viernes, 20 de abril de 2018

RECIFES TÊM VARIAÇÃO GENÉTICA PARA SE ADAPTAR AO AQUECIMENTO GLOBAL


 Recifes têm variação genética para se adaptar ao aquecimento global
Grande Barreira, na Austrália, pode sobreviver por mais um século. Tempo estimado anteriormente
era de 50 anos
A resiliência dos corais da Austrália está nas variações genéticas entre as populações: o aumento da temperatura das águas pode levá-los à morte por fome ou por doenças(foto: Eric G Matson/Australian Institute of Marine Science/Divulgação)
Usando amostras de DNA e simulações de computador, biólogos evolucionistas fizeram uma previsão que, embora otimista, também traz um importante recado para as políticas de preservação. De acordo com eles, os corais da Grande Barreira, na Austrália, têm variação genética suficiente para se adaptar e para sobreviver à crescente temperatura oceânica por pelo menos mais um século, ou 50 anos a mais do que o sugerido por estimativas anteriores.
“Isso significa que esses corais ainda serão extintos se não fizermos nada. Mas também quer dizer que temos a chance de salvá-los. Isso nos dá tempo para realmente fazer algo sobre o aquecimento global, que é o principal problema”, diz Mikhail Matz, professor-associado do Departamento de Biologia Integrativa da Universidade do Texas, em Austin, e principal pesquisador do projeto. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Plos Genetics.
A fonte da resiliência dos corais está nas variações genéticas entre populações conectadas, mas amplamente dispersas. Um dos principais corais construtores de recifes da Grande Barreira é uma espécie chamada Acropora millepora. Em um artigo de 2015 publicado na revista Science, Matz demonstrou que, dentro dessa mesma espécie, alguns indivíduos têm genes que os tornam mais tolerantes ao calor do que outros.
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Cada colônia de corais produz um milhão de larvas por ano, e elas flutuam nas correntes por várias semanas até se estabelecer em um novo recife. À medida que as condições mudam em um determinado local — por exemplo, a água aquece —, indivíduos das espécies menos adaptadas morrem, enquanto os mais adaptados prosperam. Com o tempo, caso as larvas que vingam forneçam variantes genéticas para aumentar a resistência, a população local muda para essa variedade.
“Essa variação genética é como combustível para a seleção natural”, explica Matz. “Se houver o suficiente dela, a evolução pode ser notavelmente rápida, porque tudo o que se precisa fazer é remodelar as variantes existentes entre as populações. Não é necessário esperar que uma nova mutação apareça; ela já está lá. O problema é quando a variação genética esgota”, diz.
Migração de larvas
Os pesquisadores adaptaram métodos usados no estudo de alterações nas populações humanas para analisar como evoluiu a conexão dos corais Acropora millepora na Grande Barreira. A fim de reconstruir os padrões de migração das larvas, um fator-chave da evolução do nível populacional, eles usaram milhares de variantes genéticas de cinco regiões do recife, bem como um modelo biofísico de dispersão de larvas via correntes.
Alguns pesquisadores tentam criar supercorais em laboratório, inclusive por meio de engenharia genética, mas não é isso que Matz recomenda. Em vez disso, ele acha que os cientistas devem se concentrar em aprender mais sobre genética e passar essas informações aos profissionais envolvidos nos esforços de conservação. Para o cientista, alterar os corais artificialmente é um equívoco — em parte porque não se sabe realmente como funcionam os genes desses seres e também porque há maneiras mais eficientes de ajudá-los a evoluir. “Uma forma de acelerar a adaptação de corais seria mover colônias com variantes genéticas potencialmente adaptativas entre as populações e deixá-las se reproduzir com as populações locais”, sugere. “Apenas forneça mais combustível para a seleção natural em cada região.”
A equipe americana planeja realizar mais experimentos para verificar se as previsões de seus modelos são compatíveis com a evolução real das populações de corais. Eles pretendem combinar amostras de DNA obtidas de corais em cinco locais da Grande Barreira no início dos anos 2000 com amostras coletadas nas mesmas regiões nos próximos cinco anos e, assim, construir um mapa de duas décadas das mudanças genéticas.
De acordo com um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas de 2014, sem grandes reduções nas emissões de gases do efeito estufa, as temperaturas da superfície global devem subir mais de 2ºC até o fim do século, em relação ao início da era pré-industrial. Os oceanos absorvem mais de 90% do calor retido pelo aumento das emissões desses poluentes. Os corais vivem em colônias com algas coloridas que lhes fornecem nutrientes. Quando a água circundante aquece demais, as algas podem produzir toxinas, forçando-os a expulsá-las, o que deixa o coral com um branco fantasmagórico. A menos que as temperaturas caiam novamente em breve, eles podem morrer de fome ou doença.
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"Isso significa que esses corais ainda serão extintos se não fizermos nada. Mas também quer dizer que temos a chance de salvá-los. Isso nos dá tempo para realmente fazer algo sobre o aquecimento global”
Mikhail Matz, professor da Universidade do Texas, em Austin, e principal pesquisador do projeto
TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE

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