Líquidos dos
cigarros eletrônicos são mais tóxicos que nicotina, diz estudo
Resultado põe em xeque o argumento de que esses
dispositivos não fazem mal aos usuários
PO Paloma Oliveto
Não há padronização para a composição dos e-líquidos, que
são criados de forma a atrair usuários, principalmente jovens, pelo cheiro e
pelo gosto(foto: Mohd Rasfan/AFP)
Não há padronização para a composição dos e-líquidos, que
são criados de forma a atrair usuários, principalmente jovens, pelo cheiro e
pelo gosto
(foto: Mohd Rasfan/AFP)
Polêmico e cercado por controvérsias, o cigarro
eletrônico seria menos agressivo à saúde, segundo seus defensores. Um estudo da
Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, publicado na revista
PLoS Biology mostrou, contudo, que isso não é verdade. De acordo com os
pesquisadores, os líquidos utilizados para dar sabor ao dispositivo contêm
substâncias tóxicas que variam muito entre elas, sendo algumas mais perigosas
que outras. Dependendo do chamado e-liquid, a composição pode ser ainda mais
prejudicial que o cigarro de tabaco, alerta o artigo.
Robert Tarran, professor de biologia celular e fisiologia
da instituição e principal autor do trabalho, conta que os líquidos são
bastante diversos e que não seguem uma padronização. “Em alguns produtos, os
componentes eram mais tóxicos que a nicotina sozinha e que os ingredientes base
dos e-liquid, que são glicerina vegetal e propilenoglicol, substância também
vegetal”, observa Tarran.
O especialista alerta que, nos Estados Unidos, onde o
Food and Drug Administration (FDA), órgão de vigilância sanitária, começa a
regulamentar esse produto, o cigarro eletrônico está se tornando muito popular.
O mais preocupante, diz Tarran, é que cresce a adesão entre adolescentes e
jovens adultos. “Pesquisas recentes indicaram que aproximadamente 15% a 25% dos
estudantes das primeiras séries da high school (equivalente ao ensino médio) já
usaram e-cigarros. Outras pesquisas mostraram que de 10% a 15% dos adultos
norte-americanos utilizam esses produtos. São números que aumentam a cada ano
e, todavia, temos poucos estudos sobre os efeitos na saúde”, diz. No Brasil, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não liberou a venda de
cigarro eletrônico, mas o produto é facilmente encontrado em sites e
tabacarias.
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Para avaliar os riscos dos e-líquidos, a equipe de Tarran
desenvolveu um sistema que detecta rapidamente o teor de toxidade das
substâncias. Ele usa grandes placas de plástico que contêm centenas de recortes
minúsculos, chamados de poços pelos
pesquisadores. Neles, células humanas de rápido crescimento são expostas aos
diferentes líquidos. Quanto mais as substâncias reduzirem o desenvolvimento
celular, maior a toxicidade delas.
“Os principais ingredientes dos e-líquidos (glicerina
vegetal e propilenoglicol) são considerados atóxicos quando ministrados
oralmente, mas, obviamente, os vapores do cigarro eletrônico são inalados. Nós
constatamos que, mesmo na ausência de nicotina ou de aromatizantes, pequenas
doses desses compostos orgânicos reduzem significativamente o crescimento das
células humanas”, conta Flori Sassano, coautor do estudo.
Combinações
perigosas
Além dos ingredientes-base, os e-líquidos incluem
pequenas quantidades de nicotina e compostos que conferem sabor, sendo vendidos
com nomes bastante atraentes, especialmente para adolescentes, como candy corn,
chocolate fudge e berry splash — todos, sugestivos de guloseimas. No estudo, os
cientistas avaliaram amostras de 148 líquidos e também fizeram uma análise de
cromatografia e espectrometria de massa, que revelam, em profundidade, a
composição química de um produto. No geral, quanto mais ingredientes, maior a
toxicidade das substâncias testadas. Os mais perigosos identificados na
avaliação foram dois saborizadores, vanilina e cinamaldeído, muito usados em
e-cigarros.
Quando os pesquisadores usaram outros tipos de células
nos testes, inclusive do pulmão humano e do trato aéreo superior, a toxicidade
produzida por essas substâncias continuou elevada. Os resultados também se
mantiveram quando os cientistas expuseram as células à fumaça produzida pelos
e-líquidos, simulando a forma como entram em contato com a substância ao se
usar o dispositivo. De acordo com Sassano, existem outros 7,7 mil vaporizadores
no mercado norte-americano. “As pessoas deveriam saber mais sobre os
ingredientes que eles contêm e o quão tóxicos podem ser”, defende Sassano. TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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