Alvo da pesca comercial, o mero-crioulo pode ter o habitat
de acasalamento reduzido em função do aquecimento global. Espécie é muito comum
nos mares do Caribe e da América do Sul
O animal faz agregações de desovas, quando milhares de
peixes se reúnem para acasalar: declínio da
área pode chegar a 80% em 2100(foto:
Alfredo Barroso/Divulgação)
Solitário e territorialista, o mero-crioulo é um dos mais
icônicos peixes dos mares caribenhos e do litoral sul-americano, inclusive do
Brasil. Dispensa a companhia de animais marinhos, mas não pode ver
mergulhadores que se aproxima para nadar ao lado deles. Contudo, o animal está
severamente ameaçado de extinção. Se a pesca foi, por muito tempo, seu pior
inimigo, agora soma-se a ela outra ameaça. Calcula-se que, por volta de 2100, o
habitat de acasalamento do Epinephelus striatus tenham sofrido declínio de mais
de 80% devido a um fenômeno que não afeta apenas a superfície da Terra, mas
também os oceanos: o aquecimento global.
O sucesso reprodutivo desse animal depende muito dos eventos
chamados agregações de desovas, onde centenas de milhares de peixes se reúnem
em uma área para acasalar. “Esses encontros em massa também fizeram com que
eles se tornassem alvo fácil da pesca comercial, fato que os colocou na lista
de espécies ameaçadas”, diz Brad Esrima, cientista marinho da Universidade do
Texas e coautor do estudo, publicado na revista Diversity and Distributions. Em
meados da década de 1990, os Estados Unidos baniram a pesca do mero-crioulo.
Cuba e República Dominicana restringiram a atividade no período das agregações
de desova, entre dezembro e fevereiro, e outras ilhas caribenhas adotaram
medidas semelhantes.
Os conservacionistas comemoram o fato de as populações desse
peixe recifal terem se estabilizado em algumas áreas do Caribe. Contudo, temem
que os esforços não sejam suficientes para fazer o mero-crioulo desaparecer da
natureza e ficar restrito ao cativeiro até o fim do século. “As agregações de
desovas são áreas críticas para a sobrevivência da espécie. Se o peixe deixar
de migrar para esses locais de acasalamento porque a água está muito quente, as
ações de proteção direcionadas não terão efeito”, diz Brad Esrima.
Impacto disseminado
Não são apenas os animais em período de reprodução que
enfrentam as ameaças do aquecimento: com o branqueamento dos recifes de corais,
os meros estão perdendo o habitat. “As regiões naturais dos peixes que não
estão na fase de reprodução também estão escassas e devem cair 45% até 2100”,
ressalta o cientista. “Para compreender verdadeiramente o impacto do clima nos
peixes, precisamos saber como as mudanças climáticas influenciarão o estágio
mais vulnerável da vida, que é o momento da desova. Se esse ciclo da vida
estiver ameaçado, a espécie como um todo estará ameaçada”, completa Rebecca G.
Asch, professora de biologia da Universidade East Carolina e uma das autoras do
artigo.
Ela lembra que o mero-crioulo também desempenha um
importante papel na saúde geral do ecossistema marinho porque grandes
predadores, como tubarões, se alimentam desse animal. Por sua vez,
tubarões-baleias e arraias consomem os ovos. “A perda desses importantes
eventos tem impactos negativos em toda a cadeia alimentar e sobre os
ecossistemas.” Há uma esperança, contudo. Se ações de mitigação das mudanças
climáticas forem colocadas em prática, a queda no habitat reprodutivo será de
30%, e não de 80%.// TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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