Risco de microcefalia
no Brasil não acabou, alerta autor de estudo
"Sistemas de vigilância precisam estar muito atentos
para não baixar a guarda e, sobretudo, para identificar o menor sinal de
recrudescimento da doença", afirma o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz
Wanderson de Oliveira
Um estudo publicado pela revista The Lancet faz um retrato
sobre as duas ondas de nascimentos de bebês com síndrome congênita de zika no
Brasil, ocorridas em 2015 e 2016 e constata: há ainda muito a ser descoberto
sobre as diferentes formas de comportamento e manifestações clínicas da doença.
"As dúvidas são inúmeras. Será que, a exemplo da febre amarela, o aumento
de casos de zika e consequentemente da síndrome congênita provocada pelo vírus
ocorrerá em ciclos sazonais? Se sim, qual seria o intervalo, de três, quatro,
cinco anos?", questiona o coordenador do trabalho, o pesquisador da
Fundação Oswaldo Cruz Wanderson de Oliveira, em entrevista.
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A partir da análise dos dados reunidos no Sistema de
Notificação de Doenças do Ministério da Saúde, Oliveira fez uma estimativa
sobre quantos casos prováveis de zika ocorreram entre 2015 e 2016 no País:
1.673.272, dos quais 41.473 entre gestantes. Nesse período, 1.950 nascimentos
de bebês com microcefalia relacionada à infecção foram confirmados.
"Do total, 70% ocorreram no Nordeste, logo depois da
primeira onda de zika", observa o pesquisador. Na ocasião, foram
identificados na região 49,9 casos a cada 10 mil nascidos vivos - uma taxa 24
vezes maior do que a média histórica brasileira.
O estudo indica que uma segunda onda de casos de zika entre
gestantes foi identificada entre novembro de 2015 e agosto de 2016. Tal
fenômeno, no entanto, não se refletiu em um aumento de bebês nascidos com a
síndrome provocada pelo vírus. "Mesmo considerando os casos ainda sem
confirmação, a região Nordeste apresentava um aumento pouco acima da média
histórica de casos "
A tendência se repetiu no restante do País. Na segunda onda
de nascimento de bebês com a síndrome, ocorrida no período entre setembro de
2015 e setembro de 2016, a ocorrência de registros foi significativamente
menor. No entanto, observa-se que a região Centro-Oeste apresentou a taxa mais
elevada, de 14,5 casos a cada 10 mil nascidos vivos. Esse resultado demonstra a
ocorrência de uma segunda onda de casos de Síndrome Congênita em 2016, mas com
magnitude muito inferior ao observado no final de 2015.
O pesquisador relata
uma série de hipóteses que justificariam uma redução tão significativa da
intensidade da segunda onda. Na primeira epidemia de zika no País, não havia
ainda suspeita das consequências do vírus para o feto e, por isso, não havia
prevenção adequada. "Diante da comoção provocada pelos primeiros casos,
que vieram numa intensidade muito relevante, gestantes seguiram os cuidados que
passaram então a ser recomendados", avalia. Diante do medo da época,
muitas mulheres preferiram adiar a gestação. Além disso, os cuidados de combate
ao vetor da doença, o mosquito Aedes aegypti, foram intensificados por
autoridades públicas.
"Ainda é cedo para sabermos ao certo o que ocorreu,
qual foi o peso de cada fator", reconhece Oliveira. Ele acrescenta, no
entanto que, embora os números hoje sejam muito menores, casos novos de
nascimento de bebês com a síndrome congênita continuam a ser registrados. O
temor do cientista é o de que esses casos, ocorrendo de forma mais esparsa,
acabem passando despercebidos também por autoridades sanitárias. "Sistemas
de vigilância precisam estar muito atentos para não baixar a guarda e,
sobretudo, para identificar o menor sinal de recrudescimento da doença",
completa. TOMADO DE CORREIO BRAZILIESE
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