Doces águas
brasileiras, navegue pelas veias da floresta Amazônica
Um inesquecível trajeto em barco de madeira pelos rios Negro
e Carabinani atravessando as Anavilhanas e chegando ao Parque Nacional do Jaú
JS Juliana A. Saad, Especial para o Correio
Refresco para a alma? Escape para a Amazônia. Dias sem
conexão e tempo para nadar nos rios e cachoeiras, percorrer trilhas e navegar
por igarapés, comer peixe fresco, ver flora e fauna, explorar a natureza
generosa e conhecer pessoas e lugares que você não imagina existirem. A bordo
do barco Jacaré-Açu, com pousos em Novo Airão e Manaus, é, sem dúvida, uma das
maneiras mais rápidas de se apaixonar pelo nosso país.(foto: Juliana A.
Saad/Esp. CB)
Amazônia: grandiosidade, mistérios, admiração. É
possível continuar a lista de adjetivos e substantivos por várias linhas ao
tentar definir a imensidão de verde e as caudalosas águas no Norte brasileiro.
Mas quase todos são insuficientes. Sons ou silêncio, peixes ou aves, frutas ou
raízes, jacarés ou macacos — há de tudo para quem se aventura por seus rios,
lagos, cachoeiras, praias, igapós e igarapés. Acompanhe o trajeto e conheça um
pouco da região.
Nossa viagem começa em Novo Airão, a 200km de Manaus e à
margem do Rio Negro. O barco Jacaré-Açu aporta suavemente ao lado do
restaurante flutuante Flor do Luar, logo após o almoço — um gostoso matrinxã
grelhado, espécie de boas-vindas para as surpresas da culinária regional que
aguardam os passageiros a bordo do barco. Construído com madeira nobre em
estaleiro local e dotado de oito cabines com banheiro e ar condicionado, o
Jacaré-Açu tem salas de jantar e de estar, além do deck na parte superior
perfeito para maravilhar os olhos com a sucessão de vistas próximas ou
infinitas.
É o barco-chefe da Expedição Katerre (há outro, o
Jacaré-Tinga), empresa criada em 2004 em Novo Airão, ponto de partida para
percorrer toda a extensão do Alto Rio Negro através de expedições regulares ou
contratadas. Nosso trajeto vai passar pelas Anavilhanas, o 2º maior arquipélago
fluvial do mundo, seguindo para o Parque Nacional do Jaú, declarado Patrimônio
Natural da Humanidade pela Unesco em 2003, cujo sistema aquático é composto por
três grandes rios (Unini ao norte, Carabinani ao sul e Jaú ao centro). Antes, é
preciso a identificação de cada passageiro na base do Icmbio (Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Às 15h e, após uma rápida explicação sobre a fauna, flora, bacias hídricas e costumes regionais, os passageiros — italianos e brasileiros — aprendem que o nível da água do Rio Negro pode variar de altura em até 10 metros entre os períodos de cheia (fevereiro a julho) e de seca. Na cheia reinam os igapós, vias de água em meio às árvores com troncos inundados, e na seca aparecem belas praias de areia branca e formações esculturais de raízes e troncos. No Rio Negro praticamente não há mosquitos, por causa da acidez de sua água escura, que, no entanto, é límpida e convidativa a banhos. Só será necessário usar repelentes nas caminhadas na floresta por causa do carapanã, nome amazônico do pernilongo.
(foto: Juliana A. Saad/Esp. CB)Às 15h e, após uma rápida explicação sobre a fauna, flora, bacias hídricas e costumes regionais, os passageiros — italianos e brasileiros — aprendem que o nível da água do Rio Negro pode variar de altura em até 10 metros entre os períodos de cheia (fevereiro a julho) e de seca. Na cheia reinam os igapós, vias de água em meio às árvores com troncos inundados, e na seca aparecem belas praias de areia branca e formações esculturais de raízes e troncos. No Rio Negro praticamente não há mosquitos, por causa da acidez de sua água escura, que, no entanto, é límpida e convidativa a banhos. Só será necessário usar repelentes nas caminhadas na floresta por causa do carapanã, nome amazônico do pernilongo.
À medida que Novo Airão fica para trás (e também o sinal de
wi-fi, para uma bem-vinda “desintoxicação” digital), a emoção cresce com as
paisagens das Anavilhanas, labirinto com braços fluviais formando cerca de 400
ilhas. Ao cair da tarde, chegamos ao Mirante do Madadá, mantido pela Expedição
Katerre em morro próximo à margem, perfeito para ver o nascer do sol e
vislumbrar uma grande parte da floresta. Caso queiram, os passageiros podem
passar a noite em redes no abrigo aberto onde fica o mirante.
No dia seguinte o piloto Tito toca o sino — hora do café da manhã e da continuação da viagem. Momento de entrar em ação o experiente guia Josué, cuja avó é índia da etnia tucana com avô japonês. Alternando inglês, italiano e português, ele conduz uma imersão na floresta e seus mistérios, com as muitas práticas de sobrevivência legadas pelos índios. Tudo isso durante a caminhada de quatro horas selva adentro, quando Josué exibe várias técnicas com seu indispensável facão, como retirar água para beber de um cipó, justamente chamado cipó d’água; mostrar como se faz uma lança com a paxiúba-barriguda e fazer fogo com paina da palmeira inajá e breu preto, além de retirar a seiva da seringueira, escorrê-la numa folha e imediatamente transformá-la em borracha com a fumaça da paina.
Josué também apresenta uma gigantesca samaúma, árvore que simboliza a força da natureza do alto dos seus 40 metros e, por isso, é sagrada para os índios, pois para eles transmite a vida. Encerrando a caminhada, a típica e forte chuva tropical no cair da tarde ameniza o calor e alegra o trajeto de volta ao barco.
À noite, Josué leva os passageiros numa lancha voadeira para a tradicional e turística focagem de jacarés. Depois de se aproximar com o motor da lancha desligado e agarrar o bicho com as mãos, faz uma longa explanação sobre suas características e hábitos, convidando os mais corajosos a segurá-lo. E então revela que os olhos do jacaré refletem a luz da lanterna como uma faísca, fagulha instantânea que só a visão treinada de Josué percebe. (Colaborou Mauro Marcelo Alves)
No dia seguinte o piloto Tito toca o sino — hora do café da manhã e da continuação da viagem. Momento de entrar em ação o experiente guia Josué, cuja avó é índia da etnia tucana com avô japonês. Alternando inglês, italiano e português, ele conduz uma imersão na floresta e seus mistérios, com as muitas práticas de sobrevivência legadas pelos índios. Tudo isso durante a caminhada de quatro horas selva adentro, quando Josué exibe várias técnicas com seu indispensável facão, como retirar água para beber de um cipó, justamente chamado cipó d’água; mostrar como se faz uma lança com a paxiúba-barriguda e fazer fogo com paina da palmeira inajá e breu preto, além de retirar a seiva da seringueira, escorrê-la numa folha e imediatamente transformá-la em borracha com a fumaça da paina.
Josué também apresenta uma gigantesca samaúma, árvore que simboliza a força da natureza do alto dos seus 40 metros e, por isso, é sagrada para os índios, pois para eles transmite a vida. Encerrando a caminhada, a típica e forte chuva tropical no cair da tarde ameniza o calor e alegra o trajeto de volta ao barco.
À noite, Josué leva os passageiros numa lancha voadeira para a tradicional e turística focagem de jacarés. Depois de se aproximar com o motor da lancha desligado e agarrar o bicho com as mãos, faz uma longa explanação sobre suas características e hábitos, convidando os mais corajosos a segurá-lo. E então revela que os olhos do jacaré refletem a luz da lanterna como uma faísca, fagulha instantânea que só a visão treinada de Josué percebe. (Colaborou Mauro Marcelo Alves)
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Árvore emblemática
(foto: Juliana A. Saad/Esp. CB)
A próxima parada do Jacaré-Açu é junto à comunidade
ribeirinha de Cachoeira, no Rio Jaú. Lá, Sibá, líder local chamado pelos
moradores de “presidente”, nos leva até sua casa, rio acima, onde há um tanque
com cerca de 300 tartaruguinhas que fazem parte do Projeto Quelônios,
iniciativa da Expedição Katerre. Elas desovam numa praia em frente à casa de
Sibá, no período de seca, e os ovos são recolhidos para que não sofram a ação
de predadores naturais.
Subimos em barcos chamados voadeiras e seguimos em um dos braços do Jaú, até o local conhecido como Ilha dos macacos Bicó, do gênero Uacar. Descemos em um trecho da margem e então começa a cena das tartaruguinhas se dirigindo instintivamente para a água — um momento bonito de presenciar. De volta à terra, vemos como é produzida a farinha d’água, obtida a partir da mandioca brava plantada na comunidade, mexida e torrada em grandes bacias sobre o fogo.
Ao lado, imensas castanheiras atiçam nossa curiosidade sobre essa árvore emblemática da Amazônia. O fruto, uma noz grande e dura que, ao ser rompida, revela uma série de castanhas perfeitamente enfileiradas em seu interior. Conhecidas no restante do Brasil como castanha-do-pará, há uma iniciativa para que sejam oficialmente designadas como Castanha da Amazônia.
Subimos em barcos chamados voadeiras e seguimos em um dos braços do Jaú, até o local conhecido como Ilha dos macacos Bicó, do gênero Uacar. Descemos em um trecho da margem e então começa a cena das tartaruguinhas se dirigindo instintivamente para a água — um momento bonito de presenciar. De volta à terra, vemos como é produzida a farinha d’água, obtida a partir da mandioca brava plantada na comunidade, mexida e torrada em grandes bacias sobre o fogo.
Ao lado, imensas castanheiras atiçam nossa curiosidade sobre essa árvore emblemática da Amazônia. O fruto, uma noz grande e dura que, ao ser rompida, revela uma série de castanhas perfeitamente enfileiradas em seu interior. Conhecidas no restante do Brasil como castanha-do-pará, há uma iniciativa para que sejam oficialmente designadas como Castanha da Amazônia.
TOMADO DE CORREIO BRASILIENSE
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