viernes, 4 de noviembre de 2016

TRÊS EM CADA QUATRO BRASILEIROS TÊM MEDO DE SER ASSASSINADOS

 Três em cada quatro brasileiros têm medo de ser assassinados
Pesquisa com 3,2 mil pessoas em todo o país mostra que sensação de insegurança não se restringe a
Porto Alegre Por: EDUARDO TORRES
Três em cada quatro brasileiros têm medo de ser assassinados  Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Rua Madre Paulina, na Capital, teve quatro homicídios em 2016, sendo que três vítimas não tinham relação com crime Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
A violência que extrapola limites, faz vítimas por bala perdida, em aeroporto, em supermercado, na frente da família, é realidade que não se restringe a Porto Alegre. Pesquisa nacional revela que três em cada quatro brasileiros têm medo de ser assassinado. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, em levantamento feito em agosto pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) que integra o 10º Anuário da Segurança Pública. O levantamento ouviu 3.625 brasileiros com mais de 16 anos, em 217 municípios de todos portes e 76% responderam que têm medo de ser morto.
Na Rua Madre Paulina, no bairro Rubem Berta, todos os dias, quando o relógio marca 19h, uma mãe que mora numa das casas da via se encerra na sua moradia. O cadeado é fechado no portão e ninguém mais sai. Qualquer barulho diferente é motivo para alvoroço.
— O que sinto é pânico. Nunca pensei que um dia pudesse sentir isso dentro da minha própria casa — desabafa a mulher de 34 anos que prefere não ser identificada.
Há 10 anos, quando chegou à Vila Santa Maria, recorda que não havia muros entre as casas. Hoje, todas as residências são cercadas. A violência já a fez perder o emprego e faz os filhos faltarem dias de aula. O medo é de ser a próxima vítima. Na rua, a sensação é nítida. São apenas 200 metros com 50 casas. E desde o começo do ano, quatro pessoas foram assassinadas.
Três delas, segundo a polícia, sem qualquer relação com a criminalidade. No mês passado, os adolescentes Graziela Rasquin de Pereira, 16 anos, e Juliano Santos, 17, foram mortos em um ataque com tiros de fuzil a esmo contra uma festa a céu aberto nessa rua. Oito jovens ficaram feridos. Em janeiro, Lucas Longo Motta, 12 anos, morreu com uma bala perdida no mesmo local. O ataque também deixou feridos, entre eles o filho de 14 anos dessa moradora.
— Ele estava brincando com o Lucas e nem teve tempo de ver de onde vinham os tiros. É isso que dá mais medo, eles aparecem, atiram e a gente não tem nem como se proteger — desabafa.
O menino foi ferido nas costas e, para cuidar dele e dos outros três filhos — de três anos, 10 anos e 18 anos —, a mãe viu-se obrigada a abandonar o emprego.
— Tenho medo de levar e buscar meu filho na creche. Depois, fico em casa porque não quero meus filhos expostos — diz.
População acuada pelo crime
Engana-se quem pensa que o medo de ser assassinado está restrito à periferia. Os assassinatos por tiros a esmo entre territórios disputados por facções criminosas vieram à tona neste ano, em Porto Alegre: lugares de intensa movimentação, como aeroporto e hospital foram palco de mortes violentas. Não há mais limites para que bandidos tentem acertar suas contas. Conforme a pesquisa, 85% da população tem medo de sofrer algum tipo de agressão de criminosos.
— O acirramento entre rivais no mundo do crime faz com que desapareçam escrúpulos. São criminosos mais impetuosos e sem ter nada a perder. Eles têm um objetivo, um alvo, que pode ser uma vida ou um bem, mas metralham para mostrar seu poderio — analisa o diretor do Departamento de Homicídios, Paulo Grillo.
Gastos com policiamento caíram 29% em dois anos
Na Rua Madre Paulina, os moradores são unânimes em acreditar que, se houvesse mais policiais nas ruas, a sensação poderia ser outra. E o comandante do policiamento da Capital, coronel Mario Ikeda, concorda.
— Nosso esforço para diminuir a sensação de insegurança da população está focado em tornar o policiamento mais visível. É isso que temos feito com a Operação Avante. Mais do que as prisões, é importante que a população se sinta segura — aponta o oficial.
Na contramão da afirmação do coronel, conforme o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Rio Grande do Sul registrou redução de 29,6% nos gastos com policiamento entre 2014 e 2015. Para o delegado, uma solução exige mais do que ação policial direta nas ruas. Além de necessária mudança no sistema carcerário, Grillo ressalta a necessidade de alteração no código penal para que processos de homicídios tenham mais agilidade na Justiça e urgente reforço de fiscalização nas fronteiras.
— O acesso que as quadrilhas têm a armamento é irrestrito. Maior do que a polícia. E de onde vem tudo isso? — questiona.
O Fundo Nacional de Segurança Pública (FBSP), por exemplo, consome só 3% do orçamento do Ministério da Justiça atualmente. Houve redução de 48% desse investimento, que poderia dar conta do controle de fronteiras, desde 2002, quando o fundo foi criado. Ainda assim, 81% do orçamento do ministério está comprometido com a Polícia Federal.
Para o sociólogo gaúcho Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, que faz parte do FBSP, as soluções para reverter a sensação de insegurança não podem se limitar ao "mais do mesmo".
— É preciso investimento na área da segurança, sim. Mas com inovação. Não adianta colocar mais dinheiro somente em viaturas, coletes, armamentos sem atacar o outro lado deste problema, que é a questão social. É necessário trabalhar com planejamento. No Rio Grande do Sul, vivemos curva inversa ao restante do país, com aumento das taxas de criminalidade e, ao mesmo tempo, redução no investimento em segurança — conclui.
Um carro roubado por dia no país
Entre as constatações do Anuário está o inédito dado de que, no Brasil, um carro foi roubado ou furtado a cada minuto em 2015. No Rio Grande do Sul, o índice foi de um roubou ou furto de veículo a cada 13 minutos no ano passado. Enquanto em todo o país houve uma leve redução de 0,6% nos índices em relação a 2014, no Estado, este crime está em alta. Um crescimento, segundo o Anuário, de 17,8%.
Para o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, os dados demonstram a necessidade de fortalecer a capacidade de investigação da polícia.
 — O roubo e furto de veículo financiam organizações criminosas envolvidas com tráfico e outros delitos mais graves — avalia.
Foram 38.551 veículos perdidos em 2015 no Rio Grande do Sul. Em todo o Brasil, foram 509.978.
O ANUÁRIO
— Criado em 2006, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulga anualmente o levantamento da criminalidade no país baseado em dados coletados via Lei de Acesso à Informação.
— Neste ano, juntamente com o Anuário, foi divulgada pesquisa encomendada ao Datafolha com a percepção da violência pela população.
— Foi a primeira vez que a pergunta sobre o medo de ser assassinado entrou no levantamento.
NÚMEROS ALARMANTES
— A cada nove minutos, uma pessoa é morta violentamente no país. Foram 58.492 vítimas em 2015, queda de 2% em relação a 2014 no Brasil. No RS, o caminho é inverso. Foram 2.777 em 2015, 3,1% a mais do que no ano anterior.
— 73% das vítimas são pretos e pardos.
— Em dois anos, mais de 1 milhão de carros foram furtados ou roubados no país. Entre 2014 e 2015, enquanto houve estabilização deste índice no país. No RS, houve crescimento de 17,8%.
— Em 2015 houve redução de 10% nos registros de estupros no país em relação a 2014. No Estado, a redução foi ainda maior, caindo 43,6%.
— 76% dos brasileiros têm medo de ser assassinados.

— 57% acreditam que bandido bom é bandido morto. Tomadod e zero hora de rgs br 

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