Embora o controle da asma seja bastante eficaz, uma pesquisa
recente indicou que 73% dos pacientes não seguem todas as recomendações médicas
PO Paloma Oliveto
(foto: Adauto
Cruz/CB/D.A Press - 18/06/2008)
A morte prematura da escritora Fernanda Young, há uma
semana, surpreendeu muitas pessoas que, nas redes sociais, comentaram com
estranheza sobre a causa do falecimento: uma crise de asma. Afinal, essa é uma
doença comum, que afeta 235 milhões de indivíduos globalmente, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS). O que poucos sabem é que, todos os dias, de
três a seis brasileiros morrem em decorrência dessa condição crônica, a quarta
causa de internações no país. Boa parte desses óbitos poderia ser evitada caso
os pacientes não negligenciassem o tratamento.
Embora o controle da asma seja bastante eficaz, uma pesquisa
recente, que contou com participação da Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia (Asbai), indicou que 73% dos pacientes não seguem todas as
recomendações médicas, e 47% admitem não utilizar os medicamentos com
regularidade. As causas apontadas no estudo foram alto custo dos remédios e
dificuldade de encontrá-los na rede pública. Um reflexo da falta de adesão ao
tratamento é que 91% dos casos de asma no país não estão controlados.
Além das causas citadas na pesquisa, o pneumologista Paulo
Pitrez, presidente do Grupo Brasileiro de Asma Grave (BraSa) e coordenador
institucional de pesquisa do Hospital Moinhos do Vento, diz que a desinformação
é um dos entraves para a adesão aos medicamentos. “Quem tem pressão alta ou
diabetes precisa do tratamento contínuo. Com a asma alérgica ou não alérgica, é
o mesmo. Só que, culturalmente, as pessoas acham que não precisam usar os
remédios todos os dias”, afirma. Esquecer de usar os medicamentos, aceitar os
sintomas e medo dos efeitos colaterais são outros motivos apontados por Pitrez.
O tratamento padrão da doença é o corticoide inalatório
associado ao broncodilatador. Ao seguir corretamente as recomendações, os
pacientes se veem livres dos sintomas da doença, como tosse, chiado no peito e
falta de ar. Mas, segundo o pneumologista Roberto Stirbulov, chefe clínico da
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e professor da Faculdade
de Ciências Médicas da instituição, muita gente confunde corticoide inalatório
e oral. “O inalatório é extremamente seguro, com pouquíssimos efeitos
colaterais”, diz. A forma inalatória, que contém microgramas da substância, é a
prescrita para 90% dos pacientes que, de acordo com Stirbulov, não precisam se
preocupar em utilizar o remédio diariamente.
Essa, porém, não é a realidade de boa parte dos pacientes
que tem a forma grave da doença. A Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério
da Saúde estima que 5% deles se encaixam nesse perfil. Provavelmente devido a
uma alteração genética não hereditária, o tratamento convencional não surte
efeito e, mesmo utilizando doses altíssimas de corticoide oral — ele é 100
vezes mais forte que o inalatório — todos os dias, a doença permanece sem
controle.
Imunobiológicos
Nos últimos anos, esses pacientes têm sido beneficiados por
uma classe de medicamentos que também vêm sendo utilizados no tratamento de
outras doenças, os imunobiológicos. “Para o tratamento do processo inflamatório
que não responde adequadamente à terapêutica tradicional, uma nova classe de
medicamentos foi desenvolvida, os anticorpos monoclonais. Os anticorpos
sintetizados em laboratórios bloqueiam proteínas no corpo que estão envolvidas
na resposta inflamatória da asma, diminuindo essa inflamação e tendo um grande
impacto no tratamento da doença”, diz o médico Pedro Bianchi, membro do
Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia (Asbai).
O pneumologista Roberto Stirbulov explica que os anticorpos
monoclonais atuam de maneira precisa, tendo como alvo as substâncias que estão
no início da cascata inflamatória característica da asma. “Eles bloqueiam todo
o processo inflamatório, agindo em fatores específicos. É a medicina de
precisão”, afirma. De acordo com a médica Zuleid Mattar, presidente da
Associação Brasileira de Asmáticos de São Paulo (Abra-SP), no universo de
pacientes de asma grave (5% dos casos da doença no país), 3,6% podem se
beneficiar desse tratamento, por terem um perfil clínico e molecular ideal “A
asma não é uma única doença, então, fazemos hoje a fenotipagem para saber quem
são os candidatos”, conta.
O problema é o preço. No Brasil, há três medicamentos
imunobiológicos aprovados para asma e, segundo o presidente do BraSa, Paulo
Pitrez, uma dose custa de R$ 2,5 mil a R$ 12 mil. As aplicações, subcutâneas,
podem ser quinzenais, mensais ou bimestrais, dependendo do remédio e de cada
caso. “Os pacientes só conseguem acesso quando entram na Justiça”, lamenta.
Nenhum anticorpo monoclonal para tratamento da asma grave consta da lista de
medicamentos de alto custo do Sistema Único de Saúde.
“De três a seis pessoas morrem de asma diariamente no
Brasil, mas parece que ninguém enxerga isso, só quando acontece com uma
celebridade”, lamenta Zuleid Mattar. “É uma falta de sensibilidade muito
grande. A vida das pessoas que conseguem esse tratamento muda substancialmente.
Sem falar que uma única internação já paga o que se gastaria com um ano de
tratamento”, afirma. De acordo com a médica, o número de internações de
pacientes de asma grave é 20 vezes maior, considerando a população em geral. Os
médicos também ressaltam que o uso contínuo do corticoide oral — única opção
para quem tem asma grave e não tem acesso aos imunobiológicos — pode provocar o
surgimento de outras doenças crônicas, como diabetes, insuficiência renal e
osteoporose, entre outras. “Os imunobiológicos não são para todo mundo, são
para uma minoria, aqueles que podem morrer de uma doença tratável”, lamenta
Paulo Pitrez. //tomado de correio
brazilianse
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