Brasil é o segundo país que mais realiza esta cirurgia,
segundo um estudo que alerta para a
"epidemia" mundial deste parto
AF Agência France-Presse (foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press)
A América Latina é a região com maior taxa de césareas
(44,3% dos nascimentos) do mundo, e o Brasil é o segundo país que mais realiza
esta cirurgia, segundo um estudo que alerta para a "epidemia" mundial
deste parto, recomendado apenas em casos específicos.
O número de nascimentos por cesárea no planeta praticamente
duplicou em 15 anos, de 12% para 21% entre 2000 e 2015, e superou os 40% em 15
países, a maioria da América Latina e do Caribe, indica o relatório publicado
nesta sexta-feira na revista Lancet.
Atualmente, estima-se entre 10% e 15% a proporção de
cesáreas necessárias por motivos médicos. Contudo, 60% dos 169 países estudados
estão acima dessa faixa, e 25%, abaixo, de acordo com o estudo baseado em dados
da Organização Mundial da Saúde e da Unicef.
"O forte aumento de cesáreas - especialmente entre as
classes abastadas e sem motivos médicos - representam um problema devido aos
riscos associados para a mãe e o bebê", destaca a coordenadora do informe,
Marleen Temmermann, da Universidade Aga Khan, no Quênia, e da Universidade de
Gante, na Bélgica.
Embora as cesáreas salvem vidas e seu acesso deva ser
facilitados "para as mulheres de regiões pobres", este tipo de parto
apresenta também seus risco. Por isso, não se deve "abusar" deles,
segundo Temmermann.
República Dominicana
e Brasil na liderança
As disparidades entre regiões são impressionante, vão de
4,1% dos partos na África subsaariana a 44,3% na América Latina e no Caribe
(frente a 32,3% em 2000).
Na Ásia do Sul, as cesáreas aumentaram mais rapidamente que
em qualquer outra região, a uma média de 6% ao ano, disparando de 7,2% dos
nascimentos em 200 para 18,1% em 2015.
Na América da Norte, a taxa foi de 32%, e na Europa
ocidental, de 26,9%.
Por países, a República Dominicana é líder mundial neste
tipo de nascimentos (58,1%), seguida do Brasil (55,5%).
Entre os 15 primeiros também se destacam os seguintes países
latinos: Venezuela (52,4%), Chile (46%), Colômbia (45,9%), Paraguai (45,9%),
Equador (45,5%), México (40,7%) e Cuba (40,4%).
À revista Lancet, o Congresso Mundial de Ginecologia e
Obstetrícia, reunido no Brasil, atribui a "epidemia" de cesáreas à
existência de equipes médicas menos competentes para acompanhar os partos
normais difíceis, à comodidade de programar o dia do parto, aos maiores
benefícios econômicos para as clínicas, entre outros.
Gestações de baixo risco no Brasil
O estudo ainda constata uma ligação estreita entre as
cirurgias e a faixa de renda e de educação das mulheres.
No Brasil, por exemplo, onde a maioria das cesáreas se dá em
gestações de baixo risco, 54,4% deste tipo de partos são feitos em mulheres de
nível educacional elevado, frente a 19,4% de nível mais baixo.
As cesáreas são indispensáveis quando se apresentam complicações,
como hemorragias, sofrimento fetal ou posição anormal do bebê, destaca o
estudo.
Mas também representam riscos como uma recuperação mais
complicada para a mãe e problemas nos partos seguintes (gravidez ectópica,
desenvolvimento anormal da placenta, entre outros).
O estudo ainda destaca que estão surgindo provas de que os
bebês nascidos por cesárea não se expõem aos mesmos processos hormonais,
físicos nem bacterianos que os nascidos por parto normal - o que pode afetar
sua saúde.
A fim de limitar o excesso de cesáreas, o Congresso Mundial
de Ginecologia recomenda por exemplo aplicar uma tarifa única para todos os
partos, obrigar hospitais a publicar suas estatísticas, informar melhores as
mulheres e melhorar a formação para partos normais. // tomado de correio brasiliense
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