Planeta mudará
fatalmente em 100 anos sem redução de gases de efeito estufa
Sem redução drástica da emissão de gases de efeito estufa,
mais de 60% da paisagem do planeta será alterada, alerta grupo internacional de
cientistas
PO Paloma Oliveto
Lago Qaraoun, no Líbano, após registros de temperaturas
recordes em 2014: risco de falta de água e de estoque de carbono
(foto: Mohamed Azakir/Reuters )
Nos próximos 100 anos, a paisagem da Terra pode se tornar
irreconhecível. A menos que a emissão de gases de efeito estufa, responsáveis
pelo aquecimento do planeta, não sofra reduções dramáticas, mais de 60% da
vegetação ficará muito diferente do que se conhece hoje, alerta um grupo
internacional de pesquisadores liderados pelo Serviço Geológico dos Estados
Unidos. Baseados em registros climáticos do fim da era do gelo, há 21 mil anos,
eles concluíram que os ecossistemas mundiais deverão sofrer impactos maiores do
que se imagina.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram
registros fósseis vegetais em 594 regiões de todos os continentes, exceto a
Antártida, referentes à última deglaciação, um período de aquecimento natural
que começou 21 séculos atrás, colocando fim à última era do gelo. Modelos
climáticos mostram que, na ocasião, a temperatura da Terra aumentou de quatro a
sete graus Celsius, comparável ao que se espera ocorrer nos próximos 100 a 150
anos caso não se tome medidas drásticas para reduzir as emissões de gases de
efeito estufa. Os principais responsáveis pelo fenômeno hoje são os
combustíveis fósseis, que lideram a matriz energética de quase todos os países.
Em um artigo publicado na revista Science, os autores do
trabalho destacaram que são esperadas alterações tão profundas na paisagem da
Terra quanto as ocorridas no fim do último glacial, pois o aumento de
temperatura será semelhante. Há, porém, uma diferença fundamental. Enquanto o
fenômeno natural levou 21 mil anos para ocorrer, no presente, bastarão dois
séculos para que algo parecido aconteça no planeta. “Nós descobrimos que, como
consequência da deglaciação, os ecossistemas por todo o mundo passaram por
grandes mudanças. Cerca de 70% deles foram afetados com imensas alterações nas
espécies que abrigavam e no tipo de vegetação”, observa Connor Nolan, candidato
ao doutorado no Departamento de Geociências da Universidade do Arizona e um dos
autores do estudo.
Recursos vitais
De acordo com o artigo, assinado por 42 pesquisadores, as
mudanças nos ecossistemas vão ameaçar a biodiversidade global, interferindo
diretamente nos serviços naturais vitais à humanidade, incluindo o estoque de
carbono e a disponibilidade de água potável. “Se permitirmos que as mudanças
climáticas aconteçam sem interferências, a vegetação desse planeta será
completamente diferente do que é hoje em 100 anos, o que significa um risco
enorme à diversidade da Terra”, observa Jonathan Overpeck, reitor da Faculdade
de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Michigan e coautor do
trabalho.
O pesquisador observa que os registros fósseis indicam que
as regiões mundiais com maior crescimento de temperatura desde o fim da era do
gelo foram as que passaram por maiores alterações da vegetação. Regiões em
latitudes médias a altas da América do Sul, da América do Norte e da Europa
tinham a maior cobertura de gelo há 20 séculos e, consequentemente, foram as
que mais aqueceram desde então. Nesses locais, as mudanças drásticas no
ecossistema chegaram a atingir 67% da vegetação. Vinte e seis por cento da
cobertura vegetal foi afetada moderadamente.
Caso o cenário de emissões não seja modificado, os
pesquisadores calculam que mudanças em larga escala na vegetação do planeta
ultrapassem 60%. Porém, se o Acordo de Paris, assinado em 2015, for colocado em
prática, com reduções que garantam aumento de temperatura menor que 2ºC até o
fim do século, a cobertura vegetal ainda assim sofrerá alteração, mas em um
percentual menor: 45%. “Grande parte das mudanças pode ocorrer durante o século
21, especialmente quando outros fatores amplificam as perturbações nos
ecossistemas, como extremos climáticos, desmatamento, fragmentação de habitats,
espécies invasoras e extração exagerada de recursos naturais”, escreveram os
pesquisadores.
“Grande parte das
mudanças pode ocorrer durante o século 21, especialmente quando outros fatores
amplificam as perturbações nos ecossistemas, como extremos climáticos e
desmatamento”
Trecho do artigo publicado na última edição da revista
Science // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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