Cientistas
desenvolvem por acaso enzima devoradora de plástico
Cientistas japoneses acreditam que a bactéria tenha evoluído
recentemente em um centro de reciclagem de rejeitos, uma vez que o plástico não
existia até os anos 1940
AF Agência France-Presse
Tampa, Estados Unidos - Cientistas britânicos e
americanos produziram acidentalmente uma enzima devoradora de plástico que
poderia, eventualmente, ajudar a resolver o problema crescente da poluição
gerada por este material, revelou um estudo publicado na segunda-feira (16/4),
do qual participaram pesquisadores da Unicamp.
Mais de oito milhões de toneladas de plásticos são
descartadas nos oceanos do mundo todos os anos e há uma preocupação crescente
com as consequências contaminantes deste produto derivado do petróleo para a
saúde humana e o meio ambiente.
Apesar dos esforços de reciclagem, a maior parte dos
plásticos permanece por centenas de anos no meio ambiente, e por isso
cientistas buscam melhores formas de eliminá-lo.
Pesquisadores da Universidade de Portsmouth e do Laboratório
de Energias Renováveis do Departamento de Energia dos Estados Unidos decidiram
se concentrar em uma bactéria encontrada na natureza, descoberta no Japão há
alguns anos.
Cientistas japoneses acreditam que a bactéria tenha evoluído
recentemente em um centro de reciclagem de rejeitos, uma vez que o plástico não
existia até os anos 1940. Conhecida como Ideonella sakaiensis, ela parece se
alimentar exclusivamente de um tipo de plástico conhecido como polietileno
tereftalato (PET), usado amplamente em garrafas plásticas.
Uma mutação
útil
O objetivo dos cientistas era compreender o funcionamento de
uma destas enzimas - denominada PETase - ao compreender sua estrutura.
"Mas eles acabaram dando um passo à frente e desenvolveram acidentalmente
uma enzima ainda mais eficiente em decompor plásticos PET", destacou o
estudo, publicado no periódico científico americano Proceedings of the National
Academy of Sciences.
Usando um raio-X superpotente, eles conseguiram produzir um
modelo tridimensional em altíssima resolução da enzima.
Empregando a modelagem de computador, cientistas da Unicamp
e da Universidade da Flórida descobriram que a PETase era similar a outra
enzima, a cutinase, encontrada em fungos e bactérias. Uma parte da PETase, no
entanto, era um pouco diferente e cientistas supuseram que esta era a parte que
permitia a degradação do plástico.
Eles, então, submeteram à mutação o local ativo da PETase
para fazê-la se parecer mais com a cutinase e descobriram de forma inesperada
que a enzima mutante era mais eficiente do que a PETase natural em decompor o
PET.
Os pesquisadores afirmam estar trabalhando agora em
melhorias desta enzima, na esperança de eventualmente permitir seu uso
industrial na decomposição de plásticos.
"A sorte frequentemente desempenha um papel
significativo na pesquisa científica de base, e nossa descoberta não é uma
exceção", afirmou um dos autores do estudo, John McGeehan, professor da
escola de Ciências Biológicas de Portsmouth.
"Embora o aperfeiçoamento seja modesto, esta descoberta
inesperada sugere que há espaço para mais melhorias destas enzimas,
aproximando-nos de uma solução de reciclagem para a crescente montanha de
plásticos descartados", acrescentou.
TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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