Epidemia 'inflaciona'
preço da água mineral em Alagoas
Ricardo Rodrigues, colaboração para a folha, em palmeira dos
índios
Em meio à pior seca dos últimos 50 anos, moradores de
Palmeira dos Índios (AL) viram a pouca água à qual têm acesso se transformar na
principal suspeita por um epidemia de diarreia que já matou 50 pessoas no
Estado.
Com medo, habitantes da cidade mais afetada trocaram a água
de poços e de carros-pipa pela mineral, vendida a R$ 8 o galão de 20 litros
--antes da crise, custava R$ 6.
"A gente deixa de comprar pão para comprar água com
medo de morrer", diz a dona de casa Marili de Oliveira, 47.
Neste ano, mais de 80 mil pessoas tiveram a doença no
Estado. No ano passado inteiro, foram 45.633 --a Secretaria de Saúde não soube
informar o total de mortes de 2012.
Em Palmeira dos Índios, 8.583 dos 70.738 habitantes (12%)
tiveram a doença. Onze morreram. "A água das torneiras é tão barrenta que
a gente precisa coar e ferver", diz Getúlio da Silva, 62. A sogra dele,
Maria Felizmina de Jesus, que tinha 101 anos, morreu vítima da doença no dia
14.
De acordo com a prefeitura, idosos e crianças são as
principais vítimas da diarreia.
Ricardo
Rodrigues/Folhapress
No auge da epidemia, no início do mês, o hospital da cidade
lembrava uma unidade de campanha de guerra, dizem funcionários. Foi preciso
pedir macas emprestadas, improvisar enfermarias e acomodar pacientes em
corredores.
"Nunca tinha visto tantas mortes assim por
diarreia", diz Eduardo Arruda, diretor-médico do Hospital Santa Rita
Segundo médicos, após uma seca prolongada, as primeiras
chuvas podem levar sujeira a reservatórios e causar doenças. Parte da água de
carros-pipa é retirada de poços.
As condições de saneamento no município também podem ter
contribuído. Segundo o IBGE, só 6% dos domicílios têm ligação com rede de
esgoto ou pluvial. "Surto de diarreia como este é coisa do século
passado", diz Roberto Sangueiro, provedor do hospital.
Os moradores lembram que a cidade foi administrada pelo
escritor Graciliano Ramos (1892-1953), que instituiu um Código de Posturas em
1928. Um das regras proibia que os moradores jogassem "águas
servidas" nas ruas.
A epidemia de diarreia em Alagoas é investigada pelo Ministério
Público do Estado.
A Companhia Abastecimento de Água e Saneamento de Alagoas e
o comando do Exército no Estado, que coordenam a distribuição dos carros-pipa,
negam a contaminação da água que abastece as cidades atingidas.
O governo prometeu distribuir filtros caseiros para
moradores. A prefeitura diz que faz limpeza em poços e cisternas para combater
a epidemia.
Tomado de folhia de san pablo br
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