O estudo mostra que apesar da leve tendência de queda desde setembro, o país ainda está em patamar elevado de casos e óbitos
Agência Brasil
(crédito: REUTERS/Amanda Perobelli/Direitos reservados)
O número de mortes por covid-19 pode permanecer alto nos
próximos meses, caso o cenário atual permaneça, de acordo com a edição especial
do Boletim Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada
hoje (16). O estudo mostra que apesar da leve tendência de queda desde
setembro, o país ainda está em patamar elevado de casos e óbitos.
O Boletim mostra que a curva da evolução de casos e óbitos
por covid-19 no Brasil apresentou, desde o início da pandemia, um padrão
diferente de outros países. Enquanto em países europeus, por exemplo, o número
de casos subiu rapidamente e, após atingir um pico, caiu vertiginosamente -
agora, a região passa por uma segunda onda de contaminação - no Brasil, a
subida foi mais lenta e a descida também está sendo, de acordo com o
vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da
Fiocruz, Christovam Barcellos.
"O que não significa que estamos livres da pandemia,
ela tende a diminuir em direção ao verão, mas ainda com número muito
alto", diz Barcellos. "A Europa está começando a viver o inverno. Nós
vamos começar a viver o verão, com números caindo, o que significa talvez que a
transmissão da covid-19 terá um pouco tendência sazonal: vai ser mais intensa
no inverno, como todas as gripes, e menos intensa no verão".
De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, o
Brasil registrava, até ontem (15), mais de 5,1 milhões de casos confirmados e
152 mil mortes por covid-19. "A permanência da pandemia nos próximos meses
pode acrescentar algumas dezenas de milhares de novos óbitos no país", diz
o Boletim da Fiocruz.
Cuidados
Barcellos ressalta que ainda não é possível descuidar das
medidas de combate ao vírus. "Muita gente tem que sair de casa, seja para
trabalhar, fazer compras, encontrar amigos. Devem, de qualquer maneira, evitar
aglomerações. Estudos têm mostrado que situações que têm muita transmissão são
lugares fechados, pessoas muito próximas, sem máscara", diz.
O sistema de saúde também deve seguir alerta. "Tem que
manter alguns leitos disponíveis nos hospitais e reforçar o que chamamos de
atenção primária de saúde, reforçar a estratégia de saúde da família, clínica
da família e vigilância em saúde, fazendo testes, identificando as pessoas com
os sintomas iniciais", acrescenta.
O estudo destaca a necessidade do fortalecimento do Sistema
Único de Saúde (SUS) e diz que a avaliação da capacidade instalada no país para
atender pacientes graves de covid-19 revelou as grandes desigualdades entre as
regiões e a forte concentração de recursos voltados para o setor de saúde
suplementar em áreas específicas.
De acordo com Barcellos, os cuidados não poderão ser
abandonados nem mesmo quando houver uma vacina. "Existem diversas doenças
circulando que têm vacina. Sarampo tem vacina, mas infelizmente tem surto
localizado de sarampo, ou porque as pessoas não vacinaram ou porque vacina não
funcionou 100%. Quase nenhuma vacina funciona 100%, toma e nunca mais vai
adoecer, isso não existe em quase nenhuma vacina", diz.
A vacina contra a covid-19, segundo a publicação, deve ser
considerada uma estratégia adicional e não ser entendida como única solução
para o enfrentamento da pandemia. É importante ainda o acesso universal à ela.
Populações vulneráveis
O boletim mostra que a maioria das vítimas da covid-19 são
os idosos, que representam 53,1% do total de casos e 75,2% dos óbitos até o
início deste mês, de acordo com dados do Sistema de Informação de Vigilância
Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe).
O impacto da pandemia nas favelas é mais acentuado que em
outras localidades. Os bairros com alta e altíssima concentração de favelas
apresentam maior letalidade, 19,47%, o dobro em relação aos bairros
considerados sem favelas, onde a letalidade do vírus é 9,23%.
Os dados mostram ainda que negros morrem mais que brancos,
eles representam 48,2% das mortes por covid-19, enquanto os brancos representam
31,12%.
Os povos indígenas são, de acordo com o boletim,
particularmente vulneráveis à covid-19 e às suas graves consequências, devido a
fatores históricos e socioeconômicos. A taxa da mortalidade entre
indígenas, dependendo da faixa etária, chega a ser até 150% maior do que a de
não indígenas.
Segundo dados disponibilizados pela Secretaria Especial de
Saúde Indígena (Sesai) as taxas de mortalidade por covid-19
são progressivamente mais elevadas a partir dos 50 anos nos indígenas, em
comparação à população geral. "Tal evidência alerta para os trágicos impactos
socioculturais da pandemia, visto que os indivíduos de mais idade são os
guardiões dos conhecimentos tradicionais, línguas e da memória das lutas
históricas desses povos", diz o estudo.
A edição especial do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz, disponível na
internet, traz uma análise dos mais de seis meses da pandemia. O estudo, que
foi realizado por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Fiocruz,
abrange os principais aspectos relacionados à covid-19, sejam esses sociais,
econômicos, estruturais ou epidemiológicos.
Tomadode correio brasiliense
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