89% dos vertebrados da América do Sul e Caribe desapareceram
desde 1970
Terra sofre queda drástica da flora e da fauna em decorrência
da ação predatória humana desde 1970, aponta relatório do WWF. Os vertebrados
estão entre os mais atingidos CB Correio Braziliense
Documento alerta sobre o desmatamento da Floresta Amazônica:
quase 20% da área desapareceu em
44 anos(foto: Nacho Doce/AFP)
(foto: Nacho
Doce/AFP)
Estamos em um planeta cada vez mais despojado de
biodiversidade. E somos os principais responsáveis por isso, alerta o relatório
Planeta Vivo, divulgado ontem pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF). O
documento tem entre os destaques a drástica redução da população de vertebrados
selvagens, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios. De 1970 a
2014, 60% desses animais desapareceram no mundo.
O retrato é “aterrador” na zona Caribe/América do Sul: um
declive de 89% em 44 anos. América do Norte e Groenlândia sofreram as menores
reduções da fauna, 23%. Europa, norte da África e Oriente Médio apresentaram
declive de 31%.
A perda do ambiente natural é a principal razão do fenômeno,
e o relatório aponta que ela é ocasionada essencialmente pela agricultura
intensiva, pela mineração e pela urbanização, que provocam o desmatamento e o
esgotamento dos solos.
No caso do Brasil, entre as espécies ameaçadas estão a
jandaia-amarela, o tatu-bola, o muriqui-do-sul, o uacari e o boto, segundo o
relatório. De maneira global, a taxa de extinção das espécies é de 100 a 1.000
vezes superior à que era há alguns séculos, antes de as atividades humanas
começarem a alterar a biologia e a química terrestres. Para especialistas, está
ocorrendo uma extinção em massa, a
sexta em apenas 500 milhões de anos.
A realidade da flora não é diferente. Quase 20% da Floresta
Amazônica, a maior do mundo, desapareceu no período analisado. O impacto no
cerrado foi de 50%. No planeta, os bosques tropicais seguem minguando,
principalmente diante da pressão dos produtores de soja e de óleo de palma e da
pecuária. Entre 2000 e 2014, o mundo perdeu 920 mil quilômetros quadrados de
matas virgens, uma superfície similar à soma da França e da Alemanha. Esse
ritmo cresceu 20% de 2014 a 2016, em relação aos 15 anos precedentes.
Em nível mundial, apenas 25% dos solos estão livres da marca
do homem. Em 2050, a estimativa é de que o número caia para apenas 10%.
“Preservar a natureza não é apenas proteger tigres, pandas, baleias e animais
que apreciamos. É muito mais: não pode haver um futuro saudável e próspero para
os homens em um planeta com o clima desestabilizado, os oceanos sujos, os solos
degradados e as matas vazias, um planeta despojado de sua biodiversidade”,
afirma o diretor-geral do WWF, Marco Lambertini.
Líderes pouco reativos
Apesar do cenário preocupante, o WWF ressalta que o futuro
das espécies “não parece chamar a atenção suficiente dos líderes
mundiais”. A organização não
governamental defende elevar o nível de alerta e provocar um amplo movimento,
como se fez pelo clima. “A situação é verdadeiramente ruim, dizemos isso há um
tempo, mas não deixa de piorar. Se colocou muita atenção no clima, mas
esquecemos outros sistemas, como florestas e oceanos, interconectados com o
clima e muito importantes para a conservação da vida na Terra”, justifica Marco
Lambertini, em entrevista à agência France-Presse (AFP).
Para o diretor-geral do WWF, a única boa notícia do
relatório é que sabemos exatamente o que está acontecendo, o que permite a
adoção de respostas adequadas. “Somos a primeira geração que tem uma visão
clara do valor da natureza e do nosso impacto nela. Poderemos também ser a
última capaz de inverter essa tendência”, destaca o relatório, baseado no acompanhamento
de 16.700 populações de 4 mil espécies e na participação de 50 especialistas.
Mantido o ritmo de destruição, “uma porta sem precedentes se
fechará rapidamente”, de acordo com o WWF. Pascal Canfin, diretor-geral da ONG
na França, lembra que “o desaparecimento do capital natural é um problema
ético, mas também tem consequências em nosso desenvolvimento, em nossos
empregos”, em proporções cada vez mais evidentes. “Pescamos menos que há 20
anos porque as reservas diminuem. O rendimento de alguns cultivos começa a
cair. Na França, o trigo está estancado desde os anos 2000. Estamos jogando
pedras em nosso telhado”, alerta.
Marco Lambertini aponta algumas medidas que podem frear o
problema. “O consumo de energia e a maneira como a produzimos são elementos
importantes. O consumo de alimentos é outro grande fator: 40% dos solos foram
convertidos para fins de produção alimentícia, 70% dos recursos de água servem
para isso, mais de 30% dos gases com efeito estufa surgem daí. A soja, o óleo
de palma e o gado bovino causam 80% do desmatamento do planeta na atualidade.”
“Não pode haver um futuro saudável e próspero para os homens
em um planeta com o clima desestabilizado, os oceanos sujos, os solos
degradados e as matas vazias, um planeta despojado de sua biodiversidade”
Marco Lambertini, diretor-geral do WWF // TOMADO DE CORREIO
BRAZILIENSE
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