Em 2017, 21 mil pessoas saíram do Brasil para tentar a vida
no exterior
Segundo especialistas, o motivo é a falta de perspectiva
econômica e política no país. Número c
resceu mais de 160% nos últimos seis anos
Bruno Santa Rita*
Arquivo Pessoal
O momento conturbado na política e na economia fez com que
mais brasileiros passassem a olhar com interesse a possibilidade de morar e
trabalhar no exterior. Segundo a Receita Federal, o número de declarações de
saída definitiva do país, que foi de 8.170 em 2011, saltou para 14.612 em 2015
e chegou a 20.493 em 2016. Em 2017, o total chegou a pouco mais de 21,2 mil —
um aumento de 160% num espaço de seis anos. Para analistas, a falta de
perspectiva econômica e as tensões sociais são os principais fatores que têm
levado as pessoas a deixar o Brasil. E os dados da Receita, obtidos a partir
das declarações de Imposto de Renda, mostram que esse movimento tem crescido
entre os profissionais de maior qualificação.
“Um dos motivos para
me mudar foi a incerteza em relação ao futuro do Brasil”, diz o analista de
sistemas André Erthal, 41 anos, que foi morar em Vancouver, no Canadá, no
início de 2017. André tinha uma vida que considerava “muito confortável” em
Manaus, onde morava com a mulher e a filha de sete anos. Entretanto, a falta de
perspectivas para o futuro, a escalada da violência no país e a oportunidade de
oferecer, no exterior, uma educação de qualidade para a filha o convenceram a emigrar.
Antes da mudança, André era diretor executivo do Instituto
de Desenvolvimento Tecnológico (INDT), com escritórios em Manaus, Brasília e
Recife. Nascido no Rio de Janeiro, ele morava em Manaus desde 2004, quando
recebeu o convite para trabalhar na empresa. “O trabalho não foi um fator que
motivou a saída do Brasil. Eu estava bem empregado”, explica.
Conseguir emprego no Canadá não foi problema, diz André.
Após duas semanas de busca, recebeu uma oferta no fim de maio, quando a
permissão para trabalhar ficou pronta. “Existe muita demanda para profissionais
especializados, especialmente em tecnologia da informação”, afirma. Hoje, ele
trabalha para o Digitalist Group no desenvolvimento de soluções de tecnologia
para diversas áreas e mercados.
O professor de economia da Universidade de Brasília Carlos
Alberto Ramos explica que os motivos que levam as pessoas a deixar o Brasil são
variados, mas o mais significativo é a expectativa das pessoas sobre o país.
“Uma pessoa emigra considerando as perspectivas da economia. Se você não espera
que o Brasil progrida, vai embora”, diz. Embora considere que o número total de
pessoas que deixam o país não é muito expressivo, Ramos observa que os dados da
Receita Federal, baseados nas declarações de Imposto de Renda, mostram que a
evasão está aumentando entre profissionais com maior qualificação. “Se você
está pegando os dados da Receita Federal, as pessoas que você está monitorando
são qualificadas”, frisou.
O analista de sistemas Roberto Soares, 35, deixou Brasília
por não se sentir seguro. “Não poder sair de casa e viver com medo de ser
assaltado ou ter a casa invadida sempre me preocupou muito”, conta. Ele já
havia passado pelo Canadá duas vezes antes de se mudar, em maio de 2017, e diz
que sempre teve muita simpatia pela cultura canadense. Atualmente, Roberto
trabalha com cloud computing (armazenamento de dados na internet) na Azzurra,
uma empresa de marketing digital. O processo de mudança foi bem longo e
trabalhoso, mas valeu a pena. “Se precisasse, eu faria de novo”, afirma. Bruno
Ottoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio
Vargas (Ibre-FGV), aponta a situação ruim do mercado de trabalho no Brasil como
um dos motivos da migração de profissionais. Mesmo com a recuperação lenta e
gradual da economia, muita gente que perdeu o emprego formal não está
conseguindo encontrar ocupação semelhante. “O mercado formal não está se
recuperando muito bem. Muitos empregos nessa área foram eliminados”, observa.
O brasileiro, quando comparado com imigrantes de outros
países, sofre menos com desemprego nos Estados Unidos (EUA), segundo a pesquisa
mais recente realizada pelo Ministério das Relações Exteriores, em 2014. De
acordo com os dados, são mais de um milhão de brasileiros que moram no país
norte-americano. Segundo um estudo recentemente publicado pela Forbes, o número
de imigrantes procurando emprego nos EUA cresceu de 30% em 2016 para 37% em
2017.
Para o CEO da Morar EUA, Roberto Spighel, mudar-se para os
Estados Unidos é atrativo para o brasileiro, uma vez que, em algumas regiões,
como na Flórida, o clima e o fuso são semelhantes aos do Brasil.
“Independentemente da forma de emprego, a cultura do país, principalmente na
Flórida, é parecida com a do Brasil”, explica. Além disso, Spighel explica que
os brasileiros encontram muita segurança e uma perspectiva de vida mais
estável.
“A grande mudança é a procura de brasileiros para empreender
nos EUA”, revela. Segundo ele, muitos brasileiros com um capital médio procuram
o país norte-americano para consolidar novas formas de empreendimento. Essas
pessoas chegam a ter a renda média anual de US$ 48.707 a US$ 75.632.
Volta às terras lusitanas
Segundo Alice Autran Garcia, diretora de Comunicação da
Athena Advisers, uma corretora de imóveis especializada que atua em vários
países, os brasileiros representam a maior parte dos clientes da empresa em
Portugal. O governo português concede automaticamente o “Golden Visa”
(Autorização de Residência Para Atividade de Investimento) a qualquer pessoa que
compre no país um imóvel com valor mínimo de 500 mil euros. Ao final de cinco
anos, o visto de residência temporária garante a cidadania europeia. “Quando
você faz um investimento de 500 mil euros, você ganha esse visto e depois se
torna cidadão”, explica.
Os dados da pesquisa da Athena Advisers mostram um aumento
de 222%, entre março de 2016 e outubro de 2017, nos pedidos de brasileiros para
obtenção do Golden Visa português. Logo atrás vêm sul-africanos, com 160%, e
libaneses, com 116%. Alice explica que os brasileiros que estão indo para
Portugal são, na maioria, pessoas financeiramente bem-sucedidas. “Portugal
experimenta uma leva de brasileiros com características muito diferentes dos
que vieram antes. São pessoas com uma bagagem intelectual maior, normalmente
investidores”, afirma. (BSR)
*Estagiário sob a supervisão de Paulo de Tarso Lyra TOMADO
DE EL CORREIO BRAZILIESE
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