Depois de trabalhar com esterco de cabra, Bismark e o
aluno de pós-doutorado da Universidade de Viena Andreas Mautner foram atrás de
fezes de cavalo, vaca e até elefantes
CB Correio Braziliense
Fezes de animais com alimentação à base de vegetal tem
muita celulose
(foto: Kathrin Weiland/Divulgação)
Pode não ser a primeira coisa que se pensa sobre as fezes
do elefante, mas esse material se mostrou uma excelente fonte de celulose para
a fabricação de papel em países onde árvores são escassas. E, em regiões com
muitos animais de fazenda, como vacas, reciclar o esterco para fazer produtos
de papelaria pode ser um método barato e sustentável, afirmaram cientistas da
Universidade de Viena, durante o encontro anual da Sociedade Americana de
Química.
A ideia de transformar esterco em papel surgiu quando o
químico Alexander Bismarck estava em férias em um vilarejo rural. Ele observava
as cabras se alimentando do pasto seco, quando teve o insight. “Percebi que o
produto final dessa refeição seria matéria vegetal parcialmente digerida.
Então, deveria ter celulose lá”, recorda. “Animais comem biomassa contendo
celulose, mastigam isso e expõem esse material a enzimas e ácido em seus
estômagos e produzem o cocô. Dependendo do animal, até 40% do esterco é formado
de celulose, que é facilmente obtida”, diz. Dessa forma, gasta-se menos energia
e investe-se menos em tratamentos químicos para transformar o material
parcialmente digerido em nanofibras de celulose, pensou o cientista.
Depois de trabalhar com esterco de cabra, Bismark e o aluno
de pós-doutorado da Universidade de Viena Andreas Mautner foram atrás de fezes
de cavalo, vaca e até elefantes. A equipe tratou o material com uma solução de
hidróxido de sódio. A substância remove parcialmente a lignina, que, depois,
pode ser usada com fertilizante ou combustível, assim como outras impurezas,
incluindo proteínas e células mortas.
Desinfetante
Para remover totalmente a lignina e produzir polpa branca
para fazer o papel, o material tem de ser lavado com hipoclorito de sódio, um
desinfetante e alvejante. A celulose purificada requer pouca, se alguma, moagem
para quebrar em nanofibras na preparação para uso em papel, diferentemente de
métodos convencionais.
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“Você precisa de muita energia para reduzir a madeira em
nanocelulose”, explica Mautner. Mas, com as fezes como matéria-prima, é
possível reduzir o número de passos porque o animal já mastigou a planta e a
“tratou” com ácidos e enzimas. “Você produz uma nanocelulose barata, que tem as
mesmas ou até melhores propriedades que a nanocelulose da madeira, com menos
gasto energético e consumo químico”, diz o pesquisador.
A equipe agora investiga se o processo pode ser ainda
mais sustentável, produzindo, primeiro, biogás com o esterco e, depois,
extraindo as fibras de celulose do resíduo. O biogás, composto principalmente
por metano e dióxido de carbono, também pode ser usado como combustível para
gerar energia ou calor.
"Você produz uma nanocelulose barata, que tem as
mesmas ou até melhores propriedades que a nanocelulose da madeira, com menos
gasto energético e consumo químico”
Andreas Mautner, integrante da pesquisa e aluno de
pós-doutorado da Universidade de Viena TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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