Inovação amplia
produção e qualidade nas lavouras
Avanços em manejo e pesquisas elevam a produtividade
agrícola no Rio Grande do Sul
Por: Bruna Karpinski
Mesmo depois de ver a safra de grãos mais do que dobrar nas
últimas duas décadas, há muita bola em jogo quando o assunto é produtividade no
agronegócio gaúcho. Para se ter uma ideia, a produção de grãos no Rio Grande do
Sul em 2016 atingiu 31,9 milhões de toneladas, o suficiente para encher 19
vezes o Maracanã. São 18,9 milhões de toneladas a mais do que o colhido há 20
anos ou 11,4 "maracas". A expansão é fruto de conexões entre
produtores, empresas, instituições de pesquisa e governo em busca de uma jogada
ensaiada capaz de marcar um novo gol de produtividade todos os
anos.
Foto: Carlos Garcia / RBS
Uma das áreas que mais impulsiona a produção é a
biotecnologia. Algumas variedades de soja, por exemplo, têm potencial para
produzir 150 sacas de 60 quilos cada por hectare. No entanto, aqueles
produtores que colhem muito bem obtêm entre 70 e 80 sacas, enquanto a média nacional
é de 48 sacas por hectare.
— É um projeto permanente de ajuste fino. Temos um longo
caminho pela frente — prevê o presidente da Associação dos Produtores e
Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), Narciso
Barison Neto.
Granja Bretanhas é pioneira no uso de irrigação Foto: André
Ávila / Agencia RBS
geotecnologia e
politubos para
E ainda há muito a se investir em gestão, máquinas, cuidados
com o solo, clima e manejo da água. Novas tecnologias não faltam para assegurar
todo o potencial de produção das lavouras. Um exemplo é o uso de geotecnologia
para o nivelamento do solo em áreas de arroz e soja na Metade Sul do Estado.
Capitaneado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o
projeto está em teste na Granja Bretanhas, de Jaguarão, onde o método foi
aplicado em mil hectares de um total de 12 mil hectares de arroz e 6 mil
hectares de soja. Antes do plantio, as áreas passam por um nivelamento que, até
então, só podia ser feito a laser ou a olho. Com precisão milimétrica e sem
interferência humana, o chamado Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS,
sigla em inglês) fornece dados em menos tempo e com menor custo, informa a
agrônoma da granja Luciane Leitzke. Ainda impacta menos o solo e economiza
água.
— É uma ferramenta revolucionária, pois faz a suavização do
terreno — explica José Maria Barbat Parfitt, pesquisador da Embrapa Clima
Temperado.
Reserva de água
Outra inovação é o uso de politubos, mangueiras gigantes que
acumulam a água da chuva e ajustam a vazão nas lavouras. Os experimentos
iniciaram em 2013 e os resultados estão sendo mensurados, mas já há indícios de
ganhos.
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Combinando as duas tecnologias, a Granja Bretanhas observou
redução de 20% a 30% na água utilizada, boa parte dela proveniente da Lagoa
Mirim.
No acumulado das últimas duas décadas, o ganho é ainda maior
com diminuição na captação em 42%, uma vez que o consumo passou de 14 milhões
de litros por hectare, em 1996, para 8 milhões de litros por hectare, relata o
diretor da propriedade, Rubimar Leitzke. Ganhos que também se refletiram em
aumento de 20% a 30% na produtividade média da propriedade, que hoje colhe 164
sacas de 50 quilos de arroz por hectare.
Multiplicação in vitro contra doenças
Um pequeno pedaço de planta é suficiente para fazer a
multiplicação em larga escala de uma espécie vegetal in vitro. A técnica, ainda
pouco difundida no Rio Grande do Sul, é um tipo de clonagem feita a partir de
amostra importada. O resultado do processo é a obtenção de mudas com maior
vigor e livres das doenças que tradicionalmente atacam os pomares brasileiros e
prejudicam a qualidade das frutas.
A bióloga Daiane de Pinho Benemann, doutora em Biotecnologia
Vegetal e sócia-diretora da BioPlant Tech, startup incubada na Universidade
Federal de Pelotas (UFPel), explica que técnicas como essa são um braço
importante do processo de melhoramento genético e viabilizam a multiplicação
rápida de plantas em laboratório.
— O objetivo é a produção de árvores frutíferas e
ornamentais de alto padrão genético e fitossanitário — salienta a pesquisadora,
que estudou a fundo o assunto durante viagem à Finlândia.
Daiane de Pinho Benemann reproduz mudas de alta qualidadeFoto: André Ávila / Agencia RBS
Os experimentos em Pelotas começaram há quatro meses com
mudas de amora, framboesa, mirtilo e limonium (planta ornamental). São 11
variedades em estudo no projeto. A principal dificuldade, explica a
pesquisadora, é adaptar as técnicas a cada uma das espécies que, em média,
ficam de cinco a seis meses in vitro. Cada amostra vinda dos Estados Unidos ou
da Holanda é transformada em pelo menos cinco novas plantas, que ainda passam
por estufas dentro da UFPel antes de chegarem aos fruticultores.
A ideia é vender as mudas a produtores rurais, floriculturas
e multinacionais. Um dos mercados promissores é o Estado de São Paulo, mas já
há interessados em Porto Alegre, informa Daiane. A comercialização deve começar
ainda este ano e a meta é negociar mil mudas por mês.
Vida longa às frutas
Pesquisadores avaliam durabilidade do alimentoFoto: André
Ávila / Agencia RBS
A tecnologia também está a serviço do agronegócio após a
colheita. Para garantir que as frutas fatiadas à venda no supermercado durem
mais tempo nas prateleiras sem escurecer, a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) está desenvolvendo uma cobertura comestível.
A película, feita a partir de substâncias como fécula de
mandioca, quitosana e gelatina, funciona como uma espécie de proteção. Além de
agregar valor ao produto in natura, amplia o tempo de duração da fruta em até
10 dias, sem comprometer aparência e sabor. O resultado surpreendeu os
pesquisadores, que esperavam um ganho de quatro dias. Duas empresas da Serra
Gaúcha já estão fazendo testes em maçãs das variedades gala e fuji.
— Esta tecnologia terá um campo de aplicação muito grande no
futuro — projeta o agrônomo chileno Rufino Fernando Cantillano, pesquisador em
pós-colheita da Embrapa Clima Temperado.
Os pedaços de frutas revestidos com a cobertura comestível
foram submetidos a testes em laboratórios de microbiologia, comprovando que o
procedimento é seguro do ponto de vista alimentar.
O experimento está em fase de análise sensorial para
garantir que o consumidor receba um produto com sabor igual ao da fruta fresca.
Ainda não há previsão para a inovação chegar ao mercado, mas
tem potencial para atender à demanda de supermercados e empresas que trabalham
com entrega de frutas. Há até hospitais interessados na tecnologia para evitar
contaminações. TOMADO DE ZERO HORA DE RGS BR
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