Adotar
hábitos que mantenham o corpo na ativa postergam o envelhecimento
Com o passar dos anos, as células passam a trabalhar de
forma muito lenta ou acelerada, segundo pesquisadores americanos. Para
postergar ambos os processos, é preciso adotar comportamentos que não deixem o
corpo humano perder o ritmo
Com problemas de cansaço e memória, Fátima recorreu a
implantes hormonais: "Voltei a dançar, a trabalhar"(foto: Arthur
Menescal/Esp. CB/D.A Press - 6/11/17)
Fisiologicamente, o envelhecimento é inevitável, dizem
cientistas da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Com o passar dos
anos, o corpo humano vai tendo o ritmo de funcionamento alterado e sofrendo
consequências variadas, da pele enrugada a doenças degenerativas. Segundo o
biólogo Paul Nelson, células danificadas causam essas complicações. “Duas
coisas podem acontecer com elas: crescem de forma lenta ou mais rapidamente,
dando origem, por exemplo, a cânceres”, resume o pesquisador do Departamento de
Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade do Arizona e líder do estudo.
Nelson e colegas constataram que esses mecanismos são
irreversíveis em experimentos em laboratório. Colocaram células funcionando com
os dois ritmos juntas para ver se a “competição” entre elas influenciaria na
vitalidade geral do organismo. O envelhecimento venceu. “Uma vez que as duas
classes danificadas são postas juntas, esse processo se torna inevitável. Se
livrar das células danificadas que crescem de forma lenta acaba permitindo que
as danificadas que crescem rapidamente assumam o controle. Por outro lado, a
prevenção da disseminação de células cancerígenas permite que as células
danificadas que crescem lentamente se acumulem”, conta o biólogo.
Dessa forma, defende a equipe, a única forma de adiar a
idade é envelhecer de forma sadia, postergando ao máximo os danos às células.
“Uma dieta saudável e exercícios físicos ajudam a prolongar a vida. Nós
absolutamente podemos — e eu diria que devemos — adiar o envelhecimento, mas
nunca vamos evitá-lo completamente”, diz Nelson. Presidente da Academia Brasileira
de Medicina Antienvelhecimento (Abmae), Edson Peracchi concorda com o
pesquisador. “A grande busca é trazer a pessoa, durante o processo do
envelhecimento, para a capacitação orgânica, com menos perda de massa muscular,
mantendo a capacidade sexual, melhorando a memória, a resistência insulínica”,
detalha.
Ajuda hormonal
É o que busca Fátima Barros, 66 anos. A cardiologista é
adepta da dieta com baixo consumo de carboidratos e rica em frutas e vegetais
e, desde 2015, aposta também em uma intervenção clínica para resolver problemas
como dificuldades para subir escadas, depressão, falhas de memória e cansaço.
Segundo ela, o implante hormonal a tem ajudado muito. “Assim que fiz, comecei a
me sentir com 26 anos de idade, voltei a usar os saltos mais altos do mundo, a
dançar, a trabalhar”, diz. A sensação de ter que se aposentar por não conseguir
realizar as atividades profissionais, porém, era o que mais a preocupava.
“Quando você está com saúde e com disposição, não quer se aposentar nunca”,
comemora.
Denis Furtado, médico pós-graduado em modulação hormonal,
ressalta que é preciso comprovar que o paciente tem alguma deficiência hormonal
para que ele seja submetido ao procedimento. “Não é ético que o médico atue
apenas para fatores estéticos”, alerta. Segundo Maria Alice de Vilhena,
geriatra e professora da Universidade de Brasília (UnB), o Conselho Federal de
Medicina não reconhece a abordagem por falta de evidências científicas, como
acontece com outros procedimentos antienvelhecimento. “Existem várias pesquisas
experimentais para vencer a idade, como as dos radicais livres. Foi testado o
tratamento usando substâncias antioxidantes para retardar o envelhecimento, mas
ele fez mal aos pacientes”, ilustra.
Multifatorial
Quanto ao estudo americano, a professora da UnB observa que
os cientistas partem de uma única tese para abordar o envelhecimento: que ele é
uma falha na seleção natural: “Temos várias teorias que tentam explicar e
entender como esse processo ocorre. Ele é multifatorial. Então, só uma teoria
não o explicaria, mas várias”, defende Maria Alice de Vilhena.
Para a geriatra, apesar de ser uma ideia bastante
interessante, a premissa apresentada pelos americanos não está completamente
correta. “O equilíbrio do organismo é muito complexo. O equilíbrio da célula
não é só a parte do metabolismo, também tem a parte genética, hormonal”,
justifica.
Nelson reconhece as limitações e diz que a intenção dele e
dos colegas não é a de que os resultados tenham uma repercussão clínica direta.
“Apenas estamos dizendo que essa imortalidade que vemos na ficção não é
possível na vida real para humanos e para qualquer outro organismo”, ressalta.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Carmen Souza //
TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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