domingo, 2 de septiembre de 2018

ÁREA DO CÉREBRO É RESPONSÁVEL POR INGESTÃO EXCESSIVA DE ALIMENTOS CALÓRICOS


Diminuir a atividade mental em área ligada ao autocontrole aumenta a ingestão de alimentos calóricos, mostra estudo canadense com 28 voluntárias. A descoberta poderá ajudar na criação de tratamentos contra a obesidade e a bulimia
VS Vilhena Soares (foto: Valdo Virgo/CB/D.A Press)
Um dos maiores esforços de cientistas é encontrar maneiras de evitar o consumo de alimentos calóricos e, de quebra, as consequências geradas por esse hábito. Seguindo esse objetivo, pesquisadores canadenses descobriram que o uso da estimulação magnética transcraniana (EMT) aumenta temporariamente o desejo por alimentos gordurosos em humanos. Segundo eles, o resultado do experimento feito com mulheres aprofunda o conhecimento sobre os mecanismos cerebrais ligados a complicações como obesidade e compulsão alimentar e poderá ajudar no desenvolvimento de abordagens terapêuticas.
Participaram da pesquisa 28 jovens saudáveis, mas que relatavam sentir desejo frequente por consumir alimentos com alto teor calórico. Quando, usando a EMT, foi diminuída temporariamente a atividade no córtex pré-frontal dorsolateral — a rede cerebral responsável pelo autocontrole —, 89% das participantes passaram a consumir mais alimentos calóricos, se comparado ao resultado das sessões de estimulação placebo.
As mulheres também foram convidadas a avaliar uma série de refeições após serem submetidas à EMT. A maioria classificou lanches altamente calóricos de forma positiva, prestou mais atenção a imagens atraentes desses alimentos e relatou impulsos maiores para comê-los. “Isso resultou também em mais consumo quando lhes foi dada a oportunidade de experimentá-los”, complementa Peter Hall, professor na Universidade de Waterloo e um dos autores do estudo.
Hall conta que ele e a equipe têm estudado os processos cerebrais em autocontrole há anos e que a intervenção experimental foi o passo lógico do trabalho. “Nossos estudos anteriores usaram a mesma técnica para suprimir a atividade cerebral no córtex pré-frontal dorsolateral antes de um indivíduo se alimentar, mas o estudo atual foi o primeiro a incluir uma técnica de imagem cerebral para examinar as respostas neurais à estimulação e a imagens de alimentos”, diz.
De acordo com o cientista, o experimento pode ajudar no desenvolvimento de terapias, já que traz novos dados sobre o funcionamento do cérebro e sobre como lidar com a fome. “Os resultados podem não informar diretamente os tratamentos médicos. No entanto, entender como o cérebro processa informações sobre alimentos altamente calóricos e como os sistemas de autocontrole modulam isso pode ser importante para determinar como podemos ajudar pessoas que sofrem de transtornos da alimentação impulsiva, por exemplo, bulimia, compulsão alimentar e obesidade”, ressalta Hall.
Mais pesquisas ajudarão a entender como a EMT pode ser usada para interferir no controle cerebral, segundo os autores. Mas eles destacam que essa não é a única possibilidade de influenciar a funcionalidade do córtex pré-frontal dorsolateral. “Vários fatores relacionados ao estilo de vida afetam a função dele — por exemplo, a prática de exercícios aeróbicos. Por outro lado, a falta de sono e o estresse podem prejudicá-lo”, ilustra Cassandra Lowe, principal autora do estudo e professora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Waterloo.
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Cláudio Carneiro, coordenador de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurologia, avalia que o trabalho da equipe canadense enriquece uma área da medicina bastante promissora que tem gerado expectativa na sociedade, cada vez mais atingida pelo excesso de peso. “O consumo de alimentos calóricos em excesso é um grande problema. Acredito que especialistas que conseguirem combater esse comportamento vão ganhar um grande destaque na área, no nível Prêmio Nobel.”
Usar a EMT em intervenções é uma possibilidade, diz o médico. “Seria uma maneira de intervir usando uma técnica que já é usada na área médica para tratar enfermidades”, justifica. “Também acredito que possam ser criadas substâncias que alterem esse funcionamento cerebral. Porém, ainda é cedo para dizer. Esse estudo foi feito com uma quantidade reduzida de pessoas, uma análise mais ampla é necessária para confirmar as descobertas.”
O próximo passo da equipe, porém, terá uma abordagem mais coletiva. “Examinaremos maneiras pelas quais o ambiente social torna a implementação do autocontrole mais ou menos provável de ser bem-sucedida, com foco em alguns desses mesmos sistemas cerebrais”, adianta Hall. // TOMADO DE CORREEIO BRAZILIENSE

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