Sul e Sudeste concentram 91% dos municípios mais
desenvolvidos
Norte e Nordeste respondem por 87,7% das cidades com menor
desempenho
Desenvolvimento do agronegócio alavancou índices da Região
Centro-Oeste(foto: Tony Oliveira/CNA/Direitos Reservados)
No Brasil, o desenvolvimento econômico e social dos
municípios segue extremamente desigual entre as metades norte e sul do país. É
o que mostra o resultado mais recente do Índice Firjan de Desenvolvimento
Municipal (IFDM), divulgado nesta quinta-feira (28/6). Organizado pela Federação
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, com base em dados de 2016, o IFDM
2018 monitora os indicadores sociais em 5.471 municípios, onde vivem 99,5% da
população brasileira. Para compor o índice, que voltou a subir após três anos
de queda, são usadas estatísticas oficiais sobre saúde e educação básicas, como
número de matrículas escolares e mortalidade infantil, além das taxas de
emprego e renda.
No ranking dos 500 municípios mais desenvolvidos, segundo o
IFDM, estão principalmente as cidades das regiões Sudeste (50%) e Sul (41%). A
região Centro-Oeste ocupa 7% dessa lista, enquanto Nordeste ocupou apenas 8
posições entre os 500 maiores IFDMs do país (1,6%). Já na Região Norte, apenas
Palmas, capital do Tocantins, figura entre os municípios com melhor desempenho,
representando 0,4% desse “grupo de elite”.
Já entre os 500 municípios com menor desenvolvimento do
país, 68% estão no Nordeste e outros 28%, nos estados do Norte. Nesta última
região, por exemplo, mais de 60% das cidades têm desenvolvimento considerado
baixo (entre 0 e 0,4) ou regular (entre 0,4 e 0,6). No Nordeste, metade dos
municípios também estão nessa condição.
Bahia (34%), Maranhão (20%) e Pará (13%) foram os estados
com maior quantidade de representantes entre os 500 municípios pior
classificados no ranking. Juntas, as regiões Norte e Nordeste somam 87,7% do
total de municípios com pior desenvolvimento econômico e social do Brasil, segundo
o IFDM 2018.
“A desigualdade parece estar cristalizada. Nos últimos 10
anos, os municípios das regiões Norte e Nordeste pouco conseguiram entrar no
grupo dos municípios mais desenvolvidos”, explica Jonathas Goulart, da Divisão
de Estudos Econômicos da Firjan.
Segundo o levantamento, o único movimento observado na
última década foi uma redução de municípios do Nordeste e aumento dos
municípios do Norte entre os piores colocados na classificação de
desenvolvimento. Bahia e Piauí, por exemplo, retiraram 35 e 15 municípios,
respectivamente, da lista dos menos desenvolvidos, enquanto Amazonas (17) e
Pará (14) engrossaram ainda mais as estatísticas de cidades com baixo
desenvolvimento.
Dinamismo do
Centro-Oeste
Entre as disparidades regionais que seguem dividindo o
desenvolvimento de municípios entre o norte e o sul do país, a Região
Centro-Oeste foi a que apresentou o maior salto qualitativo, dobrando a
participação entre os municípios mais desenvolvidos, que antes era de apenas
3,5% e agora está em 7%.
“Esse dinamismo do Centro-Oeste, a gente pode atrelar ao
desenvolvimento do agronegócio. Os municípios dessa região conseguiram
transformar o desenvolvimento da vertente de emprego e renda em melhorias na
área de educação e saúde, refletindo na colocação do índice geral”, explica
Jonathas Goulart, da Divisão de Estudos Econômicos da Firjan.
Além disso, os municípios da porção mais central do país
alcançaram nível de desenvolvimento que antes era exclusividade das regiões Sul
e Sudeste. Ao todo, 92,4% dos municípios do Centro-Oeste apresentam
desenvolvimento moderado (entre 0,6 e 0,8) e alto (entre 0,8 e 1) e só 1% estão
na lista dos menos desenvolvidos.
Desigualdades Quando
são observados os indicadores específicos de desenvolvimento, as disparidades
regionais ficam ainda mais evidentes. De acordo com o IFDM 2018, os municípios
mais desenvolvidos do país registraram boa cobertura de educação infantil, com
64,7% das crianças até 5 anos matriculadas na pré-escola, enquanto o grupo das
cidades piores colocadas no índice atendeu, em média, apenas 34,8% das crianças
em idade escolar. Além disso, a taxa média de abandono entre os 500 municípios
mais bem classificados, de apenas de 0,5%, foi quase 10 vezes menor do que a
observada na lista das cidades menos desenvolvidas: 4,8%.
Com relação à distorção idade-série (alunos com atraso de
dois anos ou mais no ensino fundamental), os 500 municípios mais desenvolvidos
apresentaram proporção média (10,3%) três vezes menor que a observada entre os
500 menos desenvolvidos (32%). A nota média no Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb) entre os mais desenvolvidos foi bem superior (5,6) à
registrada nos menos desenvolvidos (3,8).
Na área de saúde,
a desigualdade também fica nítida entre os municípios. O percentual de grávidas
que tiveram acesso ao mínimo de sete consultas pré-natais, como recomenda o
Ministério da Saúde, foi quase duas vezes maior (81,3%) nos municípios mais
desenvolvidos do que nos piores colocados (46,4%). A taxa de óbitos infantis
por causas evitáveis também apresenta percentuais distintos entre os dois
grupos.
Uma das propostas da Firjan para enfrentar o problema das
disparidades regionais é capacitar gestores municipais na administração dos
recursos e das políticas públicas.
"Os números deixam bem claro que o problema não é a
falta de verba, uma vez que boa parte dos recursos direcionados para educação e
saúde levam em conta o número de pessoas atendidas nessas áreas. Ou seja, a
principal barreira para o desenvolvimento dos municípios é a gestão mais
eficiente dos recursos. Dessa forma, acelerar o desenvolvimento no interior do
país passa por uma política ampla de capacitação e aprimoramento dos gestores
públicos, sobretudo, nas regiões menos desenvolvidas", diz um trecho das conclusões
contidas no relatório do IFDM 2018.
Para a Confederação Nacional dos Municípios (CMN), no
entanto, há problemas no repasse dos recursos e na distribuição do bolo
tributário, o que acaba afetando a execução das políticas na ponta. // tomado
de correio braziliense
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