Segun do pesquisadores americanos, a combinação de quatro
fatores potencializa o surgimento do problema em crianças. São eles: genética,
uso de lenços de limpeza, exposição a alérgenos na poeira e a vestígios de
alimentos
O sabão presente nos lenços compromete a camada protetora da
pele, abrindo espaço para substâncias que causam alergia(foto: Cesar Manso/AFP)
O sabão presente nos lenços compromete a camada protetora da
pele, abrindo espaço para substâncias que causam alergia
(foto: Cesar Manso/AFP)
A alergia alimentar infantil é um fenômeno que intriga
médicos e cientistas. Acomete de 3% a 8% das crianças com menos de 3 anos de
idade, segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), e não
tem um medicamento específico para tratá-la, já que vários fatores podem estar
envolvidos, dos hereditários ao potencial alérgico de alguns alimentos.
Pesquisadores americanos demonstraram que esses mecanismos
também podem estar arranjados e, depois de experimentos com camundongos,
montaram uma espécie de “combinação perfeita” para o surgimento da alergia. São
quatro fatores envolvidos: uma genética que altera a absorção da pele, o uso
recorrente de lenços de limpeza infantil, a exposição da pele das crianças a
alérgenos na poeira e a vestígios de alimentos presentes em quem cuida delas.
“Essa é uma receita para o desenvolvimento de alergia
alimentar. É um grande avanço em nossa compreensão de como a alergia alimentar
começa cedo na vida”, ressaltou, em comunicado, Joan Cook-Mills, professora de
alergia imunológica na Escola de Medicina Feinberg, da Universidade
Northwestern, e principal autora do estudo, divulgado no Journal of Allergy e
Clinical Immunology.
Prevenção a alergias
começa aos 4 meses, afirma estudo britânico
Para chegar à lista, a
equipe usou evidências clínicas sobre alergia alimentar em humanos. Há
pesquisas mostrando que até 35% das crianças com alergias alimentares têm
dermatite atópica (Leia mais nesta página) e que a maioria dos casos ocorre
devido a três mutações genéticas que reduzem a barreira de proteção da pele.
Por isso, cobaias recém-nascidas foram modificadas geneticamente para ter as
mutações e expostas a alérgenos alimentares.
Cook-Mills conta que se questionou sobre com quais elementos
que causam a alergia alimentar os bebês teriam mais contato e como ele
ocorreria. “Eles estão expostos a alérgenos ambientais presentes na poeira de
casa. Podem não comer alérgenos alimentares por serem recém-nascidos, mas os
estão recebendo na pele. Por exemplo, um irmão que come pão com manteiga de
amendoim e beija o bebê no rosto, ou um pai preparando comida com amendoim e,
logo em seguida, vai lidar com o bebê”,
exemplificou a autora.
No experimento, os camundongos tiveram a pele exposta, de
três a quatro vezes, a alérgenos alimentares e poeira. Cada contato durou 40
minutos e foi repetido ao longo de duas semanas. As cobaias também foram
alimentados com ovo ou amendoim. Como resultado, apresentaram reações alérgicas
no local da exposição da pele, no intestino e reação alérgica grave de
anafilaxia, medida pela diminuição da temperatura corporal.
Sabão Estudos sobre a limpeza da pele também inspiraram a
equipe, principalmente os que relatam o efeito do sabão sobre o órgão ainda
frágil dos bebês. “A camada superior da pele é feita de lipídios (gorduras), e
o sabão nos lenços que geralmente são usados em recém-nascidos perturba essa
barreira”, explicou Cook-Mills. Os camundongos foram expostos ao lauril sulfato
de sódio, um sabão presente em lenços de limpeza infantis, e apresentaram
reações alérgicas. Segundo os cientistas, a substância testada também está
presente em cosméticos e produtos de higiene pessoal, como removedores de
maquiagem, sais de banho e pastas de dente.
Segundo Cook-Mills, os resultados fornecem uma base para
testar intervenções que poderão bloquear mais eficazmente o desenvolvimento de
alergia alimentar em bebês e crianças. Além disso, as constatações evidenciam
que boa parte desses fatores de risco pode ser evitada. “Reduza a exposição da
pele do bebê aos alérgenos alimentares lavando as mãos antes de cuidar dele.
Limite o uso de lenços que deixam sabão na pele. Tire o sabão usado com a água,
como costumávamos fazer anos atrás. Essas podem ser uma ótima saída para evitar
a exposição”, sugeriu a cientista.
A equipe dará continuidade ao trabalho, com novos estudos em
animais. “O objetivo é determinar sinais únicos na pele que ocorrem durante o
desenvolvimento da alergia alimentar. Isso levará a abordagens para impedir com
segurança o desenvolvimento de alergia alimentar”, disse Cook-Mills.
"Podem não comer alérgenos alimentares por serem
recém-nascidos, mas os estão recebendo na pele. Por exemplo, um irmão que come
pão com manteiga de amendoim e beija o bebê no rosto”
Joan Cook-Mills, pesquisadora da Universidade Northwestern e principal
autora do estudo // TOMADO DE CORREIO
BRAZILIENSE
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