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Grupo Especial: um novo tabuleiro de xadrez na Sapucaí
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De alto custo, alegorias e adereços têm maior influência no
resultado dos desfiles
Equipe do GLOBO analisou quase 5 mil notas atribuídas a
todas as escolas da elite da folia carioca de 2004 até 2014
POR FABIO VASCONCELOS, DANIEL LIMA E RAFAEL GALDO
Carro alegórico da pirâmide humana representando o DNA da
Unidos da Tijuca, em 2004 - Marco Antônio Teixeira RIO - "Superescolas de
samba S.A., superalegorias..." O velho "Bumbum paticumbum
prugurundum" do Império Serrano, de 1982, era certeiro. Naquela época, o
visual já botava banca nos desfiles. Agora, mais de três décadas depois, os
números são categóricos: nenhum quesito influencia tanto o resultado do
carnaval carioca quanto alegorias e adereços, justamente o mais caro para as 12
agremiações que desfilam neste domingo e segunda-feira pelo Grupo Especial. Em
transformação constante, os carros alegóricos pouco lembram o primeiro esboço
deles, em 1931, na Portela. E, se bem avaliados, podem aumentar (e muito) a
chance de se obter o campeonato, constatou o Núcleo de Jornalismo de Dados do
GLOBO.
- É o quesito que requer mais aporte financeiro das escolas,
em função das novidades e dos efeitos especiais que costumam ser levados para a
avenida - diz Ricardo Fernandes, diretor de carnaval da Grande Rio. - O custo
(de uma alegoria) depende muito da proposta artística, mas pode variar de R$ 70
mil a R$ 500 mil. A equipe do GLOBO analisou quase 5 mil notas atribuídas a
todas as escolas da elite da folia carioca de 2004 até 2014. Com base nelas,
calculou a taxa de aproveitamento - em relação aos pontos possíveis - em cada
quesito. A partir daí, utilizando técnicas de estatística, chegou à conclusão
de que uma diferença de até um ponto percentual em alegoria, em relação aos
demais competidores, aumenta até 150% a chance de a escola ser campeã. Não
significa, claro, que as agremiações devam abandonar os outros quesitos, até
porque esses resultados estão associados, quase sempre, com o bom desempenho
nas demais avaliações. Mas o que fez o item alegorias e adereços ser mais
decisivo foi o fato de apresentar maior variação de notas nesse período. Nele,
as agremiações tiveram o menor aproveitamento geral (88,2%) em relação ao total
de pontos possíveis. Ou seja, os quesitos em que todas as escolas costumam ter
bom aproveitamento, com notas altas, impactam menos o resultado do campeonato.
Já aqueles em que há grande variação de notas - o caso das alegorias - são os
que têm o poder de desequilibrar a disputa e, assim, ditar o nome da campeã do
carnaval. Bem acima da média, as cinco escolas que apresentaram os melhores
desempenhos no quesito alegorias desde 2004 também foram as mais frequentes na
disputa pelo título: Unidos da Tijuca (com aproveitamento de 97%), Grande Rio
(96,8%), Beija-Flor (95,6%), Salgueiro (94,8%) e Vila Isabel (92,6%) - veja os
resultados completos no blog Na Base dos Dados, no site do GLOBO. À exceção da
tricolor de Duque de Caxias, com três vice-campeonatos, elas conquistaram todos
os títulos do período.
Pesquisador de carnaval e jurado do Estandarte de Ouro,
Felipe Ferreira concorda que, ultimamente, as escolas tendem mais para o
visual. Por outro lado, ele acredita que uma menor variação nas notas, por
exemplo, em bateria e samba pode se dever a um respeito maior por esses
quesitos.
- Dificilmente uma bateria vai tirar 9,2. Quem vai ter
coragem de dar essa nota? Mas, para uma alegoria, sim. Acredito que é
necessário haver uma avaliação equivalente para todos os quesitos - diz ele. Considerando-se
a figura do carnavalesco, destaca-se o aproveitamento de Paulo Barros. Nas
escolas por onde ele passou (Unidos da Tijuca, Viradouro e Vila Isabel), a taxa
em alegorias e adereços chegou a 98%. O carnavalesco, para muitos, foi o
responsável pela última grande mudança na concepção do quesito. Em 2004, uma
alegoria dele abalou as estruturas do carnaval: com 127 bailarinos
coreografados e com os corpos pintados de azul, eles compunham o Carro do DNA. O
estilo logo ganharia nomes, como alegorias humanas ou vivas, e os carros
viraram palcos de espetáculos quase à parte. Em 2008, uma das sensações do
carnaval foi um carro da Portela, onde, num efeito produzido por um mecanismo
giratório, a escultura de um bebê aparecia ora saudável, ora doente. Em 2009, o
Salgueiro mostrou malabaristas que tocavam tambores nas alturas. E Paulo Barros
inventou de tudo na avenida: pista de esqui na Viradouro; um cortiço que era
demolido na Vila; e rampa para super-heróis na Unidos da Tijuca. Mas a
revolução começou muito antes. Os carros alegóricos já eram vistosos e mais
rebuscados em outras manifestações carnavalescas, como as grandes sociedades.
Nas escolas, ainda passavam bem longe de ter a supremacia da década de 1950.
Nos anos 1960, os artistas acadêmicos do Salgueiro, como Fernando Pamplona e
Arlindo Rodrigues, mudaram a estética dos desfiles, e os carros ganharam mais
apuro em sua confecção. Mas foi com um discípulo deles, Joãosinho Trinta, que a
reviravolta aconteceu. O ano era 1974; a escola, o Salgueiro, com o enredo
"O rei de França na Ilha da Assombração". Joãosinho percebeu que os
grandes destaques, que se apresentavam no chão, com suas fantasias pesadas e
luxuosas, às vezes atrasavam o andamento. E resolveu, então, mudá-los de lugar,
colocando-os em cima dos carros alegóricos. O Salgueiro foi campeão naquele ano
e bi no seguinte. Joãosinho foi para a Beija-Flor, sagrando-se campeão em 1976,
1977 e 1978. As alegorias ficaram mais ricas, com mulatas sambando em cima
delas. Para financiar tudo isso, a escola já tinha patrono. E outras
agremiações, também com o dinheiro do jogo do bicho, começaram a crescer e a
ganhar títulos, como a Imperatriz e a Mocidade Independente. Os carros passaram
a roubar a cena do espetáculo, sobretudo após a inauguração do Sambódromo, em
1984. Passaram também a protagonizar polêmicas. A mais emblemática foi em 1989,
com a Beija-Flor de Joãosinho Trinta. No enredo "Ratos e urubus, larguem
minha fantasia", a ideia era levar para a Sapucaí um Cristo mendigo. Mas a
Igreja proibiu. Censura que só fez daquele carro ainda mais marcante na
história do carnaval: foi coberto com um plástico preto e levou para a Sapucaí
a mensagem: "Mesmo proibido, olhai por nós". Nos anos 90, a
Imperatriz ditava um novo padrão de acabamento e luxo nos carros, pelas mãos de
Rosa Magalhães e seu estilo barroco. Já nos anos 2000, as grandes escolas
ganharam projetistas e até engenheiros hidráulicos. Em 2007, Paulo Barros, na
Viradouro, pôs a bateria do Mestre Ciça em cima de um carro. TOMADO DE O GLOBO
DE RJ BR
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