Retomada da mineração em Minas do Camaquã provoca
polêmica sobre impacto na região
Região de Caçapava do Sul vive expectativa de exploração de
zinco, cobre e chumbo em meio à preocupação sobre impacto no ambiente e em
outras atividades econômicas
Por: Bruna Porciúncula
Há pouco mais de 20
anos, a comunidade de Minas do Camaquã, distrito de Caçapava do Sul, viu a
exploração do minério de cobre estancar e a bonança se transformar em
esquecimento. A vila, antes próspera por conta da mineração, virou quase uma
comunidade fantasma, não fossem algumas famílias de mineiros aposentados da
Companhia Brasileira do Cobre (CBC).
De lá para cá, os moradores têm vivido a expectativa de um
futuro almejado sob diversas bandeiras, do turismo à própria retomada da
extração de minérios. A região, encravada no chamado Escudo Sul-Rio-Grandense,
voltou a ser alvo de pesquisas no setor por ainda ter grande potencial de
exploração
de metais preciosos, incluindo ouro, foco de estudos em andamento na
cidade vizinha de Lavras do Sul.
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VÍDEO: o que diz quem é a favor e quem é contra a retomada da mineração
As expectativas produtores rurais e empresários sobre a retomada da mineração
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Nesse cenário, avançou um projeto da Votorantim Metais para
exploração de zinco, cobre e chumbo no Passo do Cação, localidade a cerca de
cinco quilômetros de Minas do Camaquã. As pretensões da empresa levantaram
polêmica envolvendo pelo menos oito municípios da Bacia do Rio Camaquã, o
principal curso d'água na região. A companhia faz pesquisas no local há
quase 10 anos e confirmou a viabilidade econômica da extração dos três metais e
de prata
como subproduto. A previsão é de começar as atividades em 2019.
A produção de cobre e chumbo será exportada pelo porto de
Rio Grande. O zinco será levado para as metalúrgicas da Votorantim Metais nas
cidades mineiras de Juiz de Fora e Três Marias. O estudo e relatório de
impacto ambiental (EIA-Rima) do projeto foi encaminhado à Fundação Estadual de
Proteção Ambiental (Fepam) e, contraditoriamente, serviu de munição a quem
desconfia das ambições da Votorantim na área.
Um dos pontos questionados por aqueles que não veem a
mineração como caminho socioeconômico sustentável é a possibilidade de
contaminação de mananciais e do solo pelo manuseio do chumbo
extraído. Junto à preocupação ambiental, está a questão econômica da
região, boa parte dela baseada na agricultura e na pecuária, especialmente na
criação de ovinos.
Já existe um arranjo produtivo local em que cerca de 500
famílias de Caçapava do Sul, Lavras do Sul, Piratini, Bagé, Pinheiro Machado,
Canguçu, Encruzilhada do Sul e Santana da Boa Vista se mantêm em atividades
como a produção de carne de ovelha. Trata-se de, resumidamente, um grupo de
empresas e produtores de diversos setores que traça estratégia conjunta de
desenvolvimento para
determinado local.
Na região de Caçapava do Sul, a aposta é na criação de
ovinos e no turismo. Esse processo econômico se organizou na Associação para o
Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã, que congrega 24 associações de
base comunitária, distribuídas nesses oito municípios.
Ainda que reconheça que a mineração sempre oferece riscos, a
Votorantim Metais promete medidas de segurança reconhecidas internacionalmente
no projeto que pretende levar adiante no distrito de Caçapava do Sul.
– Não tem produção de metal no projeto. A extração nada mais
é do que separar o mineral, que já está ali, do rejeito. Não teremos metalurgia
no processo – explica o coordenador do projeto, Paul Cézanne, engenheiro de
minas da Votorantim formado pela UFRGS.
Lideranças comunitárias entendem que o simples fato de haver
uma mina de chumbo próxima aos campos de produção já gera desconfiança.
– Não se trata só de um apelo ecológico. Como vamos misturar
produção de alimentos com chumbo? – questiona o gestor do arranjo produtivo
local, Marcos Sanchez Blanco.
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