Reduzir a poluição
evita 14 mil mortes por ano, diz pesquisa
As vidas seriam preservadas com a diminuição de partículas
atmosféricas poluentes e de gás ozônio, mostram cientistas dos EUA. Segundo o
trabalho inédito, homens e pessoas em dificuldades socioeconômicas estão entre
as principais vítimas
Paloma Oliveto Mark Ralston/AFP
Embora invisíveis,
elas são extremamente prejudiciais à saúde. Partículas poluentes muito finas,
como as contidas na poeira mineral e as decorrentes da queima de combustíveis
fósseis, podem até matar. No maior estudo já realizado sobre a associação entre
a poluição atmosférica e o risco de mortalidade precoce, pesquisadores da
Faculdade de Saúde Pública Harvard T. H. descobriram que reduzir os níveis de
alguns tipos de material particulado no ar pode salvar 12 mil vidas por ano. Da
mesma forma, baixar as emissões do gás ozônio evitaria 1,9 mil mortes
anualmente.
O estudo é
estatístico e não investigou a relação de causa e efeito. Contudo, diversas
pesquisas prévias demostraram que poluentes afetam o trato respiratório e
também podem impactar na saúde cardiovascular porque as partículas inaladas
entram na corrente sanguínea, desencadeando respostas inflamatórias e estresse
oxidativo. Entre as consequências, estão hipertensão, arritmias, aterosclerose
e formação de coágulos. Estudos também associam os níveis elevados de poluição
ao desenvolvimento de diabetes, independentemente de fatores genéticos (Leia
mais nesta página).
Apesar da robusta literatura científica a respeito, os
pesquisadores de Harvard decidiram visualizar o efeito dos poluentes em uma
grande amostra populacional. Para isso, a equipe de Francesca Dominici,
professora de bioestatísticas da instituição, avaliou dados de 60 milhões de
beneficiários do Medicare, o sistema de saúde norte-americano voltado aos
cidadãos com mais de 65 anos, referentes ao período de 2000 a 2012. Com base no
código postal de cada um deles, os cientistas conseguiram informações sobre a
qualidade do ar no local de residência e fizeram um modelo estatístico que
estimou o risco de morte associado à exposição ao gás ozônio e às partículas do
tipo PM 2,5.
O chamado material particulado (PM, em inglês) afeta mais o
organismo que qualquer outro poluente, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS). Ele é composto por sulfato, nitratos, amônia, carbono, poeira mineral,
clorito de sódio e água. Quanto menor a partícula, mais prejudicial: aquelas
com diâmetro inferior a 10 micrômetros podem penetrar mais profundamente os
pulmões e, entre as consequências, está o câncer nesse órgão, justamente o que
mais mata no mundo. Um micrômetro equivale à milésima parte do milímetro. No
estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, os autores se focaram
nas concentrações PM 2,5, ou seja, a quantidade de partículas com 2,5
micrômetros por metro cúbico de ar.
Resultado contundente
Os pesquisadores de Harvard descobriram que não é preciso
muito para as partículas se tornarem letais. Um aumento de apenas 10
micrômetros por metro cúbico dos poluentes PM 2,5 no ar elevou o risco de morte
precoce por todas as causas em 7,4%. Já o aumento de 10ppb (partes por milhão)
do gás ozônio foi responsável por 1,1% dos óbitos precoces, segundo os
cientistas. “No caso das partículas PM 2,5, esse risco é ainda maior entre
homens, negros e pessoas com baixo status socioeconômico. Provavelmente porque
vivem em áreas com pouco controle de qualidade ambiental”, observa Francesca
Dominici. “Esse é um estudo de poder estatístico sem precedentes por causa do
tamanho massivo da população analisada”, continua.
O oncologista Igor Morbeck, do Centro de Oncologia do
Hospital Sírio-Libanês em Brasília, concorda. “O artigo não deixa dúvidas sobre
a associação dos poluentes com a mortalidade precoce e mostra que, mesmo nos
limites menores (das partículas), os fatores de risco são fortes”, observa.
“Acredito que essa análise vai gerar várias outras. Nós precisamos entender
ainda qual seria o limite seguro e o tempo mínimo de exposição associado ao
risco de mortalidade. Existe uma estimativa de que os poluentes aumentem em
torno de 8% a 10% o risco de câncer de pulmão, mas esses dados não são tão
robustos, nem recentes”, exemplifica o médico, que é membro da Sociedade
Brasileira de Cancerologia (SBC) e da Associação Internacional para o Estudo do
Câncer de Pulmão (IASLC).
Francesca Dominici diz que os resultados trazem aplicações
práticas, que devem ser levadas em conta nas políticas públicas. “Nossos dados
sugerem que a redução das emissões de material particulado fino traz
importantes benefícios para a saúde pública, especialmente para minorias
étnicas e pessoas com baixo poder socioeconômico”, avalia.
Os impactos
Poluente - Efeito na
saúde
Partículas totais em suspensão (PTS)
Efeitos significativos em pessoas com doenças pulmonares, como asma e bronquite
Partículas inaláveis (PM10)
Aumento de atendimentos hospitalares e de mortes prematuras
e insuficiência respiratória pela deposição dos poluentes nos pulmões
Partículas inaláveis muito finas (PM 2,5)
Exacerbação de doenças pulmonares, como bronquite, aumento
na mortalidade e desenvolvimento de
asma, alergia e doenças cardiovasculares
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