Depois da idade, obesidade é o segundo maior fator de risco para pacientes com novo Coronavírus, observa o médico Luciano Lourenço
por Jéssica Gotlib
Coordenador do pronto socorro do Hospital Santa Lúcia,
Luciano Lourenço, explica que obesidade agravou casos de covid-19 até mesmo em
pacientes jovens e saudáveis - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Desde que o novo coronavírus se espalhou pelo mundo, médicos
e cientistas vêm tentando identificar padrões que expõem as pessoas ao risco de
desenvolver a forma mais grave da doença. E, associada à idade avançada, a
obesidade é a condição que mais coloca pacientes em risco.
Isso porque as duas condições, obesidade e infecção pela
covid-19, provocam um grave processo inflamatório generalizado no corpo,
como explicou em entrevista ao programa CB.Saúde — uma parceria do Correio com
a TV Brasília —, o clínico geral e coordenador do
pronto-socorro do Hospital Santa Lúcia, Luciano Lourenço.
"A obesidade é uma doença inflamatória que faz com que
o indivíduo, de forma geral, tenha inflamações crônicas. A infecção pelo
covid-19, que é um vírus, gera inflamações de uma forma muito exacerbada,
inflama o organismo como um todo", explicou o médico. Esta é a segunda vez
que o clínico geral participa do programa para falar sobre a covid-19.
Em entrevista anterior, Lourenço havia explicado que a demora
para buscar auxílio médico em casos simples foi um efeito colateral perigoso da
pandemia. Ele também ressaltou que o desencontro
de informações contribuiu para aumentar o número de mortes no país.
Problemas generalizados
Desta vez, Lourenço destacou que, apesar de o pulmão ser o
órgão mais prejudicado pelo novo coronavírus, outros sistemas do corpo também
são atingidos pela inflamação provocada pelo vírus e isso leva, inclusive, ao
aumento do número de mortes. "A gente observa que os obesos, as
pessoas que têm sobrepeso, por manterem um padrão inflamatório crônico, quando
recebem essa carga inflamatória pelo coronavírus tendem a ter a versão mais
grave da doença, têm internações mais prolongadas. Se a gente dá uma olhadinha
nos números, não só aqui no Brasil, mas fora do Brasil também, quando a gente
fala de óbitos, a associação entre obesidade e idade é, sem dúvida, o maior
percentual de óbitos que tivemos no mundo", ressaltou.
O médico explica que o coração acaba sendo bastante atingido
quando os dois quadros inflamatórios são combinados e, por isso, pacientes
obesos podem responder de maneira mais lenta aos tratamentos.
"Do ponto de vista do padrão infeccioso e inflamatório,
a covid-19 também tem uma inflamação generalizada e também tem sofrimento
renal, o sofrimento hepático, o intestino sofre muito, o coração sofre demais,
não só para inflamação nele, mas pela carga que ele recebe de fazer a
circulação acontecer num pulmão inflamado. Então, essa relação nessa parte do
coração que bombeia o sangue para o pulmão sofre muito com esses pacientes
obesos que já têm um padrão inflamatório maior, uma carga corpórea maior e uma
dificuldade, não só metabólica, mas também mecânica, de responder melhor às
terapias”, destacou.
Impacto em pacientes jovens
Além da associação com casos graves em pessoas mais velhas,
o impacto da obesidade associada à covid-19 em pacientes jovens e sem histórico
clínico de doenças precedentes também chama a atenção do médico. "A gente
vê pacientes jovens, sem nenhuma comorbidade do tipo diabetes, hipertensão,
asma, simplesmente com o sobrepeso, um grupo que a gente considera que não têm
um risco aumentado, apresentarem as versões mais graves da doença.
Então, realmente, a obesidade, o sobrepeso, o aumento de carga, gordura no
nosso organismo, é um fator que predispõe a infecções mais severas com
coronavírus", afirmou.
O médico exemplificou como esse quadro dificulta o
tratamento de pacientes, ainda que jovens e sem doenças pré-existentes, em
diversos aspectos. "No sentido mecânico, uma caixa torácica com uma massa
corpórea aumentada pelo excesso de gordura é mais difícil de ser expandida.
Então, na ventilação mecânica desse paciente, o ajuste, o acoplamento desse organismo,
com uma carga maior na ventilação mecânica é um pouquinho mais difícil. A gente
acaba tendo que usar pressões e volumes um pouco maiores para conseguir
expandir essa caixa torácica”, colocou.
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