Liberação de licenças ambientais dá início à legalização
de condomínios
Instituto Chico Mendes emite documento que facilita a
regulamentação de ao menos 9,5 mil imóveis nos setores habitacionais
Arniqueiras e Bernardo Sayão. Moradores esperam receber escritura ainda no
segundo semestre de 2018
OA Otávio Augusto
Imagem aérea de Arniqueiras, onde 7,6 mil imóveis vão ser
beneficiados com a medida(foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Chácaras e condomínios construídos sem o respaldo da lei
em áreas de preservação do cerrado, nos setores habitacionais Arniqueiras e
Bernardo Sayão, estão próximos da regularização. Ela deve sair do papel com o
aval do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que
aprovou o licenciamento ambiental das regiões. Com a liberação do documento, o
processo pode tramitar mais rápido no Executivo local.
Com a regularização, a expectativa é que ao menos 9,5 mil
imóveis, sendo 7,6 mil em Arniqueiras e 1,9 mil no Bernardo Sayão, tenham as
escrituras definitivas. Ontem, o Conselho de Meio Ambiente (Conam) discutiu as
ações de compensação ambiental previstas para a região. O órgão precisa aprovar
as medidas para que o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) emita a licença que
autoriza a execução do projeto urbanístico, com as diretrizes de instalação de
infraestrutura de drenagem de águas pluviais, reforço na rede elétrica,
fornecimento de água e coleta de esgoto e a construção de calçadas, por exemplo.
O governo acredita que o Conam aprove o projeto em 3 de
abril. Ainda neste mês, a Terracap quer submeter o projeto ao Conselho de
Planejamento Territorial e Urbano do DF (Conplan), para, em maio, iniciar o
cadastro para venda direta. A Terracap acredita que as fases mais difíceis para
a regularização foram superadas e, portanto, o processo não deve se prolongar.
Os locais estão em uma importante área de preservação ambiental federal: a Área
de Proteção Ambiental do Planalto Central, controlada pelo ICMBio.
Valores
Uma preocupação dos moradores é o valor a ser cobrado
pelos terrenos. A Terracap só deve divulgar os preços em julho. “Para a venda é
necessário calcular o valor do imóvel e da infraestrutura que existe. Para
acharmos o valor de mercado, deduzimos o valor da infraestrutura e da
valorização que ela trouxe”, explica o presidente da Terracap, Júlio César
Reis. Em julho, o órgão pretende divulgar os preços.
Processo de regularização de Arniqueiras avança com novo
licenciamento
Postos de gasolina têm 120 dias para obter regularização
ambiental
Os documentos com as condicionantes ambientais do ICMBio
para a regularização foram entregues ao Ibram e à Terracap. O chefe da Área de
Proteção Ambiental do Planalto Central, Maurício Laxe, acredita que o processo
de regularização dos dois setores pode significar um exemplo de desenvolvimento
sustentável para o restante do Distrito Federal. “Hoje, aquela área é um
problema, mas pode se tornar uma experiência de regularização com preservação e
compensação ambiental como nunca vista na cidade”, acredita.
Benefícios
A expectativa dos moradores é que as primeiras escrituras
comecem a ser entregues ainda no segundo semestre. A professora Denise Alves,
52 anos, mora há 25 no Setor Habitacional Arniqueiras, a 22km do Plano Piloto,
e já escutou um sem-número de promessas de regularização. Agora, a moradora do
Conjunto 4 está mais animada. “Quando o proprietário tem a escritura, ele fica
mais seguro. Além disso, traz benefícios para a cidade, como infraestrutura,
escolas, transporte etc.”, observa.
A comerciante Roseany Batista Leite, 43, que mora há oito
anos no setor, concorda com a vizinha. “Com a escritura, além de mais segurança
para venda e compra, o governo passa a investir em serviços que até então eram
deficitários. A regularização é boa para o morador, para o governo e para a
cidade”, defende. Ela destaca que, agora, o processo deve tramitar. “Não pode
ser só mais uma das promessas. Vivemos há anos nessa incerteza.”
Monitoramento
Para o professor Frederico Flósculo, da Universidade de
Brasília (UnB), especialista em planejamento ambiental, as medidas de
compensação não são suficientes. “Essas compensações são tolas diante da
gravidade do quadro de degradação na região”, pondera. “O governo tem
capacidade técnica para agir contra as ocupações irregulares, mas o padrão no
DF é de ocupações irregulares em massa com toda impunidade e, depois, elas são
irreversivelmente regularizadas”, critica.
Flósculo considera essencial combater novas ocupações
irregulares. “Brasília corre o risco de se tornar a nova Aparecida de Goiânia
(município da região metropolitana de Goiânia). Lá, a ocupação desordenada
dificulta qualquer medida de organização territorial e de implantação de
serviços públicos. Brasília não pode continuar a viver o drama das invasões que
atormentam sucessivos governos. Esta é a terceira década de bagunça territorial
e ambiental.”
Entenda como funciona cada etapa da venda direta
» Cadastramento:
identifica as pessoas ocupantes de lotes interessadas em comprar o terreno por
meio da venda direta.
» Edital de chamamento: a Terracap publica um edital para
convocar todos os moradores para exercer o direito da compra do lote por meio da
venda direta, em que estará informado o preço de venda de cada lote.
» Condições de pagamento: o pagamento do imóvel adquirido
por meio da venda direta poderá ser feito à vista, parcelado diretamente com a
Terracap ou financiado por bancos, por exemplo.
» Situação dos moradores: habitantes das áreas convocadas
para o processo de regularização que possuem outro terreno residencial no DF
precisam aguardar. Eles participam de processo diferente, uma espécie de
licitação.
» Apresentação da proposta e pagamento: os editais de
licitação publicados possuem prazo máximo para apresentação de propostas de
compra. As propostas são avaliadas. As que são aprovadas passam para a fase de
pagamento.
» Escrituração: com a finalização do contrato de compra e
venda ou concessão de uso, o cartório entrará em contato com o comprador ou
concessionário para agendar a assinatura do documento, finalizando os
procedimentos. TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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