Os corticoides são anti-inflamatórios de baixo custo usados há décadas principalmente no tratamento de doenças inflamatórias, respiratórias e alérgicas, como asma e artrite
Agência Estado
(foto: Divulgação/Governo da Paraíba)
Um estudo de meta-análise, que reuniu evidências de sete
ensaios clínicos realizados em 12 países, incluindo o Brasil, confirmou que
medicamentos corticoides reduzem a mortalidade por covid em pacientes com
quadros críticos da doença. As novas evidências fizeram a Organização Mundial
da Saúde (OMS) divulgar novas diretrizes para médicos e gestores recomendando o
uso dessa classe de remédios para pacientes com formas graves da infecção.
Entre os corticoides recomendados estão drogas como a dexametasona e a hidrocortisona.
Os corticoides são anti-inflamatórios de baixo custo usados
há décadas principalmente no tratamento de doenças inflamatórias, respiratórias
e alérgicas, como asma e artrite. A meta-análise, publicada ontem no
prestigioso periódico científico Journal of the American Medical Association
(Jama), avaliou a utilização de três remédios dessa classe: dexametasona,
hidrocortisona e metilprednisolona.
Os estudos analisados tiveram a participação de 1,7 mil
pacientes. Todos os ensaios clínicos foram randomizados, ou seja, os
participantes de cada grupo (o que recebeu o medicamento e o grupo controle)
foram escolhidos por sorteio.
No grupo que tomou um dos corticoides, 32% dos pacientes
morreram após o período de seguimento de 28 dias. Já entre os pacientes que só
receberam o suporte clínico padrão, a mortalidade no período foi de 40%, o que
equivale a um risco 20% menor de óbito entre os doentes que receberam a
medicação.
A pesquisa também aponta que os corticoides se mostraram
seguros, sem risco aumentado de efeitos colaterais graves. "Os eventos
adversos variaram entre os estudos, mas não houve sugestão de que o risco de
eventos adversos graves fosse maior em pacientes tratados com corticosteroides,
exceto para os dois menores estudos, nos quais o número total de eventos
adversos graves foi 1 e 3", destaca o artigo publicado.
A meta-análise foi realizada por um grupo de trabalho
formado pela OMS para dar rápida resposta sobre possíveis tratamentos para
covid. O grupo conta com cientistas de todo o mundo, incluindo o Brasil.
Entre os estudos que foram considerados nessa meta-análise
está uma pesquisa coordenada pelos principais hospitais privados brasileiros
que mostrou que a dexametasona foi capaz de reduzir o tempo de entubação entre
doentes graves.
Os pesquisadores brasileiros alertam que o benefício e a
segurança dos corticoides são válidos só para doentes graves com covid, que
precisam de suporte respiratório. Para quadros leves ou iniciais, o medicamento
não tem benefício comprovado e pode até piorar a condição.
"O corticoide não vai curar a doença ou combater o
vírus, ele vai modular a resposta inflamatória do organismo para combater uma
reação exagerada. Só que essa resposta, no início da infecção, é o que combate
o vírus. Ela só se torna prejudicial se fica desenfreada. Se você a bloqueia
logo no início, pode aumentar o tempo dos sintomas", explica Luciano Cesar
Pontes Azevedo, superintendente de ensino no Hospital Sírio-Libanês, integrante
do comitê executivo da Coalizão Covid-19 Brasil e um dos autores do estudo
brasileiro. Por causa desse e de outros riscos, os corticoides só devem ser
usados com prescrição médica.
Histórico
As novas evidências sobre os corticoides reafirmam os
achados do estudo Recovery, divulgados pela Universidade de Oxford (Reino
Unido) em junho. A pesquisa apontou que a dexametasona mostrou-se capaz de
reduzir em um terço o número de mortes entre pacientes entubados.
De acordo com Azevedo, desde o estudo britânico, a
dexametasona já vinha sendo usada na prática em hospitais brasileiros no
tratamento de casos graves de covid. As novas evidências, diz ele, ajudam os
médicos a ter mais segurança sobre quando e com qual paciente prescrever a
medicação. "Os novos estudos são importantes para comprovar que só quem se
beneficia é o paciente mais grave", diz ele.
Questionado sobre a inclusão desse tratamento em seus
protocolos, o Ministério da Saúde afirmou que "as orientações do governo
federal são atualizadas conforme o surgimento de novas evidências
científicas", mas não detalhou se irá incorporar o uso de corticoides em
seus documentos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
// TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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