domingo, 2 de octubre de 2016

TRIGO EM RIO GRANDE DO SUL BRASIL

Rentabilidade da lavoura de trigo preocupa produtores gaúchos
Valores praticados em agosto e setembro estão abaixo do preço mínimo. Triticultores temem que a desvalorização do grão aumente até a colheita
Por: Bruna Karpinski Após dois anos de safras afetadas pelas intempéries do tempo no Rio Grande do Sul, a expectativa de maior produtividade do trigo neste ciclo, com condições climáticas favoráveis, pode resultar em frustração para o produtor gaúcha na hora da comercialização em razão da queda de valor do grão. A ampla oferta mundial e a previsão de colheita cheia na América Latina já impactam no preço do trigo, que no Estado registra queda de 17,6% nos últimos dois meses. Segundo levantamento diário feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), o preço médio caiu de R$ 844,29 a tonelada no início de agosto para R$ 695,13 no final de setembro. O levantamento considera valores informados por produtores e indústrias de Passo Fundo, Ijuí, Santa Rosa e Santa Maria.
Colheita do trigo começa oficialmente na segunda quinzena de outubro. Expectativa é produzir 2,4
milhões de toneladas
Foto: Diogo Zanatta / Especial
Para a analista de mercado do Cepea, Rafaela Moretti Vieira, a retração dos compradores, decorrente do maior volume de trigo importado do Mercosul, pressiona o preço para baixo. De janeiro a agosto de 2016, o Brasil importou 221,85 mil toneladas de trigo de Argentina, Paraguai e Uruguai - quase 8 mil toneladas a mais do que no mesmo período de 2015.
Presidente do Sindicato da Indústria de Trigo no Rio Grande do Sul (Sinditrigo-RS), Andreas Elter avalia que a safra de trigo do Estado será de "qualidade excepcional" e abastecerá quase a totalidade da demanda dos moinhos locais, que é de 1,4 milhão de toneladas. Sobre a importação da Argentina, esclarece que a decisão ocorre devido à qualidade necessária para atender à exigência do mercado.
No Rio Grande do Sul a colheita começa em meados de outubro e o grão que está sendo negociado ainda é da safra passada. Na região de Passo Fundo, os preços registraram queda de 20% em 30 dias. O valor da saca de 60 quilos caiu de R$ 45 há um mês para R$ 36 atualmente — abaixo do preço mínimo, que é de R$ 38,65 a saca — segundo a Emater. O agrônomo Claudio Doro, assistente técnico regional da Emater em Passo Fundo, comenta que o ideal seria os produtores conseguirem travar o preço para fazer contratos futuros. Mas reconhece que não há interesse.
— Os moinhos estão abastecidos, a tendência é cair mais o preço — avalia Doro.
Outros fatores contribuem para o cenário de desvalorização do produto, como os estoques mundiais, que chegam a 236 milhões de toneladas, e que serão ampliados com a entrada da safra de trigo da Argentina, que deve aumentar de 11 milhões de toneladas no ciclo passado para 14,4 milhões de toneladas neste ano. O avanço da colheita do Paraná, estimado em 3,3 milhões de toneladas, também influencia na queda dos preços.
Foto: Arte ZH / Arte ZH
Armazenagem para entressafra
Em razão da retração no valor, nesta safra a preocupação dos produtores é com a comercialização. Diante das dificuldades, o triticultor Cristiano Pierdoná, de Passo Fundo, que chegou a semear 550 hectares no final da década de 1990, viu sua área encolher ano a ano. Neste ciclo, plantou apenas 60 hectares — 40% a menos que no ano passado, quando cultivou 100 hectares. A expectativa é colher 60 sacas por hectare.
 Cristiano Pierdoná, de Passo Fundo, vem reduzindo a área de trigo e irá armazenar para vender grão na entressafra
Foto: Diogo Zanatta / Especial
Para receber mais pelo grão, a produção de 3,6 toneladas não será negociada logo após a colheita. Pierdoná aposta na retenção do trigo na propriedade.
— Dessa forma consigo vender o grão na entressafra — explica Pierdoná, que também armazena trigo para terceiros.
Na contramão da tendência de redução de plantio do cereal, a Fazenda Santo Isidoro, em Passo Fundo, que há quase cinco décadas destina o cultivo de trigo à produção de sementes, tem conseguido conservar o tamanho da lavoura.
— Nossa área de trigo se mantém sempre entre 700 e 900 hectares ao ano — relata o agrônomo Joacir Angelo Stedile, proprietário e responsável técnico da Fazenda Santo Isidoro.
Setor pede apoio do governo na comercialização
Para tratar do excesso de oferta de trigo e a consequente dificuldade de comercialização do grão, o presidente da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, solicitou reunião à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno, do Ministério da Agricultura. A ideia é sensibilizar o governo federal para que adote mecanismos de apoio à comercialização. A expectativa da entidade é que seja marcada uma audiência com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, no final de outubro, logo após o início da colheita no Estado.
 — A saída é ter qualidade para buscar oportunidades de negócio em torno do preço mínimo — recomenda Jardim.
 Os produtores ligados a cooperativas também estão apreensivos. O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires, diz que a situação é preocupante.
— Fala-se tanto em qualidade, principalmente após duas safras frustradas, e agora antes da colheita já temos problema de comercialização. Não podemos desistir da cultura — diz o dirigente.
Para tentar melhorar a rentabilidade dos triticultores gaúchos, a Fecoagro está desenvolvendo um projeto em parceria com a Embrapa Trigo, de Passo Fundo. Em áreas experimentais da Coopatrigo, de São Luiz Gonzaga, da Cotricampo, de Campo Novo, e da Coopibi, de Ibirairas, o objetivo é ampliar a produtividade e reduzir os custos de produção.
O agrônomo João Leonardo Fernandes Pires, pesquisador da Embrapa Trigo, explica que é possível reduzir o investimento em custeio sem penalizar o potencial produtivo usando menos fertilizantes, agrotóxicos e sementes — itens que representam 60% do custo de produção. Nas áreas experimentais, a expectativa é chegar a quatro toneladas por hectare. A médio e longo prazo, a intenção é destinar parte da produção gaúcha, que em anos normais tem excedente, a mercados menos exigentes, como países da África.
 Monitoramento para garantir qualidade
Em fase de floração, formação de espiga e enchimento de grão, as lavouras de trigo estão em período crítico, pois é nesta época que doenças oportunistas, como a ferrugem da folha e a giberela, podem surgir.
— Os produtores devem fazer o monitoramento pelo menos duas vezes por semana, mesmo com o tempo favorável — explica Claudio Doro, da Emater.
A incidência de bastante sol durante o dia e temperatura amena durante a noite, indicam que a safra gaúcha de trigo será de boa qualidade. A projeção da Emater é de que o Rio Grande do Sul colherá 2,4 milhões de toneladas, chegando a uma produtividade média de três mil quilos por hectare — o dobro da média das últimas duas safras.
Lavouras em bom desenvolvimento
Em Cachoeira do Sul, lavouras estão em fase de enchimento de grão e maturação, com bom potencial produtivo. A colheita vai iniciar na primeira quinzena de outubro. Segundo o agrônomo Dirceu Nöller, da Emater de Cachoeira do Sul, a expectativa de produtividade média é de 50 sacas por hectare. Bruna Karpinski
As plantações de trigo estão com boa evolução em todo o Estado. Em Cachoeira do Sul (foto), as plantas estão em fase de enchimento de grão e maturação. A colheita começa neste mês, com expectativa de alcançar média de 50 sacas por hectare. TOMADO DE ZERO HORA DE RGS BR 

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