Caroço do abacate
pode ser usado na medicina e em soluções industriais
A semente do abacate pode ser usada na produção de
plásticos, anticancerígenos e remédios para tratar problemas cardíacos, indica
estudo norte-americano
Composto presente no fruto melhora a produção de insulina
A semente do abacate é geralmente jogada fora após o consumo
da fruta. Um desperdício, alertam pesquisadores da Sociedade Americana de
Química (ACS, pela sigla em inglês). Os caroços e a casca que os envolve podem
ser usados na produção de substâncias com aplicações diversas, da medicina a
soluções industriais. A descoberta soma-se aos já conhecidos benefícios da
fruta para a saúde, como a grande quantidade de potássio e fibras, além da
diminuição dos níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue, e a uma recente
constatação relacionada à melhora cognitiva na meia-idade.
No caso da equipe norte-americana, a proposta é usar as
toneladas de sementes desperdiçadas na produção de medicamentos antivirais,
suplementos alimentares, plásticos e cosméticos. De acordo com a Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, cerca de 5 milhões de
toneladas de abacates foram produzidas no mundo em 2014. Na maioria dos casos,
apenas a polpa tem aproveitamento. Mesmo para os produtores que usam os caroços
para extrair o óleo de abacate, a casca é descartada antes do processamento.
“É possível que as cascas das sementes de abacates sejam, na
verdade, uma grande preciosidade, pois os componentes medicinais dentro delas
podem eventualmente ser usados para tratar cânceres, doenças cardíacas e outras
complicações para a saúde. Nossos resultados também sugerem que as cascas são
uma fonte em potencial de substâncias usadas em plásticos e outros produtos
industriais”, diz Debasish Bandyopadhyay, da Universidade do Texas no Vale do
Rio Grande e participante do estudo, apresentado no Encontro e Exposição
Nacional da Sociedade Americana de Química, em Washington.
Para chegar às conclusões, Bandyopadhyay e a equipe moeram
300 cascas secas do fruto, o que rendeu em torno de 595 gramas de pó,
transformados no equivalente a três colheres de chá de óleo e 28 gramas de
cera. Usando duas técnicas de análise — cromatografia gasosa e espectrometria
de massa —, os investigadores detectaram 116 componentes químicos no óleo e 16,
na cera. Muitos deles, inclusive, não foram encontrados nas próprias sementes.
Entre os achados do óleo estavam ácido behênico, usado em
cosméticos e medicamentos antivirais; heptacosano, com potencial para inibir o
crescimento de células tumorais; e ácido dodecanoico, que aumenta o colesterol
bom e reduz o risco de aterosclerose. Na cera, foram descobertas substâncias
usadas na produção de plásticos, cosméticos e aditivos alimentares. Bandyopadhyay conta que a equipe trabalha,
agora, manipulando os componentes descobertos a fim de otimizar o seu uso, como
no desenvolvimento de remédios com menos efeitos colaterais.
Cérebro turbinado
Os admiradores da polpa do fruto também têm mais um motivo
para apreciá-lo. Pesquisa publicada neste mês, na revista Nutrients, mostrou
que o consumo diário de abacate aumentou seus efeitos benéficos para quem
chegou aos 50 anos. São os reflexos da ação da luteína, um pigmento encontrado
em frutas e vegetais que se acumula no sangue, nos olhos e no cérebro e pode
agir como um agente anti-inflamatório e antioxidante.
Segundo estudo da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, os
participantes que seguiram a dieta proposta tiveram aumento da concentração da
substância nos olhos em 25%, além de melhora significativa na memória de curto
prazo e na habilidade de resolver problemas. “Os resultados desse estudo
sugerem que as gorduras monoinsaturadas, as fibras, a luteína e outros
componentes do abacate tornam a fruta especialmente eficaz em enriquecer os
níveis neurais de luteína, o que pode trazer benefícios não só para a saúde dos
olhos, mas também para a do cérebro”, enfatiza Elizabeth Johnson, principal
pesquisadora do estudo.
A investigadora conta que os experimentos indicam que é
melhor comer a fruta. Os níveis de luteína nos olhos mais do que dobraram nos
participantes que fizeram isso se comparados aos que ingeriram suplemento. “Logo, uma dieta balanceada que inclui essa
fruta pode ser uma estratégia efetiva para a saúde cognitiva”, ressalta.
Participaram da pesquisa 40 adultos saudáveis, com em média 50 anos, que
comeram um abacate fresco por dia durante seis meses. Os pesquisadores
monitoraram o aumento gradual da quantidade de luteína nos olhos dos
voluntários e a melhora em testes de memória, velocidade de processamento e
nível de atenção.
No lugar do abacate, o grupo de controle comeu uma batata ou
um copo de grão-de-bico por dia, que possuem o mesmo nível de calorias, mas não
contêm luteína. Esse grupo apresentou melhora mais tímida na capacidade
cognitiva. Segundo os autores, como os resultados se baseiam no consumo de um
abacate inteiro por dia, são necessárias novas pesquisas a fim de determinar se
os benefícios podem ser replicados com o consumo da porção diária recomendada:
um terço da fruta, que contém 136 microgramas de luteína.
“Enquanto as conclusões de um único estudo não podem ser
generalizadas para todas as populações, o resultado da pesquisa ajuda a
reforçar e a avançar o corpo de publicações sobre os benefícios do abacate no
dia a dia”, diz Nikki Ford, diretora de nutrição do Conselho do Abacate Hass,
grupo que promove o consumo da fruta nos Estados Unidos. “Abacates são
nutritivos e sem colesterol, com gorduras naturalmente boas. Por isso, são uma
forma fácil e deliciosa de se somar mais frutas ao consumo diário saudável de
plantas.” TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE