Eficácia da vacina anti-HIV depende do tipo de vírus, aponta
pesquisa
Testada em sul-africanos, fórmula tem taxa de proteção de
51,9%. Em tailandeses, o índice tinha sido de 36,4%. Para especialistas, o
resultado sinaliza que as imunizações promissoras terão que considerar o tipo
de vírus circulante em cada região
VS Vilhena Soares
(foto: Amaro Jr./CB/D.A Press)
Um dos maiores desafios médicos da atualidade é encontrar
uma vacina para o HIV. Essa tarefa, porém, envolve muitos obstáculos devido à
complexidade dessa infecção e a características do vírus. Um grupo
internacional de cientistas acaba de se aproximar desse objetivo. Eles testaram
uma fórmula protetiva em um grupo de sul-africanos e obtiveram respostas imunes
extremamente positivas — 51,9% de eficácia de proteção. Detalhes da pesquisa
foram apresentados na última edição da revista Science Translational Medicine.
A vacina, chamada de RV144, havia sido testada na Tailândia,
mas os resultados foram menores: 36,4%. Segundo os cientistas, ainda não estava
totalmente claro se a fórmula poderia trazer benefícios para pessoas que vivem
em regiões como a África do Sul, onde existem diferentes tipos de HIV. “O
importante era que a vacina induzisse as respostas imunológicas de forma tão
boa quanto, ou então melhor, do que nos participantes tailandeses. Também seria
importante que o sexo, a idade e a obesidade não impactassem essas respostas
imunes”, conta ao Correio Glenda Grey, presidente do Conselho de Pesquisa
Médica da África do Sul e uma das autoras do estudo, que também contou com a
participação de cientistas americanos.
No estudo atual, os pesquisadores compararam os dados
imunológicos da pesquisa feita na Tailândia com os de 100 sul-africanos que
também receberam a imunização experimental. Nenhum dos participantes, em ambos
os casos, haviam sido infectados pelo HIV.
Surpreendentemente, a equipe descobriu que a RV144 estimulou
respostas imunológicas mais fortes nos sul-africanos, sendo também bem
tolerada. A vacina provocou respostas de células de defesa CD4 + e anticorpos
anti-HIV. “Os vacinados sul-africanos exibiram respostas imunes celulares e de
anticorpos significativamente mais altas do que os tailandeses.
Independentemente do sexo e da idade, as respostas das células-T CD4 foram
impressionantes”, frisa a autora.
Os pesquisadores também ressaltam que as respostas de
anticorpos ocorreram em tipos de HIV distintos: A, E e B — na Tailândia, os testes foram feitos apenas
no subtipo C do vírus. “Isso reforça a ideia de que cada região do mundo
precisa de um tipo separado de vacina contra o HIV com base em suas cepas
circulantes”, declara, em comunicado, Larry Corey, pesquisador principal do
estudo e integrante do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul.
Considerando a alta taxa de obesidade na África do Sul, os
pesquisadores também observaram se as respostas à imunização mudariam em
indivíduos com excesso de peso, mas não encontraram diferenças significativas.
Com base nesses dados, a equipe acredita que será mais fácil desenvolver uma
vacina com melhor desempenho. “Esse é um estudo precursor. Ele vai no orientar
no desenvolvimento de uma vacina totalmente eficaz”, ressalta Glenda Grey.
Genética Werciley
Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital
Santa Lúcia, em Brasília, acredita que o estudo internacional mostra dados
extremamente animadores. “Vemos, nesse trabalho, que esse modelo de prevenção
da doença obteve um resultado bem expressivo, com basicamente 60% de eficácia
de proteção. É o que temos hoje de mais moderno em relação a formas preventivas
para o HIV”, frisa.
Para o especialista brasileiro, a diferença de resultados
positivos entre os dois países se justifica por distinções genéticas e também
pelos subtipos do HIV. “Na África do Sul, por ser um local em que a incidência
da doença é mais alta e sua circulação também, há um número maior de variantes.
Aqui no Brasil, também temos essa distinção. Algumas regiões têm mais o C e, em
outras, o B e o C são predominantes. Cada uma tem sua característica, o que
torna esse processo de estimulação de anticorpos ainda mais complexo”, analisa.
Os autores adiantam que mais estudos estão em andamento
também na África do Sul, na tentativa de entender melhor os efeitos da vacina
RV144. A fórmula tem sido usada como base para estudos científicos há 10 anos.
“Desde 2009, o campo de pesquisa de vacinas contra o HIV tem se baseado em
RV144 para desenvolver melhorias em sua amplitude e duração, a fim de proteger
mais pessoas por períodos mais longos de tempo”, comenta Julie Ake, diretora
adjunta principal do Programa Militar de Pesquisa em HIV (MHRP), dos Estados
Unidos. Segundo Glenda Grey, existem três estudos de eficácia da vacina contra
o HIV em andamento. “Esperamos resultados até 2021, 2022 para ver se nossa
abordagem funcionou, se nossa estratégia de vacina foi a correta”, diz.Continua
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Para o infectologista Werciley Júnior, as próximas pesquisas
com a fórmula devem englobar uma análise mais heterogênea. “Nesse estudo na
África do Sul, foram analisadas pessoas com fatores genéticos parecidos, todos
são negros. Seria interessante analisar em mestiços e em outras cidades, por
exemplo, para saber a realidade de cada população e a sua capacidade de gerar
anticorpos ao receber a vacina”, justifica.// TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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