Tempo gasto em frente a telas afeta desenvolvimento de
criança, diz estudo
A pesquisa não estabeleceu relação de causa entre cognição e
o uso das telas, mas, segundo especialistas, está cada vez mais claro o impacto
do abuso dos aparelhos no desenvolvimento AE Agência Estado
(foto: Simon Maina/AFP)
Daniel, de 10 anos, passa no máximo uma hora e meia por dia
em frente às telas da televisão ou do computador. Mas nem sempre foi assim. No
ano passado, chegava a gastar oito horas diárias na TV - tempo que, segundo a
mãe, o deixava agitado e desconcentrado. Quando percebeu que a situação tinha
causado impacto até no desempenho escolar, a dona de casa Laís Corrêa, de 31
anos, reduziu o acesso aos equipamentos.
"Ele ficava agitado quando assistia a vídeos. Isso
refletia no comportamento, diminuía a criatividade", diz a mãe. A
diminuição no horário veio acompanhada de resmungo e de "greve".
"Ele disse que não ia fazer mais nada. Mas a criança encontra alguma
coisa. Agora, virou um 'cientista maluco', pega coisas quebradas, sai abrindo,
explorando", diz Laís, que pretende replicar as novas regras com a caçula
Ananda, de 2 anos.
O tempo que as crianças passam em frente às telas nem sempre
é calculado pelas famílias, mas desperta a atenção de cientistas e médicos. Uma
pesquisa recente mediu o número de horas que meninos e meninas de 8 a 11 anos
ficam em celular, TV e videogames. O estudo, publicado na revista Lancet Child
& Adolescent Health, concluiu que só 37% das 4,5 mil crianças americanas
analisadas usam os aparelhos por até duas horas diárias.
Os cientistas também mediram o desenvolvimento cognitivo das
crianças em áreas como linguagem, memória e atenção - então, cruzaram com dados
sobre tempo de tela. "Independentemente do conteúdo, limitar o tempo
recreativo de tela de uma criança a menos de duas horas está positivamente
associado à cognição", disse ao jornal O Estado de S. Pauko Jeremy Walsh,
do Hospital Infantil do Leste de Ontário e um dos autores do estudo.
A pesquisa não estabeleceu relação de causa entre cognição e
o uso das telas, mas, segundo especialistas, está cada vez mais claro o impacto
do abuso dos aparelhos no desenvolvimento. "A criança precisa interagir
com objetos reais (brinquedos e pessoas)", diz a pesquisadora da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ana Lúcia Meneghel, que começou a
estudar o tema após ver uma cena que a intrigou. "Uma criança em frente a
um aquário mexia os dedinhos para o peixe aumentar." O exagero, diz, pode
causar atraso na construção de noções de localização, medida e estimativa.
Parâmetros
Se o excesso é prejudicial, os pais se perguntam: quanto e
como controlar? Quando Pedro ganhou, aos 9 anos, um celular, a comerciante
Fabiana Teixeira, de 39, achou que o aparelho seria um estímulo à criatividade.
Com o tempo, notou mudanças no comportamento do filho. "Ele queria ficar
mais recluso no quarto, ficou mais introvertido." Agora, Fabiana evita o
acesso contínuo. "Não pode ficar por mais de uma hora", avisa.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), crianças
da idade de Pedro não devem usar as telas por mais de duas horas diárias. Já
para as de 2 a 5 anos, o rigor é maior: até uma hora. E bebês com menos de 2
anos não deveriam ter contato.
"Quanto mais tempo de tela, menos exposta a criança vai
estar a outras experiências importantes para construir sua arquitetura
cerebral", diz Liubiana de Araújo, presidente do Departamento Científico
da Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP.
Para Andréa Jotta, do Laboratório de Estudos de Psicologia e
Tecnologias da Informação e Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP), os equipamentos não são prejudiciais em si, mas uma
"ferramenta a mais para lidar com o mundo", que exige acompanhamento
dos pais. "Eles têm de educar dentro e fora, acompanhar o crescimento da
criança com as telas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
// TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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