Estudo inédito entre
195 países mostra grande desiguldade no acesso à saúde
Brasil contabiliza melhora em 25 anos, mas continua pecando
no combate a problemas neonatais e infecções respiratórias
Monique Renne/Esp.
CB/D.A Press
Campanhas de vacinação brasileira são um ponto de destaque:
pontuação máxima contra a difteria
Apesar de avanços no acesso e na qualidade dos sistemas de
saúde nos últimos 25 anos, as desigualdades entre os países com melhor e pior
performance nesse sentido aumentaram. Mesmo entre nações com níveis similares
de desenvolvimento, há uma grande variação, segundo estudo do Fardo Global de
Doenças, publicado na revista The Lancet. Em duas décadas e meia, o Brasil
aumentou sua pontuação de 50, em 1990, para quase 65, em 2015, em um índice de
0 a 100. O país se saiu bem na abordagem de doenças comuns evitáveis devido à
vacinação, como difteria (pontuação 100) e sarampo (99), assim como nas
infecções do trato respiratório superior (94). Contudo, a classificação foi
ruim em outras categorias — distúrbios neonatais (41) e infecções do trato
respiratório inferior (44), por exemplo.
O estudo desenvolveu um novo índice, que mede qualidade e
acesso à saúde pública. A pontuação é baseada nas taxas de mortalidade por 32
doenças que poderiam ser evitadas por cuidados médicos efetivos. O novo
trabalho avaliou a performance de 195 países de 1990 a 2015, fornecendo dados
cruciais para ajudar a monitorar o progresso na cobertura universal de saúde,
além de identificar prioridades locais para a melhoria do sistema.
“Ainda há uma variação na performance dos cuidados com
saúde, e poucos países conseguiram alcançar, consistentemente, qualidade e
acesso ótimos”, observa Christopher Murray, do Instituto Métricas em Saúde e
Avaliação, da Universidade de Washington. “Ao mensurar a qualidade do acesso,
esperamos fornecer dados valorosos para países em desenvolvimento sobre onde há
mais necessidade de melhorias para se obter um grande impacto na saúde de suas
nações.”
Globalmente, o índice passou de 40,7 em 1990 para 53,7 em
2015, e 167 países viram o acesso e a qualidade melhorarem significativamente.
Contudo, ao mesmo tempo, a lacuna entre os que se saíram melhor e aqueles com
pior performance aumentou quase cinco pontos. De forma geral, os países do
oeste europeu tiveram os maiores escores, enquanto que os da África Subsaariana
e da Oceania ficaram com baixas pontuações.
Mas nem todos os países de uma mesma região tiveram
performance similar. Por exemplo, dentro da África Subsaariana, o desempenho em
saúde pública em Cabo Verde se situou dentro da média de todos os outros,
enquanto Lesotho, Somália e Chad ficaram entre os piores. O mesmo ocorreu na
América Latina e no Caribe. Enquanto muitos países do oeste da Europa, além de
Canadá, Japão e Austrália, estavam no topo do ranking, o Reino Unido e os
Estados Unidos foram ultrapassados pelos pares, ficando no grupo dos segundos
melhores.
Entre 1990 e 2015, Coreia do Sul, Turquia, Peru, China e
Maldivas registraram algumas das maiores melhorias (aumentando 24,1; 24,9;
23,7; 24,7, e 29,6 pontos, respectivamente), mostrando que avanços rápidos são
possíveis. Os motores em potencial para esses avanços incluem orçamento do
sistema de saúde. Os autores observaram que mais pesquisas são necessárias para
investigar melhor essa questão. De acordo com eles, a melhora na performance
desses países pode fornecer um modelo para ajudar as demais nações.
AFP PHOTO / AU UN IST PHOTO / TOBIN JONES
Somália tem um dos piores índices: a contagem considerou a
taxa de mortalidade de 32 doenças
Faceta econômica
O estudo é o primeiro do tipo a usar dados sociodemográficos
que analisam como a saúde pública melhorou, alinhada ao desenvolvimento
econômico de cada país. Os pesquisadores compararam a pontuação por qualidade e
acesso ao sistema de saúde das nações com o que se esperaria dessa performance,
baseado no nível de desenvolvimento econômico. O gap ajuda a ilustrar o quanto
o sistema de saúde pública de um país poderia ter avançado e compara nações com
níveis similares de desenvolvimento.
Nesse sentido, houve grande variação. Em 62, o gap entre o
que seria esperado e a pontuação real é bastante amplo, particularmente em
Lesotho, Suazilândia, Zimbábue, Iraque, Paquistão e Honduras. Ao mesmo tempo,
diversas nações se saíram muito bem, considerando seus níveis de
desenvolvimento, como Burundi, Ruanda, Comores, Turquia, Peru e Coreia do Sul.
“Essas constatações podem refletir diversos desafios enfrentados por esses
países, incluindo desigualdades internas em termos de riqueza e opções de
serviços de saúde. De forma geral, nossos resultados são um sinal de alerta de
que melhorar o acesso e a qualidade do serviço de saúde não é um produto
inevitável do desenvolvimento econômico”, observa Murray. TOMADO DE Correio
Braziliense
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