Vacinas:
especialistas alertam para os perigos do movimento anti-imunização
Não se vacinar pode causar o retorno de doenças erradicadas
e aumento da ação de vírus
Arte/CB/DA Press
São Paulo e Brasília — A intenção era, em seis semanas,
vacinar 48,7 milhões de pessoas em todo o país contra a gripe. Mas no fim da
campanha, no último dia 26, apenas 35,1 milhões haviam sido imunizadas, o que
levou o Ministério da Saúde a prorrogar o atendimento. A baixa adesão em ações
do tipo tem, além de alterado cronogramas vacinais, preocupado especialistas. A
estratégia preventiva, dizem, é essencial para a saúde coletiva, já que a
proteção em grande escala é um dos instrumentos mais eficazes contra surtos e
epidemias.
As barreiras à imunização não são exclusivas dos
brasileiros. Movimentos antivacina ganham força pelo mundo. A Europa, por
exemplo, vive um surto de sarampo — com 1.500 casos registrados em 14 países
nos dois primeiros meses do ano — devido “a um acúmulo de indivíduos não
vacinados”, segundo autoridades do Centro Europeu para a Prevenção e o Controle
de Doenças. A preocupação norteou um workshop para jornalistas da América
Latina, realizado pela Sanofi Pasteur, na semana passada, em São Paulo, com
especialistas na área. Os impactos do problema e formas de combatê-lo estiveram
entre os temas debatidos.
“Imagine o tamanho do arrependimento diante da morte
provocada por uma doença que poderia ser evitada”, ressaltou Edimilson
Migowski, infectologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). “Quando você protege a população
com vacinas, há menos chances de outros vírus ocorrerem, mesmo em quem não foi
imunizado. Chamamos isso de proteção de rebanho. As pessoas se protegem
indiretamente, diminuindo as chances de os vírus chegarem à população”,
explicou João Bosco Siqueira, epidemiologista da Universidade Federal do Goiás
(UFG).
Segundo Migowski, há dois principais obstáculos à vacinação
no Brasil. “O principal problema é a falta de educação. Somente com uma
população mais bem informada, teremos pessoas mais conscientes. Outra
dificuldade é que as pessoas não querem gastar com proteção. Acham que é menos
importante. Porém, o custo para tratar uma doença grave é muito superior ao que
se gasta em doses de proteção”, detalha.
No encontro, especialistas também ressaltaram os avanços em
saúde pública alcançados no país por meio das imunizações. “Graças às vacinas,
nós eliminamos a poliomelite. Também por causa delas, o Brasil se viu livre do
sarampo. Agora, vemos esse problema com a febre amarela, que fez com que
milhares de pessoas corressem aos postos médicos em busca de proteção”, diz
Michele Caputo Neto, secretário de Estado da Saúde do Paraná, primeira unidade
da Federação a realizar uma campanha pública de vacinação contra a dengue, no
ano passado.
Comparando 2016 a 2015, os casos registrados de dengue no
país caíram 11,1%. João Bosco Siqueira, porém, alerta que essa queda nos casos
de arboviroses (doenças causadas pelos arbovírus, como o da zika, dengue e
febre amarela) não significa que elas estejam sendo eliminadas. “A última vez
que tivemos uma queda como essa, vimos um aumento constante nos anos seguintes.
Isso pode ocorrer porque, quando as epidemias acabam, as pessoas não têm
contato com novos vírus, e isso faz com que elas se tornem mais suscetíveis a
eles”, explica.
O epidemiologista ressalta que, assim como ocorreu com o
zika vírus, outros arbovírus podem surgir de repente, o que reforça a
necessidade de vacinas que possam proteger a população. “É impossível saber o
que pode vir”, reforça. “A vacina é uma maneira de conseguir mudar esse
cenário, e ela pode não render os resultados esperados por causa de boatos
espalhados por esses grupos antivacinação. É preciso deixar claro a importância
dessa medida protetiva”, complementou Michele Caputo Neto.
Apoio científico
Pesquisas na área também são muito bem-vindas, apontaram os
especialistas. Tanto para o desenvolvimento de fórmulas mais eficazes, quanto
para derrubar mitos relacionados à vacinação. Em dezembro, por exemplo, um
estudo conduzido pela associação Kaiser Permanente Northern California, nos
Estados Unidos, com 196 mil crianças reforçou a tese de que não há ligação
entre a gripe durante a gravidez e o desenvolvimento de autismo nos filhos — um
dos argumentos usados por grupos antivacinação.
“Houve uma sugestão de aumento do risco de transtorno do
espectro autista com a vacinação materna no primeiro trimestre, mas não foi
estatisticamente significativo depois de considerados outros fatores de risco”,
escreveram, à época, os investigadores do estudo, divulgado no Journal of the American
Medical Association Pediatrics. Grávidas e mulheres que deram à luz nos últimos
45 dias fazem parte do grupo-alvo da campanha nacional de vacinação. Quando a
ação foi prorrogada, apenas 53,4% das gestantes tinham sido imunizadas no país.
A porcentagem de puérperas protegidas era maior: 71,2%
Meta não atingida
O Paraná realizou a campanha entre agosto e setembro de
2016, logo depois de ter começado a comercialização da primeira vacina de
dengue no país, em julho. A ação contou com a adesão de 200 mil pessoas — uma
taxa de cobertura de 40%, considerando a meta do governo de vacinar 500 mil
pessoas. Desenvolvida pela Sanofi Pasteur, a fórmula tem, segundo a fabricante,
eficácia de 60,8% contra os quatro sorotipos da enfermidade, redução de 95,5%
de casos graves da dengue e uma taxa de diminuição de hospitalização de 80,3%.
* A repórter viajou a convite Sanofi Pasteur TOMADO DE CORREIO
BRAZILIENSE
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