'Temos 850 mil veículos e uma cidade que não está preparada'
Para gestor, são necessárias alternativas para reduzir
tarifas do transporte público
Para gestor, são necessárias alternativas para reduzir
tarifas do transporte público
CLAITON DORNELLES/JC Suzy Scarton
No comando da Empresa Pública de Transporte e Circulação
(EPTC) há seis anos, o diretor-presidente Vanderlei Cappellari vive seus
últimos dias como gestor da pasta. Isso porque o prefeito eleito de Porto
Alegre, Nelson Marchezan Júnior, já anunciou que não vai mantê-lo no cargo e
tampouco definiu se a empresa pública será incorporada ou não por outras
secretarias, como a de Obras e Viação.
À frente de um dos órgãos de maior visibilidade da
prefeitura, Cappelari celebra conquistas sob o seu comando, mas também aponta
problemas de díficil solução. O tamanho atual da frota de veículos da Capital,
por exemplo, nunca foi previsto em qualquer projeto para a cidade. "Sou
funcionário da prefeitura há 35 anos e, lá no começo da carreira, quando se
falava em frota alta, pensava-se em 50 mil, 100 mil veículos. Temos 850 mil e
uma cidade que não está preparada", argumenta, citando a estrutura viária
como o principal problema de trânsito.
"A Capital disponibiliza mobilidade. Não na excelência,
mas atende razoavelmente", pondera. Para ele, é impossível pensar que uma
frota desse tamanho circule sem problemas, já que o planejamento viário engloba
menos da metade do volume existente.
O diretor alerta, no entanto, que o desestímulo ao
transporte individual em favor do coletivo ou a alternativas sustentáveis, como
bicicletas, devem ser pensadas para que não prejudiquem o comércio. "Um
exemplo é a avenida Farrapos, que tinha uma vida pujante. Depois que
restringimos totalmente o estacionamento, ocorreu uma degradação acelerada, as
pessoas fugiram de lá", conta.
Por isso, acredita que o trabalho de conscientização feito
pela EPTC é ideal. No Centro Histórico, por exemplo, apenas veículos de até
sete metros de altura podem circular. "Trouxe uma qualidade muito grande e
reduziu os acidentes e o impacto ao patrimônio. Gradativamente, vamos
restringindo as áreas de estacionamento livre para que o cidadão vá migrando e
se adaptando. Até o momento, avaliamos que esse é o melhor método para a
cidade."
O gestor crê que é necessário buscar alternativas para que
as tarifas sejam reduzidas, uma vez que preços atrativos são fundamentais para
trazer novos usuários. Além disso, espera que o edital da licitação dos ônibus
seja aplicado por completo. "Existe uma série de evoluções que ainda não
estão visíveis e à disposição do usuário, como a questão da informação, que
permite que o passageiro acompanhe o posicionamento do ônibus, e a criação do
Conselho de Usuários, que vai avaliar o serviço", exemplifica. Ações que
culminem na redução da violência no trânsito também devem ser priorizadas, de
acordo com Cappellari.
O processo de licitação para o transporte coletivo foi um
dos maiores desafios da atual gestão. "Pela complexidade, por nunca ter
sido realizada uma licitação como essa... Publicamos três editais e finalmente
conseguimos iniciar a operação em 22 de fevereiro deste ano", recapitula o
diretor-presidente da EPTC. A intenção era implantar a informatização do
sistema até o final de 2016. No entanto, ele explica que houve uma
"mudança de prioridades".
"Tivemos que alterar o cronograma para implantar
câmeras internas em toda a frota. Foi uma demanda da população para aumentar a
segurança", explica Cappellari. Segundo ele, 70% da frota já possui
câmeras. "Tenho convicção de que, a partir da implementação integral, o
transporte coletivo vai ter outra avaliação pelo usuário", comenta.
Implantação de terminais de BRTs esbarrou em problemas na
elaboração do edital
Acusada inclusive de perseguir os motoristas montando
blitze, a prefeitura optou por regulamentar o uso das ferramentas. "Nunca
fomos contrários à entrada da tecnologia. O que queríamos era que houvesse uma
regulamentação que protegesse o cidadão e os sistemas já existentes",
afirma. A lei, sancionada no começo de dezembro, garante a concorrência leal
entre os prestadores do serviço.
Algumas promessas feitas durante a gestão do prefeito José
Fortunati não serão cumpridas. Cappellari admite, por exemplo, que será
necessário lançar uma nova licitação para os cinco terminais de integração do
sistema BRT (Bus Rapid Transit). "Contratamos um escritório, que realizou
parte do projeto, e houve quebra de contrato. Ocorreu uma série de problemas e
tomamos a decisão de refazer o edital", explica.
Para estimular outros métodos de locomoção, também é
necessário que a prefeitura garanta segurança para os usuários - nos primeiros
meses de 2016, a EPTC enfrentou uma redução de cerca de 40% no número de
passageiros, que evitam andar de ônibus depois de escurecer devido à
insegurança.
Uma forma de fomentar este estímulo é reservar espaços
exclusivos para o transporte coletivo na cidade. Durante a campanha eleitoral,
Cappellari prometeu a implantação de oito faixas para ônibus até o final deste
ano. "Infelizmente, a condição de recursos vai atrasar a implantação,
então colocamos, como meta para este ano, dois corredores, o da Assis Brasil,
entre o Terminal Triângulo e a Fiergs, e o da Icaraí", cita.
Para o diretor, os corredores são fundamentais para a
qualificação do transporte coletivo. O da Assis Brasil terá 4,2 quilômetros e
atenderá ao trecho entre a avenida Bernardino Silveira Amorim e a rua Joaquim
Silveira. "Faremos intervenções para resolver alguns problemas,
implementando três travessias seguras para pedestres", explica. Já o da
Icaraí-Chuí terá dois quilômetros, com fluxo no sentido bairro-Centro. A
circulação de ônibus pelas faixas exclusivas começa a valer hoje. TOMADO DE
JOURNAL DO COMERCIO DE RGS BR
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