Em experimentos com ratos, tratamento tira as manchas da
pele em duas semanas e não deixa que elas voltem. Nas abordagens atuais, a
recidiva é de até 40%
VS Vilhena Soares
(foto: Valdo Virgo/CB/D.A Press)
O vitiligo faz parte do grupo de doenças autoimunes,
desencadeadas por falhas que levam o sistema de defesa a atacar o corpo do qual
faz parte. A enfermidade é incurável, mas um grupo de pesquisadores americanos
identificou uma alteração em células protetoras que pode ser explorada para o
desenvolvimento de novos tratamentos. Os primeiros resultados são promissores.
Em experimento com camundongos, os cientistas conseguiram reverter as manchas
da pele desencadeadas pela doença em apenas dois meses. As descobertas foram
apresentadas na última edição da revista Science Translational Medicine.
Quando as terapias disponíveis atualmente são interrompidas,
até 40% das manchas provocadas pelo vitiligo reaparecem. “Queríamos saber por
que isso acontece e encontrar uma maneira de evitar esse problema para que os
tratamentos sejam duradouros”, conta ao Correio John E. Harris, um dos autores
do estudo e diretor da Clínica de Pesquisa em Vitiligo, na Universidade de
Massachusetts.
Segundo Harris, em estudos anteriores, foi identificado um
grupo de estruturas de defesa, as células-T de memória residentes (TRMs, pela
sigla em inglês), que permanecem na pele após a eliminação de uma infecção
viral. Isso levantou a suspeita de que essas moléculas seriam responsáveis pelo
retorno do vitiligo. “Elas residem na pele e permanecem por longos períodos de
tempo porque se sentem bem na região em que se formaram. Acreditamos que elas
reiniciam a doença e fazem com que as manchas brancas retornem”, explica o
cientista.
Para testar a hipótese, Harris e colegas analisaram lesões
de pacientes com vitiligo e descobriram que elas continham TRMs que expressam
componentes de um receptor para a interleucina-15 (IL-15), uma molécula de
sinalização imunológica, responsável por ativar o sistema de defesa. Em ratos
com vitiligo, os TRMs exibiram o mesmo receptor de IL-15, o que permitiu os
testes para uma possível abordagem terapêutica.
As cobaias com a doença autoimune receberam, então, um
anticorpo que tinha como alvo o receptor de IL-15. Após duas semanas de
tratamento, a pigmentação na pele dos camundongos foi restaurada. “Descobrimos
que a proteína IL-15 era um sinal de sobrevivência para essas células (de
defesa com problema) e que o bloqueio desse sinal fez com que essas células
desaparecessem”, explica Harris.
Mais fatores
Segundo Caio de
Castro, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e
professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o estudo
americano é bastante promissor e explora moléculas que têm despertado a atenção
médica. “Já se sabia do papel dessas células de memória resistente em
enfermidades da pele. Claro que temos outros fatores, como o genético, mas
sabemos que traumas físicos podem liberar esses mediadores, como a interleucina
15, que ativa os queratinócitos, gerando as manchas”, detalha. “Se você
bloqueia esses receptores de IL-15, a interleucina 15 não age e as manchas não
aparecem.”
Os cientistas americanos planejam realizar testes com
humanos no próximo ano. “Esperamos que o tratamento seja aprovado para uso
regular em todos os pacientes com vitiligo”, diz Harris. “Também estamos
procurando novas maneiras de remover essas células para que possamos
experimentar outras formar de tratamento.”
Castro ressalta que os experimentos clínicos são essenciais.
“Somente com esses testes vamos ter certeza de que o resultado é positivo e de
que a intervenção pode evitar o retorno da doença. Acredito que podemos esperar
avanços nessa área, até porque muitas empresas têm se voltado para o vitiligo.
Hoje, vemos uma grande quantidade de imunobiológicos para psoríase, acredito
que o mesmo venha a ocorrer com o vitiligo”, diz.
"Também estamos procurando novas maneiras de remover
essas células para que possamos experimentar outras formar de tratamento”
John E. Harris, cientista da Universidade de Massachusetts // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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