Covid-19: Um a cada 10 pacientes graves tem anticorpos que facilitam ação do vírus
Fenômeno ocorre em mais de 10% dos pacientes acometidos pela
forma grave da doença. Segundo cientistas, essas pessoas desenvolvem anticorpos
que impedem a ação de genes reguladores das respostas imunológicas. A falha é
mais comum em homens
Paloma Oliveto
(crédito: AFP / ERNESTO BENAVIDES)
Dois estudos publicados na revista Science apontam
que a severidade da covid-19 pode estar ligada ao
comprometimento de genes produtores de interferon tipo 1 (IFN-1), grupo de 17
proteínas que regulam a atividade do sistema imunológico. Com base em uma
extensa pesquisa genética, os autores concluíram que mais de 10% dos pacientes
que desenvolvem a forma grave da doença têm autoanticorpos contra o IFN-1. Isso
significa que o organismo dessas pessoas fabrica anticorpos que destroem o
interferon tipo 1. Na presença do Sars-CoV-2, em vez de atacar o vírus, o corpo
volta-se contra as proteínas protetoras.
Outros 3,5% dos pacientes graves carregam mutações genéticas
específicas que diminuem a produção do IFNs-I ou induzem uma resposta
inadequada a ele. De acordo com os autores, de diversas instituições de
pesquisa, as descobertas ajudam a explicar por que algumas pessoas sem
comorbidades desenvolvem uma doença muito mais severa do que outras da mesma
faixa etária. Além disso, podem oferecer uma justificativa molecular de por que
mais homens morrem de covid-19 do que mulheres, pois as variantes são mais
comuns no sexo masculino.
Os dois artigos são fruto do consórcio global Covid Human
Genetic Effort, que inclui cientistas de mais de 50 centros de sequenciamento
genômico e é liderado por Helen Su, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças
Infecciosas dos EUA (Niaid), e por Jean-Laurent Casanova, da Universidade
Rockfeller. Desde o início da pandemia, estudos sugerem uma ligação dessas
proteínas com as formas severas da doença, embora esse seja o primeiro a fazer
uma investigação genética que comprova a associação. Doenças autoimunes, quando
o organismo produz autoanticorpos, como lúpus e artrite reumatoide, são
tratadas com interferons sintéticos, fabricados em laboratório.
Casanova conta que o estudo começou ainda em fevereiro.
Naquele mês, o pesquisador e outros colegas de instituições parceiras
procuravam jovens com formas graves da doença para estudar se esses pacientes
tinham alguma alteração no sistema imunológico que os tornava especialmente
vulneráveis ao vírus. A ideia era escanear os genomas dessas pessoas — em
particular, um conjunto de 13 genes envolvidos na imunidade ao interferon
contra a gripe. Em indivíduos saudáveis, as moléculas de interferon detectam
vírus e bactérias e orquestram o ataque recrutando outras estruturas de defesa
do organismo.
A equipe de Casanova já havia descoberto mutações genéticas
que impedem a produção e o funcionamento adequado do interferon. Pessoas com
estas alterações são mais vulneráveis a certos patógenos, incluindo os que
causam a gripe. “Encontrar mutações semelhantes em pessoas com covid-19 poderia
ajudar os médicos a identificarem pacientes em risco de desenvolver formas
graves da doença, além de apontar novas direções para o tratamento”, diz o
pesquisador.
Guinada
Em março, o estudo adquiriu um novo viés, quando os
cientistas observaram uma relação entre as alterações genéticas associadas à
produção do interferon tipo 1 e a gravidade da infecção por Sars-CoV-2,
independentemente da idade do paciente. Foi, então, que a equipe internacional
de cientistas começou a realizar as pesquisas descritas na Science.
O primeiro artigo publicado utilizou amostras de mais de 650
pacientes de covid-19 com pneumonia grave e correndo risco de morte. Desses,
14% morreram. Também foram incluídos exames de 530 pacientes assintomáticos, ou
com a forma branda da doença. Mais de 10% das pessoas do primeiro grupo
apresentavam anomalias nos 13 genes que eram o foco de Casanova.
Independentemente da idade, as pessoas com essas variantes apresentam maior
risco de desenvolver covid-19 severa. Nelas, os cientistas observaram uma
produção muito pouco significativa de interferon tipo 1 na presença do
Sars-CoV-2, confirmando a associação entre as mutações, a baixa formação das
proteínas e a severidade da doença causada pelo coronavírus. Em 3,5% dos
pacientes graves, os pesquisadores detectaram a falta de um gene funcional. As
células imunes dessas pessoas sequer produzem IFN-1.
No segundo estudo, realizado com 987 pacientes de covid-19
grave, os cientistas encontraram altos níveis de anticorpos que atacam o
interferon tipo I — os autoanticorpos —, neutralizando o efeito desses
importantes antivirais. “Notavelmente, esses autoanticorpos são encontrados em
mais de 10% dos pacientes que desenvolvem pneumonia grave por infecção por
Sars-CoV-2”, aponta Clifton Dalgard, pesquisador da Universidade de Ciências de
Saúde de Bethesda e um dos autores do estudo. Por sua vez, os autoanticorpos
contra IFN tipo I estavam ausentes em 663 pacientes que desenvolveram uma forma
leve da doença e em 1,2 mil pessoas saudáveis.
Terapias
Segundo Dalgard, a produção dessas proteínas é,
provavelmente, uma indicação de outras alterações genéticas, que estão sendo
estudadas agora. “A presença dos autoanticorpos impede que os IFNs do tipo I
atuem contra o Sars-CoV-2, principalmente em homens”, diz o pesquisador. “Esses
pacientes podem se beneficiar da plasmaférese (remoção da parte líquida do
sangue contendo, em particular, glóbulos brancos e anticorpos)”, diz. Ele
também sugere que outros tratamentos capazes de reduzir a produção dos
autoanticorpos pelos linfócitos B podem ser viáveis, embora sejam necessários
mais estudos. “Além disso, esses resultados sugerem que pode ser necessário
rastrear a população em geral para detectar esses autoanticorpos como um
indicador potencial de prognóstico de covid-19 grave.”
De acordo com Jean-Laurent Casanova, da Universidade
Rockfeller, “os resultados apontam para certas intervenções médicas a serem
consideradas em uma pesquisa mais aprofundada”. O cientista lembra que já
existem dois tipos de interferons injetáveis para o tratamento de doenças como
hepatite viral crônica. Em Cuba, desde o início de março, o Centro de
Engenharia Genética e Biotecnologia usa o interferon alfa-2b (a proteína
sintetizada em laboratório) nos pacientes com covid-19. Porém, ainda não foram
publicados estudos sobre a eficácia do medicamento para essa indicação.
Já na Austrália, serão iniciados, em breve, estudos sobre a
utilização do interferon tipo 1 em baixa dosagem e oral para tratamento da
covid-19. Há duas semanas, a companhia australiana Amarillo Biosciences
anunciou a contratação do professor da Universidade da Austrália Ocidental
Manfred Beilharz para iniciar essas pesquisas. De acordo com Beilharz, testes
clínicos anteriores demonstraram que a versão sintética oral da proteína é
eficaz contra outros coronavírus, como H1N1 e Sars.
A ideia não é apenas utilizá-la em pacientes, mas, também,
como medida profilática em profissionais de saúde e grupo de risco. “A atual
pandemia da covid-19 requer opções de prevenção e tratamento com urgência. Na
província de Hubei, na China, foi realizado um estudo no qual mais de 2 mil
profissionais da área médica foram tratados com colírios de interferon orais,
como prevenção. Não houve relatos de covid-19 entre eles, enquanto nos
controles — outros 2 mil enfermeiros e médicos trabalhando na mesma província —
de 50% a 60% estavam infectados”, observou, em nota.
Efeito contrário com remédio para colesterol
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego,
relataram, recentemente, que as estatinas — medicamentos amplamente usados para
a redução do colesterol — estão associadas a um risco reduzido de desenvolver
covid-19 grave, bem como a tempos de recuperação mais rápidos. Agora, uma
segunda equipe da mesma instituição descobriu evidências que ajudam a explicar
o porquê: em resumo, remover o colesterol das membranas celulares impede que o
coronavírus entre nelas.
Uma molécula conhecida como ACE2 fica como uma maçaneta na
superfície externa de muitas células humanas, onde ajuda a regular e reduzir a
pressão arterial. A ACE2 pode ser afetada por estatinas prescritas e outros
medicamentos usados para doenças cardiovasculares. Mas, em janeiro, os
pesquisadores descobriram um novo papel para ela: o Sars-CoV-2 usa,
principalmente, esse receptor para entrar nas células pulmonares e estabelecer
infecções respiratórias.
“Quando confrontado com esse novo vírus no início da
pandemia, houve muita especulação em torno de certos medicamentos que afetam o
ACE2, incluindo as estatinas, e se eles podem influenciar o risco de covid-19”,
disse Lori Daniels, um dos autores do estudo. “Precisávamos confirmar se o uso
de estatinas tem impacto na gravidade da infecção por Sars-CoV-2 de uma pessoa
e determinar se era seguro para nossos pacientes continuarem com seus
medicamentos.”
Os pesquisadores descobriram que o uso de estatina antes da
internação hospitalar para covid-19 foi associado a uma redução de mais de 50%
no risco de desenvolver a forma grave da doença. Os pacientes com covid-19 que
estavam tomando estatinas antes da hospitalização também se recuperaram mais
rápido, comparados àqueles que não tomaram o medicamento para baixar o
colesterol. “As estatinas podem inibir especificamente a infecção por
Sars-CoV-2 por meio de seus conhecidos efeitos anti-inflamatórios e capacidades
de ligação. Isso pode potencialmente interromper a progressão do vírus”, diz
Lori.
Intracelular
Segundo os pesquisadores, o fenômeno pode ser explicado por
uma atividade intracelular. A atividade enzimática do gene CH25H produz uma
forma modificada de colesterol chamada 25-hidroxicolesterol (25HC). Por sua
vez, o 25HC ativa outra enzima, a ACAT, encontrada no interior das células do
retículo endoplasmático. ACAT, então, retira o colesterol acessível na membrana
da célula. É um processo que ocorre normalmente e ganha alta velocidade durante
algumas infecções virais.
A equipe investigou o que acontece com as células do pulmão
humano no laboratório com e sem tratamento com 25HC quando expostas ao
Sars-CoV-2. A adição dessa forma modificada de colesterol inibiu a capacidade
do vírus de entrar nas células, bloqueando a infecção quase completamente.
Enquanto o vírus usa o receptor ACE2 para, inicialmente, encaixar-se em uma
célula, o estudo sugere que o micro-organismo também precisa do colesterol
(normalmente encontrado nas membranas celulares) para se fundir e entrar no
núcleo celular. O 25HC retira muito desse colesterol da membrana, impedindo a
entrada do vírus.
TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE Covid-19: Um a cada 10
pacientes graves tem anticorpos que facilitam ação do vírus
Fenômeno ocorre em mais de 10% dos pacientes acometidos pela
forma grave da doença. Segundo cientistas, essas pessoas desenvolvem anticorpos
que impedem a ação de genes reguladores das respostas imunológicas. A falha é
mais comum em homens
Paloma Oliveto
(crédito: AFP / ERNESTO BENAVIDES)
Dois estudos publicados na revista Science apontam
que a severidade da covid-19 pode estar ligada ao
comprometimento de genes produtores de interferon tipo 1 (IFN-1), grupo de 17
proteínas que regulam a atividade do sistema imunológico. Com base em uma
extensa pesquisa genética, os autores concluíram que mais de 10% dos pacientes
que desenvolvem a forma grave da doença têm autoanticorpos contra o IFN-1. Isso
significa que o organismo dessas pessoas fabrica anticorpos que destroem o
interferon tipo 1. Na presença do Sars-CoV-2, em vez de atacar o vírus, o corpo
volta-se contra as proteínas protetoras.
Outros 3,5% dos pacientes graves carregam mutações genéticas
específicas que diminuem a produção do IFNs-I ou induzem uma resposta
inadequada a ele. De acordo com os autores, de diversas instituições de
pesquisa, as descobertas ajudam a explicar por que algumas pessoas sem
comorbidades desenvolvem uma doença muito mais severa do que outras da mesma
faixa etária. Além disso, podem oferecer uma justificativa molecular de por que
mais homens morrem de covid-19 do que mulheres, pois as variantes são mais
comuns no sexo masculino.
Os dois artigos são fruto do consórcio global Covid Human
Genetic Effort, que inclui cientistas de mais de 50 centros de sequenciamento
genômico e é liderado por Helen Su, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças
Infecciosas dos EUA (Niaid), e por Jean-Laurent Casanova, da Universidade
Rockfeller. Desde o início da pandemia, estudos sugerem uma ligação dessas
proteínas com as formas severas da doença, embora esse seja o primeiro a fazer
uma investigação genética que comprova a associação. Doenças autoimunes, quando
o organismo produz autoanticorpos, como lúpus e artrite reumatoide, são
tratadas com interferons sintéticos, fabricados em laboratório.
Casanova conta que o estudo começou ainda em fevereiro.
Naquele mês, o pesquisador e outros colegas de instituições parceiras
procuravam jovens com formas graves da doença para estudar se esses pacientes
tinham alguma alteração no sistema imunológico que os tornava especialmente
vulneráveis ao vírus. A ideia era escanear os genomas dessas pessoas — em
particular, um conjunto de 13 genes envolvidos na imunidade ao interferon
contra a gripe. Em indivíduos saudáveis, as moléculas de interferon detectam
vírus e bactérias e orquestram o ataque recrutando outras estruturas de defesa
do organismo.
A equipe de Casanova já havia descoberto mutações genéticas
que impedem a produção e o funcionamento adequado do interferon. Pessoas com
estas alterações são mais vulneráveis a certos patógenos, incluindo os que
causam a gripe. “Encontrar mutações semelhantes em pessoas com covid-19 poderia
ajudar os médicos a identificarem pacientes em risco de desenvolver formas
graves da doença, além de apontar novas direções para o tratamento”, diz o
pesquisador.
Guinada
Em março, o estudo adquiriu um novo viés, quando os
cientistas observaram uma relação entre as alterações genéticas associadas à
produção do interferon tipo 1 e a gravidade da infecção por Sars-CoV-2,
independentemente da idade do paciente. Foi, então, que a equipe internacional
de cientistas começou a realizar as pesquisas descritas na Science.
O primeiro artigo publicado utilizou amostras de mais de 650
pacientes de covid-19 com pneumonia grave e correndo risco de morte. Desses,
14% morreram. Também foram incluídos exames de 530 pacientes assintomáticos, ou
com a forma branda da doença. Mais de 10% das pessoas do primeiro grupo
apresentavam anomalias nos 13 genes que eram o foco de Casanova.
Independentemente da idade, as pessoas com essas variantes apresentam maior
risco de desenvolver covid-19 severa. Nelas, os cientistas observaram uma
produção muito pouco significativa de interferon tipo 1 na presença do
Sars-CoV-2, confirmando a associação entre as mutações, a baixa formação das
proteínas e a severidade da doença causada pelo coronavírus. Em 3,5% dos
pacientes graves, os pesquisadores detectaram a falta de um gene funcional. As
células imunes dessas pessoas sequer produzem IFN-1.
No segundo estudo, realizado com 987 pacientes de covid-19
grave, os cientistas encontraram altos níveis de anticorpos que atacam o
interferon tipo I — os autoanticorpos —, neutralizando o efeito desses
importantes antivirais. “Notavelmente, esses autoanticorpos são encontrados em
mais de 10% dos pacientes que desenvolvem pneumonia grave por infecção por
Sars-CoV-2”, aponta Clifton Dalgard, pesquisador da Universidade de Ciências de
Saúde de Bethesda e um dos autores do estudo. Por sua vez, os autoanticorpos
contra IFN tipo I estavam ausentes em 663 pacientes que desenvolveram uma forma
leve da doença e em 1,2 mil pessoas saudáveis.
Terapias
Segundo Dalgard, a produção dessas proteínas é,
provavelmente, uma indicação de outras alterações genéticas, que estão sendo
estudadas agora. “A presença dos autoanticorpos impede que os IFNs do tipo I
atuem contra o Sars-CoV-2, principalmente em homens”, diz o pesquisador. “Esses
pacientes podem se beneficiar da plasmaférese (remoção da parte líquida do
sangue contendo, em particular, glóbulos brancos e anticorpos)”, diz. Ele
também sugere que outros tratamentos capazes de reduzir a produção dos
autoanticorpos pelos linfócitos B podem ser viáveis, embora sejam necessários
mais estudos. “Além disso, esses resultados sugerem que pode ser necessário
rastrear a população em geral para detectar esses autoanticorpos como um
indicador potencial de prognóstico de covid-19 grave.”
De acordo com Jean-Laurent Casanova, da Universidade
Rockfeller, “os resultados apontam para certas intervenções médicas a serem
consideradas em uma pesquisa mais aprofundada”. O cientista lembra que já
existem dois tipos de interferons injetáveis para o tratamento de doenças como
hepatite viral crônica. Em Cuba, desde o início de março, o Centro de
Engenharia Genética e Biotecnologia usa o interferon alfa-2b (a proteína
sintetizada em laboratório) nos pacientes com covid-19. Porém, ainda não foram
publicados estudos sobre a eficácia do medicamento para essa indicação.
Já na Austrália, serão iniciados, em breve, estudos sobre a
utilização do interferon tipo 1 em baixa dosagem e oral para tratamento da
covid-19. Há duas semanas, a companhia australiana Amarillo Biosciences
anunciou a contratação do professor da Universidade da Austrália Ocidental
Manfred Beilharz para iniciar essas pesquisas. De acordo com Beilharz, testes
clínicos anteriores demonstraram que a versão sintética oral da proteína é
eficaz contra outros coronavírus, como H1N1 e Sars.
A ideia não é apenas utilizá-la em pacientes, mas, também,
como medida profilática em profissionais de saúde e grupo de risco. “A atual
pandemia da covid-19 requer opções de prevenção e tratamento com urgência. Na província
de Hubei, na China, foi realizado um estudo no qual mais de 2 mil profissionais
da área médica foram tratados com colírios de interferon orais, como prevenção.
Não houve relatos de covid-19 entre eles, enquanto nos controles — outros 2 mil
enfermeiros e médicos trabalhando na mesma província — de 50% a 60% estavam
infectados”, observou, em nota.
Efeito contrário com remédio para colesterol
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego,
relataram, recentemente, que as estatinas — medicamentos amplamente usados para
a redução do colesterol — estão associadas a um risco reduzido de desenvolver
covid-19 grave, bem como a tempos de recuperação mais rápidos. Agora, uma
segunda equipe da mesma instituição descobriu evidências que ajudam a explicar
o porquê: em resumo, remover o colesterol das membranas celulares impede que o
coronavírus entre nelas.
Uma molécula conhecida como ACE2 fica como uma maçaneta na
superfície externa de muitas células humanas, onde ajuda a regular e reduzir a
pressão arterial. A ACE2 pode ser afetada por estatinas prescritas e outros
medicamentos usados para doenças cardiovasculares. Mas, em janeiro, os pesquisadores
descobriram um novo papel para ela: o Sars-CoV-2 usa, principalmente, esse
receptor para entrar nas células pulmonares e estabelecer infecções
respiratórias.
“Quando confrontado com esse novo vírus no início da
pandemia, houve muita especulação em torno de certos medicamentos que afetam o
ACE2, incluindo as estatinas, e se eles podem influenciar o risco de covid-19”,
disse Lori Daniels, um dos autores do estudo. “Precisávamos confirmar se o uso
de estatinas tem impacto na gravidade da infecção por Sars-CoV-2 de uma pessoa
e determinar se era seguro para nossos pacientes continuarem com seus
medicamentos.”
Os pesquisadores descobriram que o uso de estatina antes da
internação hospitalar para covid-19 foi associado a uma redução de mais de 50%
no risco de desenvolver a forma grave da doença. Os pacientes com covid-19 que
estavam tomando estatinas antes da hospitalização também se recuperaram mais
rápido, comparados àqueles que não tomaram o medicamento para baixar o
colesterol. “As estatinas podem inibir especificamente a infecção por
Sars-CoV-2 por meio de seus conhecidos efeitos anti-inflamatórios e capacidades
de ligação. Isso pode potencialmente interromper a progressão do vírus”, diz
Lori.
Intracelular
Segundo os pesquisadores, o fenômeno pode ser explicado por
uma atividade intracelular. A atividade enzimática do gene CH25H produz uma
forma modificada de colesterol chamada 25-hidroxicolesterol (25HC). Por sua
vez, o 25HC ativa outra enzima, a ACAT, encontrada no interior das células do
retículo endoplasmático. ACAT, então, retira o colesterol acessível na membrana
da célula. É um processo que ocorre normalmente e ganha alta velocidade durante
algumas infecções virais.
A equipe investigou o que acontece com as células do pulmão
humano no laboratório com e sem tratamento com 25HC quando expostas ao
Sars-CoV-2. A adição dessa forma modificada de colesterol inibiu a capacidade
do vírus de entrar nas células, bloqueando a infecção quase completamente.
Enquanto o vírus usa o receptor ACE2 para, inicialmente, encaixar-se em uma
célula, o estudo sugere que o micro-organismo também precisa do colesterol
(normalmente encontrado nas membranas celulares) para se fundir e entrar no
núcleo celular. O 25HC retira muito desse colesterol da membrana, impedindo a
entrada do vírus.
TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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