Rio Grande do Sul é vanguarda em licenças para irrigar Para
Rebequi, a "irrigação é um bem de capital e possibilidade de
investimento" CLAITON DORNELLES/JC
Patrícia Comunello
O desafio não é mais irrigar, mas saber o momento certo e a
medida exata de água que a cultura precisa. O diretor-presidente da
norte-americana Valley, no Brasil, o gaúcho João Rebequi, que trocou o mundo de
colheitadeiras e tratores, pelos pivôs de irrigação, aponta que o desafio está
em saber o déficit hídrico das plantas para proporcionar o mínimo que é preciso
para obter o máximo de produtividade. A Valley entrou nisso, comprando uma
empresa de serviço que coloca na mão do agricultor o controle, usando
aplicativos em celular. Aos 36 anos, com formação em Direito e Administração,
Rebequi trocou o Rio Grande do Sul por Minas Gerais e valoriza a terrinha.
Segundo o CEO da Valley, o modelo gaúcho para licenciar projetos é vanguarda. A
unidade em Uberaba atende encomendas no País e exporta para a América Latina e
África. Com faturamento global anual de US$ 3,2 bilhões, a Valley tem no Brasil
o segundo mercado para irrigação, atrás apenas dos Estados Unidos.
JC Empresas & Negócios - A compra de equipamentos para
irrigar afinal emplacou?
João Rebequi - A irrigação é um bem de capital e
possibilidade de investimento, que ajuda a melhorar a performance dos
produtores. Dá mais segurança. Até 2012, o Rio Grande do Sul não estava nem entre
os cinco maiores mercados do País porque o agricultor gaúcho não comprava
irrigação de olho na produtividade, mas apenas por segurança, e se compra estes
sistemas pelas duas razões. Mas queremos chegar ao ponto em que a planta vai
dizer o que precisa de água e vamos ministrar.
Empresas & Negócios - Quando isso mudou?
Rebequi - A partir da seca de 2012, o governo estadual
trabalhou um programa regional (o Mais Água, Mais Renda) e mudou a situação.
Hoje, o Estado está em terceiro ou quarto em crescimento de área irrigada, que
cresceu muito aqui. A curva foi exponencial em área. Muitos agricultores não
buscam mais por segurança, mas para usar no momento exato em que a planta
precisa de água para ter melhor rendimento. É outro nível de irrigação. Olhando
para o País, temos uma nação que é a maior potência agrícola da atualidade, mas
está em apenas oitavo lugar em irrigação. Dois estudos - um da Embrapa e outro
da Agência Nacional de Águas (ANA) - indicam que se pode atingir 60 milhões de
hectares, o que pode ser muito, pois se avalia a área de disponibilidade
hídrica superficial. Pode ser muito, mas hoje se irriga apenas 6 milhões de
hectares no País!
Empresas & Negócios - Como foram as vendas na Expointer
deste ano?
Rebequi - A feira foi melhor do que em 2015, com alta de 20%
nos pedidos. O ano passado foi pior, depois de crescermos 15% a 20% em 2013 e
2014. A gente não vai bater 2014, mas equiparamos com 2013. Em pastagem, por
exemplo, vende-se poucos projetos, o setor ainda está mudando e não há
tendência de maior uso. O que dirige a demanda é o setor de grãos, seguido pelo
de hortigranjeiros, pastagem e cana-de-açúcar, que promete crescer.
Empresas & Negócios - Qual é o perfil de agricultor que
irriga?
Rebequi - Isso é muito curioso. Antigamente, irrigante era o
cara maluco, pois tinha de entender o que era o novo e adicionar à busca de
produtividade. De 10 anos para cá, a irrigação entrou na pauta da pequena à
grande propriedade. Hoje tem produtos para cada tamanho. Um projeto de
irrigação é como um terno sob medida: atende a cada perfil de segmento.
Empresas & Negócios - Há oferta de crédito para
aquisições?
Rebequi - O Plano Safra 2016/2017 tem recursos, e os do
Bndes seguem balanço de caixa. E este ano não tiveram atrasos de liberação de
recursos como tivemos em outros anos. Como as operações são feitos pelos
agentes, então não tem problema. No Rio Grande do Sul, está andando. A
diferença aqui é que o programa Mais Água, Mais Renda (governo Tarso) tem o
abate da parcela, que é um atrativo a mais. Este programa mudou o plano diretor
estadual de irrigação que inseriu regras de barramento e de licença ambiental.
O Estado foi vanguarda para o Brasil, e muitos estados vem copiar o modelo
daqui.
Empresas & Negócios - O esgotamento de mananciais pode
limitar o setor?
Rebequi - A tua pergunta é ótima, pois nunca se vende
projeto de irrigação no balcão. O produtor começa a pensar em ter um projeto
dois a três anos de comprar, quando começam as etapas ambientais que são as
outorgas para uso da água, que precisam tramitar nas secretarias estaduais e
que necessitam de estudos de capacidade hídrica das bacias. Algumas não são
mais concedidas e respeitamos para ser sustentável. Na crise hídrica em São
Paulo há dois anos, as outorgas foram canceladas.
Empresas & Negócios - Os produtores deixaram de pensar
em irrigar apenas quando são pegos pela estiagem?
Rebequi - Há 15 anos quando sobrava dinheiro investia-se em
terra, pois o preço do hectare médio era bem menor. Muitos produtores daqui
investiram comprando terras no Centro-Oeste, hoje é tudo convertido em sacas de
soja. Para expandir hoje só com irrigação, agricultura de precisão e
armazenagem. Ao irrigar, consegue-se obter 20% a 30% a mais na cultura se usar
a água nos momentos certos.
Empresas & Negócios - A Valley comprou uma empresa para
gerenciar dados na irrigação. O que vai mudar na forma de usar a água?
Rebequi - Isso não tem volta, para se distinguir tem de
acoplar serviço. O pivô é como uma torneira, tem de saber quando abrir. A Niger
foi incubada na Universidade de Viçoça e estuda o que cada cultura precisa de
água, trabalhando com o conceito de déficit hídrico, que é aplicar o mínimo de
água para conseguir mais rendimento possível. Tem aplicativo vinculado a este
programa que o agricultor pode dosar a água de seu celular. TOMADO DE JOURNAL
DO COMERCIO DE RGS BR
No hay comentarios:
Publicar un comentario