante todo o tratamento e também pode contribuir para evitar enfermidades. Mesmo que os alimentos não sejam a cura, funcionam como coadjuvantes de grande importância, ferramentas que, isoladas, não fazem todo o trabalho, mas que, em ação com outras terapias, podem contribuir muito para acabar com a doença”, frisa. TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE

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