Sete instituições católicas em todo o mundo
decidem retirar investimentos dos combustíveis fósseis
Diocese de Umuarama, no Paraná, é a primeira Diocese e a
primeira instituição da América Latina a aderir ao desinvestimento
GLOBAL -- Este 04 de outubro de 2016, Dia
de São Francisco de Assis, entrará para a história como a data em que a
Igreja Católica deu um grande passo na luta contra as mudanças
climáticas. Nada menos do que sete instituições católicas de peso ao
redor do mundo anunciaram globalmente sua adesão à campanha de
desinvestimento do setor de combustíveis fósseis. Trata-se do maior
anúncio conjunto feito pelo segmento religioso até o momento.
A Diocese Divino Espírito Santo de Umuarama, no
Estado do Paraná, no Brasil, se apresenta não só como a primeira
Diocese, mas também como a primeira instituição da América Latina a
aderir ao desinvestimento. Sua proposta é reduzir as emissões de gases
de efeito estufa, a fim de tornar-se uma Diocese de Baixo Carbono.
Além da Diocese de Umuarama, as outras seis
instituições que se comprometeram com o desinvestimento são: os Padres
Jesuítas do Alto Canadá; a Federação das Organizações Cristãs para o
Serviço Voluntário Internacional (FOCSIV), na Itália; a Congregação das
Irmãs de Apresentação de Maria da Austrália e Papua Nova Guiné; SSM
Saúde, nos Estados Unidos; a Sociedade Missionária de São Columbano,
baseada em Hong Kong e com presença em 14 países; e o Instituto das
Filhas de Maria Auxiliadora, em Milão e Nápoles, na Itália.
Os compromissos vão desde a retirada de
investimentos em carvão, como é o caso da instituição SSM de Saúde dos
Estados Unidos, até o redirecionamento dos fundos para energias limpas
e renováveis, como a FOCSIV anunciou.
A Diocese de Umuarama, uma das dezenas de instituições católicas que
integram a COESUS - Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e
Vida, se comprometeu a motivar seus fiéis a realizar uma vigília pelos
refugiados e impactados pelas mudanças climáticas, a apresentar aos
membros da Igreja propostas de ações para redução de atividades
poluentes ligadas aos hidrocarbonetos, além de conscientizá-los sobre
os impactos do aquecimento global e sobre a importância do incentivo às
fontes renováveis de energia.
Outras ações também estão previstas na proposta, como a elaboração, em
conjunto com a 350.org,
de um plano de eficiência energética, com autogeração de energia solar
e geração de biogás através de resíduos orgânicos, a ser implementado
nas edificações paroquiais e casas de formação; incentivo aos membros
da Diocese e à comunidade a repetir o modelo de eficiência energética
nas indústrias, comércios, escritórios e residências, visando a
independência energética e a redução de emissões de gases do efeito
estufa; e a formação e capacitação, por meio de workshops e
treinamentos, para membros da Diocese, a fim de que esta e outras
instituições católicas reduzam suas emissões de gás carbônico (CO2).
"Como Bispo da Diocese de Umuarama, em
comunhão com a Igreja Católica e atento aos apelos do Evangelho,
compreendo com clareza as mensagens do Papa Francisco através da Encíclica Laudato Si, que nos convoca ao cuidado da
Casa Comum por meio de iniciativas que defendam a vida como um todo.
Não podemos nos acomodar e seguir permitindo que interesses econômicos
que buscam o lucro antes do bem-estar das pessoas, destruindo a
biodiversidade e os ecossistemas, continuem ditando nosso modelo
energético, baseado nos combustíveis fósseis. Sabemos que o Brasil
conta com fontes abundantes de energias limpas e renováveis que não
agridem a nossa Casa Comum. Por isso, acredito que a proposta de tornar
a Diocese de Umuarama de baixo carbono é um dos caminhos práticos para
se alcançar o que propõe a Laudato Si", defende Dom Frei João
Mamede Filho, Bispo da Diocese de Umuarama.
Dom Mamede é colaborador da campanha Não Fracking Brasil, coordenada
pela 350.org Brasil e
pela COESUS, tendo participado de ações no Paraná e internacionalmente.
Recentemente, ele foi orador do evento 'Perigos do Fracking para a América Latina',
encontro que aconteceu em Montevidéu, no Uruguai, e onde ocorreu
o lançamento da Coalizão Latino-americana contra o
Fracking pela Água, Clima e Agricultura Sustentável. Em setembro ele
também esteve presente em um seminário organizado pela Diocese de Umuarama e Cáritas
Paraná, que reuniu especialistas, ambientalistas, climatologistas,
agentes da pastoral e gestores públicos para debater as mudanças
climáticas e justiça social.
"Como parte de um movimento global, não
vamos admitir que a indústria do hidrocarboneto continue a colocar em
risco as vidas de milhões de pessoas ao redor do mundo. Desinvestir dos
combustíveis fósseis é o único caminho para conter as mudanças
climáticas. Essa decisão conjunta é muito importante, pois mostra o
compromisso das comunidades católicas com a segurança do planeta.
Precisamos urgentemente diminuir as nossas emissões de CO2, e para
isso, é fundamental o incentivo ao crescimento das energias
renováveis", afirma Juliano Bueno de Araujo, coordenador de
campanhas climáticas da 350.org Brasil
e fundador da COESUS.
O movimento de desinvestimento dos
combustíveis fósseis foi reconhecido pelo Papa Francisco durante a mensagem enviada aos fiéis, no dia 01 de setembro
- Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação -, chamando-os a rezar pela criação. Em sua fala, ele
afirma que "a pressão social - que inclui o boicote a certos
produtos - pode forçar as empresas e o mercado a reverem sua pegada
climática e seus padrões de produção. Esta lógica anima o movimento de
desinvestimento dos combustíveis fósseis."
A campanha pelo desinvestimento dos combustíveis fósseis é
a que apresenta mais rápido crescimento na história, de acordo
com um relatório da Universidade de Oxford. Até esta
data, cerca de 600 instituições, que juntas somam mais de US$ 3,4
trilhões, já anunciaram globalmente seus compromissos. "Nós
celebramos o anúncio de hoje e esperamos que ele influencie pessoas de
todos os credos e inspire ainda mais instituições católicas, incluindo
o próprio Vaticano, a retirar seus fundos da indústria dos combustíveis
fósseis", reforçou Yossi Cadan, coordenador sênior da campanha do
desinvestimento da 350.org.
Segundo Tomás Insua, coordenador global do Movimento
Católico Global pelo Clima, o redirecionamento das políticas de
investimento anunciado pelas instituições católicas segue a orientação
emitida pelos bispos de todo o mundo. "Em uma poderosa declaração
no ano passado, todas as Conferências Episcopais do mundo fizeram um
apelo ao 'fim da era do combustível fóssil'", afirmou.
Contatos:
Nathália Clark, Coordenadora de Comunicação da 350.org Brasil e
América Latina - nathalia@350.org / +55
61 98160-5551
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