Governo teme falta de
combustível no país ainda neste ano
RENATA AGOSTINI
DIMMI AMORA
Algumas regiões do país estão sob ameaça de ficar sem combustível no
fim deste ano.
Importação de gasolina pode chegar a 20%
Para evitar o desabastecimento, ou atenuá-lo, o governo federal já
começou a traçar um plano de emergência, que envolve a ampliação da capacidade
de transporte e de armazenamento.
As reuniões tiveram início em outubro, com técnicos do Ministério de
Minas e Energia, Agência Nacional do Petróleo, Petrobras e representantes das
distribuidoras e dos produtores de etanol.
"Há uma grande preocupação com o curto prazo. O governo já sabe
que será preciso um forte ajuste entre Petrobras e distribuidoras para que não
ocorram problemas no fim do ano", diz Antônio de Pádua Rodrigues,
presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), que participa das
reuniões.
Segundo avaliação do grupo, as regiões mais ameaçadas são o Norte, o
Nordeste e o Centro-Oeste, além de Minas e Rio Grande do Sul.
A perspectiva de colapso se deve a três fatores: 1) o consumo recorde
de gasolina, que, em 2012, pela primeira vez passará de 30 bilhões de litros;
2) a falta de capacidade interna de produção; e 3) problemas de infraestrutura
de armazenagem e distribuição.
No fim do ano esse problema se agrava porque, historicamente, o consumo
nos meses de novembro e dezembro é cerca de 10% superior à média registrada nos
bimestres anteriores.
Para acompanhar a alta da demanda interna, a Petrobras vem importando
cada vez mais gasolina. Até setembro, foram 2,4 bilhões de litros, quase o
triplo do registrado no mesmo período de 2011, segundo cálculos do Centro
Brasileiro de Infraestrutura.
A importação torna a distribuição mais complexa. O transporte da
gasolina por navios, já sujeito a intempéries, sofre com a falta de
infraestrutura dos portos, hoje sem espaço para atracação e armazenamentos.
PELO MAR
Pará, Amapá, Maranhão, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte são os
Estados mais vulneráveis. Quase todo o combustível que abastece os consumidores
desses locais chega pelo mar.
Em outubro, o Amapá ficou sem gasolina. O Sindicato dos Caminhoneiros
Autônomos do Pará relata que houve, também, problemas de abastecimento em
Belém, além de cidades do Amazonas e do Piauí.
"A coisa está bem torta aqui", diz Eurico Santos, presidente
da entidade.
Para o sindicato, o número de caminhões-tanque não deu conta do aumento
rápido do consumo. Além disso, os terminais que recebem combustível reduziram
investimentos em ampliação porque estão com contratos provisórios, o que
dificulta o acesso ao crédito.
PRODUÇÃO
A Petrobras se empenha para produzir mais gasolina e amenizar o
problema. Na apresentação dos resultados do terceiro trimestre, afirmou que
suas refinarias já atingiram 98% da capacidade.
Em algumas regiões, no entanto, já há um esgotamento da capacidade de
produção.
É o caso da Regap, refinaria em Betim (MG). Para abastecer os postos de
parte de Minas Gerais e do Centro-Oeste, ela passou a redistribuir combustível
de outras unidades. Atrasos e a falta de caminhões podem levar a interrupções
da distribuição.
O mesmo acontece no Rio Grande do Sul, outro Estado que teve crise de
abastecimento no mês passado. A refinaria Refap, em Canoas, está com problemas
de produção para atender à gasolina demandada. Com isso, passou a buscar
combustível no Paraná e parte precisou ser importada, entrando no país via
porto do Rio Grande.
O Sindicom (Sindicato dos Distribuidores de Combustíveis), que tem
assento nas reuniões com o governo federal, informou que o plano de
contingência deverá ampliar o número de caminhões e a capacidade dos tanques de
armazenagem.
Os encontros entre governo e o setor serão permanentes até o fim do
ano. "Estamos nos empenhando para evitar os problemas", disse Alísio
Vaz, presidente do Sindicom.
Procurada pela Folha, a Petrobras afirmou que não iria comentar a
questão. O Ministério de Minas e Energia foi procurado no fim da tarde de
quinta-feira e, até o fechamento desta edição, não havia dado resposta.
Tomado de Folha de san Pablo br
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